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Tecnologia

Soylent Quer que Você Viva à Base de Algas

Empresa está a caminho de usar reatores gigantes para criar uma gororoba de algas e substituir sua comida.
Espécie de reator gigante que poderá servir para criar Soylent, a gororoba de algas. Créditos: Wikimedia Commons

Rob Rhinehart há tempos tem sonhado em criar, do zero, os ingredientes da sua meleca-cinzenta substituta de comida, Soylent. O mantra da empresa – e de Rob – é algo como "seja mais eficaz". ("Use menos. Faça mais", oficialmente, ok, mas dá na mesma.) Ele sempre sugeriu que devemos gastar menos tempo e energia com esse lance todo de comer. Em tese, o seu produto melhora a eficácia para nossos corpos e toda a cadeia produtiva.

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Então não dá pra ficar tão surpreso ao saber que Rhinehart e companhia estão próximos de criar uma espécie de alga que gera Soylent, por mais absurdo que pareça. (Sejamos justos, há três anos a ideia de que um shake caseiro de substituição de refeições ganharia milhões de dólares no capital de risco do Vale do Silício também soava bem surreal.) No anúncio do Soylent 2.0, que já vem pronto para consumo, Rhinehart incluiu as algas à mistura como ingrediente-chave. E ele afirma querer ir muito mais além.

Material promocional do Soylent

A alga presente no Soylent 2.0 é cultivada pela empresa de biotecnologia Solazyme em uma fábrica da Archer Daniels Midland, uma gigante do processamento de alimentos.

"O óleo é prensado de forma semelhante ao azeite", disse-me Rhinehart em um email. "É incrivelmente eficaz. Tanques inteiros podem ser preenchidos em dias."

A Solazyme deu ao produto o nome de AlgaWise; em seu relatório de ganhos mais recente, a empresa se referiu ao Soylent ao mencionar que "uma nova e empolgante empresa de bebidas está lançando uma bebida para substituição de refeições feito com óleo de AlgaWise".

Há dois anos, enquanto vivi à base da versão beta do Soylent, Rob me falou de sua visão do produto final, o alimento não-alimentício ideal, que cresceria com nada além de sol, ar e água, em biorreatores cheios de algas. A gororoba seria distribuída diretamente para as casas, onde sairia da torneira mesmo, tipo água.

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"Com base em meus cálculos, um armazém de 9.000 m² poderia gerar Soylent o suficiente para alimentar Los Angeles inteira"

Ele falou mais sobre tal ambição em um artigo de 2014 da New Yorker:

"O objetivo real de Rhinehart, porém, é ainda mais ambicioso: a empresa tem testado um óleo rico em ômega-3 derivado de algas e não de peixe. Eventualmente, assim espera Rhinehart, descobrirão como retirar todos os ingredientes [das algas] do Soylent – carboidratos, proteínas, lipídios. 'Daí não precisaremos de fazendas para fazer o Soylent', disse. Melhor ainda, adicionou, seria criar um 'superorganismo' gerador de Soylent: uma única alga que gera Soylent o dia inteiro. Daí não precisaremos de fábricas."

Perguntei a Rhinehart se este ainda era o plano.

"Exatamente", respondeu. "E demos um grande passo com 20% das calorias totais vindo de algas. O próximo passo é focar na proteína. Não vejo porque não chegarmos à síntese total de células individuais dentro de alguns anos."

E ele disse ter um plano de como chegar até lá.

"Tendo em vista o interesse de construir um negócio sustentável para financiar nossas pesquisas, focamos primeiramente em melhorias no produto e em novos produtos, como o lançamento de hoje, mas também me voltei na organização de infraestrutura, incluindo a construção de um laboratório e recrutamento de profissionais, além de ter traçado um plano para chegarmos à síntese celular, começando com proteínas", afirmou Rhinehart. "Este processo tem dois módulos: um de engenharia de espécie para o desenvolvimento e otimização do organismo produtor, e o outro de engenharia de biorreatores para criar o ambiente ideal para o desenvolvimento desta(s) espécie(s)."

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Em suma, ele quer criar a alga que gerará Soylent e, ao mesmo tempo, construir um local em que ela possa ser alimentada para, depois, lançar o produto de forma eficaz e natural.

"No futuro, o Soylent poderá ser fabricado em instalações com fotobiorreatores, meio que centralizadas", continuou. "Com base em meus cálculos, um armazém de 9.000 m² poderia gerar Soylent o suficiente para alimentar Los Angeles inteira, e sua produção poderia ser aumentada ou diminuída com facilidade. Ou talvez os biorreatores sejam simples o bastante para que as pessoas tenham os seus em casa para gerar alimentos sob demanda. Tudo que se precisa é de eletricidade, que espero que venha por energia solar, CO2 do ambiente e nitrogênio. Água também seria necessária, mas ela poderia ser reutilizada para que houvessem poucas perdas."

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Se reatores gigantes gerando meleca de alga em massa soa digno de ficção ou distópico demais pra você, bom, tenho certeza que Rhinehart não dá a mínima. Ele parece cada vez mais espartano em sua visão. Em um post recente, ele descreveu como caiu fora da rede, instalou uns painéis solares e se livrou de sua geladeira. O cara largou comida e energia elétrica. O Gizmodo o acusou de dar "todos os sinais de um líder de seita".

"As primeiras colônias espaciais não terão usinas de carvão. Estou pronto", escreveu. "Por enquanto, porém, enquanto passo pela cidade brilhante e com minha fome calmamente controlada, tenho visões de estacionamentos e mercadinhos substituídos por parques e centros comunitários, usinas de energia elétricas transformadas em museus e galerias."

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Com os biorreatores de algas e painéis solares virá a paz; eis o sonho do fundador da Soylent. "O transito e o lixo evaporarão", conclui Rob, "se estivermos dispostos a adaptar alguns hábitos".

Tradução: Thiago "Índio" Silva