Dois anos atrás, eu estava de saco cheio da noite. Depois de iniciar minha vida adulta como promoter, não demorou muito para que eu começasse a desprezar este mundo "drogadito" onde tudo é superficial, os homens estão no comando — só aceitando as mulheres nos flyers, de calcinha — e as drogas são o lubrificante social capaz de manter as engrenagens funcionando. Além disso, me irritavam as hordas de DJs que eram venerados pelos promoters e donos de clubes, convencendo orgulhosamente o público de que eram músicos e artistas de verdade. A atitude deles trai as origens vanguardistas da música que eles tocam.
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Mas eu estava ainda mais enojada com os DJs que contribuíam para a supercomercialização dessa música. Aqueles que são pagos para atirar bolos nos clubes (e em cima de cadeirantes) enquanto tocam sets pré-gravados. As massas se arrastam em bando para esses sets, desesperadas para serem entretidas. A música só importa na medida em que é necessário um drop previsível para dar à molecada ofegante uma deixa de quando eles devem jogar as mãos para cima e berrar coletivamente. É tudo entretenimento de massa, ao passo que o conteúdo e a cultura se tornaram completamente irrelevantes.
O fenômeno EDM — não o gênero, mas os megaeventos que nasceram a partir dele — é a expressão triste de uma geração para a qual a música não é mais cultura ou arte, mas apenas outro bem de consumo. O EDM não é nada além de espetáculo: boom boom e pirotecnia. É a versão carnavalesca da dance music.Então me fiz uma pergunta: hoje em dia, o DJ é só um fantoche que toca música no palco e joga confetes na cara do seu público eufórico? Ele ainda precisa mesmo ter habilidades técnicas, agora que até um equipamento básico vem com um botão sync integrado? A discotecagem, em grande escala, não tem mais a ver com uma performance espalhafatosa do que com substância autêntica? Então junto com Tobias, um amigo da cena de clubes, decidi fazer meu próprio experimento e me tornar DJ de EDM. Alerta de spoiler: funcionou.Leia: "Afinal o que É EDM?"
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Marketing é Tudo
Comecei aperfeiçoando minhas habilidades técnicas em um clube durante o dia. Só de observar, já sabia como encaixar uma música na outra. Depois de um amigo me dar um curso rápido, levou apenas algumas semanas até eu conseguir mixar uma faixa na outra e coordenar as transições que não combinavam.Tobias e eu decidimos que era mais fácil comercializar duas mulheres do que uma só. As meninas do Nervo tinham provado isso. Então fui repassando as minhas amigas na minha cabeça, imaginando quem toparia esse tipo de farsa (que, é verdade, traria muita fama é álcool de graça). Rapidamente, tínhamos uma segunda mulher. Tobias conseguiu marcar nossa primeira apresentação em uma das festas dele. Era maio de 2014. Tínhamos um mês para preparar o show e passamos muito tempo no nosso estúdio improvisado. Simultaneamente, fizemos um ensaio fotográfico profissional, um logotipo e uma página no Facebook. Não queríamos usar a sensualidade como estratégia de marketing, como a DJ Da Candy, por exemplo, mas uma performance consistente que era cafona e clichê, mas crível.
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Toque Músicas Que Todo Mundo Conhece
A equipe tirou a sua conclusão: o plano (obviamente) parecia funcionar. Mas para fazermos sucesso de verdade, teríamos que investir muito mais tempo. Isso só iria funcionar se fizéssemos do projeto nossa prioridade número um. Minha parceira estava estudando Direito, muito preocupada com o namorado e não podia assumir o compromisso. Então decidimos que eu continuaria sozinha.Leia: "Para o Mat Zo, o EDM É o Dente Podre da Música Eletrônica"
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Tobias continuou vendendo nosso "projeto artístico" brilhantemente. Três meses depois do meu primeiro show, estava tocando em vários festivais, incluindo o Zurich Openair, entre os sets do Netsky e do Flume, e como número de abertura para os Crookers. Com as experiência dos festivais no meu currículo, os promoters começaram a me agendar não apenas como DJ de abertura para peixes grandes como Sidney Samson e Ummet Ozcan, mas até como atração principal das suas festas de EDM. Eu mal podia acreditar que estava me vendo nos flyers seis meses depois de mexer em um deck pela primeira vez.
Viva o Clichê
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Desista de Todo o Resto
Comecei a pensar cada vez mais na música que estava tocando e na música que queria tocar de verdade, e minhas expectativas em relação a mim mesma cresciam. Comecei a tocar o techno que eu ouvia em casa. Só em festas privadas, é claro, ou de manhã cedo em pistas menores — nunca no palco principal, já que este som não se encaixava na maneira como eu me vendia como DJ e podia prejudicar a minha imagem.Leia: "Seth Troxler Ataca Novamente: Fora Falta de Autenticidade no EDM e Aoki (de Novo)"
Arranje um Produtor Fantasma
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Me irrita que outros DJs vendam o trabalho de um músico de verdade como se fosse seu. Então, nesse ponto, meus produtores merecem ser creditados: tenho um enorme respeito por Ben Mühlethaler e Avesta, que produziram a minha primeira faixa. Eles são incrivelmente criativos e profissionais, trabalham produtivamente e com uma paixão impressionante pela música. O sucesso não é a maior prioridade deles. O que mais importa para eles é ganhar a vida e poder pagar o aluguel fazendo música.
Seguramos o lançamento da faixa que estava pronta. Queríamos esperar o momento perfeito. Um dia, recebi um e-mail de uma produtora musical, a Hitmill, que está por trás de mais ou menos todos os jingles e uma de cada duas músicas pop que você ouve. Eles queriam me conhecer e fazer uma faixa comigo. A Hitmill me providenciou um produtor, com quem eu me dei muito bem, e com quem trabalhei em uma segunda faixa. Mas antes que a colaboração acabasse, ele deixou a produtora. Terminei a faixa com um produtor diferente.Durante o verão de 2015, toquei em grandes festivais como o Sonnentanz, o Holi Festival of Colours e o Zurich Openair. No Streetparade Afterparty, toquei no palco principal logo depois do Bassjackers e do Tujamo. De repente, bookers de outros países estavam entrando em contato comigo para agendar shows. Dificilmente algum deles fazia ideia do que eu sabia fazer ou de quanto era boa. Mas eles não se importavam. Viram que funcionava. Para que eu fizesse a coisa "funcionar", estavam dispostos a pagar um gordo cachê, incluindo transporte e hospedagem.
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