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Tecnologia

Como Caixas-Pretas Melhores Podem Ajudar a Encontrar Aviões Perdidos

O desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines acendeu a luz amarela: é hora de melhorar as caixas-pretas.
Imagem: Flickr/Patrick Cardinal

Logo depois do desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines, cujas operações de busca foram encerradas depois de dois meses, todo mundo se deu conta de que encontrar um avião na imensidão da Terra não é tão fácil como parece.

Diversas soluções tecnológicas foram trabalhadas buscando melhorias no rastreamento de aviões no futuro, de novos sistemas de radar até maiores constelações de satélites. Mas talvez o dispositivo que mais claramente precise de melhorias é o próprio gravador de voo das aeronaves, a famosa caixa-preta.

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Segundo a reportagem da BBC, em resposta ao incidente do MH370, a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) anunciou propostas para modificar os requisitos que envolvem gravadores de voos e dispositivos de localização de aviões, de modo que seja mais fácil recuperar os dados gravados em caso de acidentes.

Ilias Maragakis, porta-voz da EASA, afirmou que as propostas foram de fato iniciadas em 2009, após o acidente da Air France, quando um avião também sumiu em pleno voo. Suas caixas-pretas permaneceram desaparecidas por quase dois anos, muito além do período de 30 dias em que os dispositivos de localização subaquáticos (ULDs) nos gravadores de voo devem emitir sinais. “Percebemos que seria muito mais fácil se o período de tempo de transmissão desses gravadores fosse prolongado, nesse caso de 30 a 90 dias”, diz Maragakis.

Ele apontou ainda que, embora atualmente os ULDs das caixas-pretas transmitam sinais durante 30 dias, isso não significa que você tenha esse tempo para procurar os destroços – é preciso encontrar o sinal primeiro, e além disso há o agravante do mau tempo, que pode interromper as buscas. O prolongamento para 90 dias foi sugerido primeiramente pelo Bureau Francês de Investigação e Análise para a Segurança da Aviação Civil (BEA).

Gravador de dados recuperado do voo 5966 da American Connection, cujo acidente aconteceu em 19 de outubro de 2004, no Missouri. Imagem: NTSB

Aumentar o tempo de transmissão dos sinais das caixas-pretas significa que esses dispositivos deveriam resistir por mais tempo: precisam de uma bateria mais durável e um exterior sólido. “Não se trata de um dispositivo eletrônico qualquer; você precisa ter certeza de que ele resistirá a um acidente, ele detecta a presença de água, e assim por diante”, disse Maragakis. Seria necessária a criação de um dispositivo inteiramente novo, mas Maragakis afirma que, de qualquer maneira, eles são constantemente modificados.

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A EASA também propôs equipar aviões maiores com outro tipo de ULD que envia sinais de frequência mais baixa (diminuindo os 37,5 kHz emitidos peloss dispositivos atuais para 8,8 kHz, segundo Maragakis), sendo assim capaz de ir muito mais longe – cerca de 11 quilômetros contra o pouco mais de 1,5 quilômetro dos ULDs atuais. O dispositivo seria instalado no centro da aeronave, e “então estaríamos seguros com relação à localização desse dispositivo, assim como dos destroços”, disse Maragakis.

Uma terceira grande mudança envolve a gravação de voz na cabine. A EASA quer aumentar o tempo de gravação desses dispositivos de duas para 20 horas, de maneira que todos os sons do voo possam ser capturados. Eu fiquei um pouco surpresa ao saber que isso ainda não acontece – por que uma gravação de apenas duas horas?

Maragakis explicou que as gravações eram ainda mais curtas antes dos anos 1990, quando os gravadores funcionavam com fitas magnéticas. Na era dos iPods, as coisas não evoluem tão rápido como você espera. Isso, ele explica, se deve à segurança da aviação civil – que é, estatisticamente, um modo muito seguro de transporte. “Contudo, ser seguro significa que você precisa tomar muito cuidado quando introduz qualquer tecnologia nova no sistema”, diz.

Basicamente, você tem que ter certeza de que um sistema baseado em disco, por exemplo, funcionará perfeitamente antes de instalá-lo, e que seja tão consistente quanto as antigas fitas magnéticas.

Há também um problema de dados pessoais, com alguns pilotos e outros tripulantes da cabine – que é o seu local de trabalho, afinal – hesitantes em aceitar novos métodos de gravação. As gravações supostamente não devem ser acessadas a não ser em caso de acidente, mas ainda se trata de uma questão que deve ser levada em conta.

As propostas da EASA, que já foram abertas a comentários, passarão agora por um comitê a fim de que os estados membros europeus possam interferir, e em seguida serão levadas à Comissão Europeia. Segundo Maragakis, as propostas deveriam ser regularizadas em menos de 12 meses.

Tradução: Cecília Floresta