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Tecnologia

Sascha Braunig Pinta Cabeças Psicodélicas e Outras Viagens

As pinturas da Sascha Braunig exalam qualidades cerebrais e psicodélicas capazes de enganar os olhos, mas também são meticulosamente realistas.

COILS
2011
Óleo sobre tela
61 x 55.9 cm

As pinturas da Sascha Braunig exalam qualidades cerebrais e psicodélicas capazes de enganar os olhos, mas também são meticulosamente realistas. Sascha é uma artista extremamente talentosa (tanto no sentido técnico como no conceitual) que sem dúvida será celebrada por muitos anos ainda, então fiquei extremamente feliz quando consegui fazer com que ela largasse um pouco os pincéis para responder algumas perguntinhas intrusivas.

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FRUITED
2011
Óleo sobre linho
50.8 x 40.6 cm

VICE: Você fez sua primeira exposição solo em Nova York na primavera. Reparei que muitos quadros datavam de 2011. Aposto que você ficou muito ocupada durante o inverno.
Sascha Braunig: Sim, fiz todos eles exclusivamente para essa exposição. Fiquei sabendo sobre ela exatamente um ano antes. Havia nove deles, mas alguns não entraram. Foi um ano de produção intensa, mas por sorte eu tinha acabado de me mudar de Nova York, então me encontrei com muito tempo livre para terminar tudo. Foi perfeito.

E você continua morando fora de Nova York?
Sim, vivo em Portland, no Maine. É uma cidadezinha bem legal, gosto muito. É bem menos agitada.

Você não fica entediada?
Eu sinto falta de pegar o metrô e ver uma variedade de exibições de arte diferentes — ser capaz de imergir nesse ambiente. Mas têm várias outras coisas que eu não sinto falta. Por exemplo, no momento eu só trabalho um dia por semana. Toda segunda eu dou duas aulas, pintando e desenhando na faculdade de artes local e em uma faculdade de ciências. Então eu trabalho no meu estúdio durante todo o resto da semana, todo dia é dia de trabalhar no meu processo criativo, mas só tenho que “trabalhar” mesmo às segundas.

Faculdade de ciências? É um curso obrigatório ou você está dando um curso muito louco de anatomia ilustrada?
Não, é só que um requisito de artes que eles têm lá.

Entendo. Eu perguntei por que muito do seu trabalho parece ser bastante preciso e realista, quase como se você tivesse desenvolvido algum tipo de teoria geométrica para pintura; me faz lembrar do trabalho dos grandes mestres, se eles usassem peiote.
Muito obrigada! Mas não, só crio uma configuração desafiadora e então a realização do processo é mera observação. Não há nenhuma ciência nisso.

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SEM TÍTULO
2011
Óleo sobre tela em painel de madeira
55.9 x 50.8 cm

Alguns de seus quadros me deixaram meio vesgo. Odeio usar o termo “ilusão de ótica” porque as pessoas pensam automaticamente nas coisas do MC Escher ou naqueles livrinhos Olho Mágico, mas não vejo outro jeito de descrever seu trabalho. É como se você tivesse descoberto como colocar um papel de parede por cima de bustos clássicos e outras formas humanóides pintadas. À primeira vista — especialmente quando você as vê no computador — parece Photoshop. Aí você percebe que foi tudo feito a mão.
Estou realmente interessada em hiper-ilusionismo. Não quero ser uma pintora realista. Estou interessada em mapear esse ilusionismo de Photoshop em uma entidade inacreditável para que haja essa desconexão. Não é uma coisa nova na pintura. Vi uma vez uma mostra das obras de Konrad Witz. Ele foi um pintor do século XV que fazia algo similar. Foi uma época em que os pintores a óleo ficaram muito bons em retratar texturas e mapear o corpo pré-moderno.

Os padrões e texturas que você usa parecem ultramodernos, futuristas mesmo.
É a combinação entre uma prática de pintura muito tradicional e a escolha de assuntos que são um pouco mais fantásticos. Me interesso muito por ficção científica, imagens publicitárias, modelos de moda, sessões fotográficas… Casos em que os detalhes são mapeados em corpos digitalmente manipulados.

Você define alguma coisa de antemão no espaço digital?
Não, pinto tudo a partir de observação, que acho que é o motivo de provocarem essa sensação estranha. Eles são observados oticamente em um espaço tridimensional, mas tenho lidado com imagens digitais durante toda a minha vida, assim como o resto da minha geração, então é difícil evitar o espaço digital.

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COVERAGE
2010
Óleo sobre tela em painel
57.2 x 39.4 cm

A maioria das suas obras tem uma cabeça ou um objeto em forma de cabeça. É outro retorno ao retrato clássico ou você só gosta muito de cabeças mesmo?
Acho que gosto muito de retratos e da história dos retratos, então acho que foi uma maneira de dar coerência à exibição. A ideia era focar no formato de bustos, destacando o rosto e a cabeça. Eu quero dar às figuras mais que um corpo, então acho que na minha próxima exposição vou expandir para incluir outras partes do corpo.

Você já tem alguma coisa definida para uma próxima mostra?
Acredito que haverá uma coletiva na Foxy, minha galeria, em novembro, com curadoria de Gabriel Hartley, um dos artistas. Então acho que algo acontecerá em breve… Mas não sei se já posso falar sobre isso.

Outra coisa que eu queria mencionar é seu uso da cor — é quase como se você pintasse com uma luz neon, ou pelo menos embaixo de uma.
Obrigada! Eu pinto mesmo [risos]. Uso tinta normal, mas trato mesmo a luz de maneira cuidadosa. Também uso muita luz colorida e assisto a muitos desses filmes com iluminação bem vulgar.

Tipo quais?Acabei de assistir Lola do Fassbinder. A iluminação desse filme é muito exagerada. Você já viu?

Opa, lógico.
É incrível. Me dei conta de que estava roubando desse filme durante anos. Adoro coisas assim. Adoro David Cronenberg. Ah, e Enter the Void, que saiu ano passado. Foi uma grande influência para mim. Estou tentando emular experiências cinematográficas de intensidade visual devastadora. É difícil competir com isso.

Ok, Enter The Void é sobre… Bom, sobre muitas coisas, mas uma das coisas principais é uma viagem de DMT. Podemos dizer que há uma imagética psicodélica relacionada a drogas no seu trabalho?
Bom, não é muito meu estilo de vida, mas acho que qualquer tipo de visual intenso pode ser uma experiência alucinógena. Não precisa ter nenhuma droga envolvida. Você pode ter aquela experiência de ser transportando apenas olhando alguma coisa, e eu quero intencionalmente produzir esse efeito nos espectadores.

Porque isso te faz olhar para as coisas mais de perto.
Sim, é grande parte do meu processo de pintura — observar minuciosamente e por horas e horas de cada vez. Quero que o espectador fique em um estado alterado quando olhar para a pintura, e obviamente não posso controlar o que esse estado implica para cada pessoa. Então acho que você pode dizer que é uma viagem.

SEM TÍTULO
2011
Óleo sobre tela em painel
50.8 x 40.6 cm