FYI.

This story is over 5 years old.

Música

“Meu Único Plano Era Curtir”: Conheça o DJ que Inspirou ‘Eden’

Sven Hansen-Løve, irmão da diretora do longa sobre o french house, fala sobre o processo de produção do filme que conta sua própria história como DJ na cena de onde emergiu o Daft Punk.

A conversa sobre Eden continua desaguando em duas palavras: Daft Punk. No entanto, apesar de Thomas e Guy-Man terem um papel importante tanto na história do filme quanto na trilha sonora deles, a dupla de robôs mais conhecida do mundo são na verdade apenas pano de fundo na história de Eden. Existe outro DJ, um que você provavelmente não conhece, cuja história é bem mais significante na trama do filme.

Publicidade

Eu vi Eden cerca de uma semana antes de falar com Sven Hansen-Løve, o irmão da diretora do filme Mia Hansen-Løve, que também fez as vezes de roteirista, consultor, e serviu de inspiração para a história do filme. Não seria completamente justo chamar o longa de um conto de "sonhos não se tornam realidade", mas a história serve como uma mostra real da carreira de um DJ, cujo ofício certamente está mais baseado na dura realidade de tentar equilibrar ambições com o peso do estilo de vida de festa 24 horas por dia.

O protagonista do filme, Paul, personagem inspirado em Sven, está trabalhando em clubes e organizando festas durante o crescimento do french touch e a emergência do Daft Punk, mas sua trajetória segue um caminho bem diferente da dupla de robôs, enquanto Paul e seu dupla vivem um hedonismo constante, eles experimentam os altos e eventuais baixos na balada.

"Eu acabei escrevendo quase metade do script, e o fato de ele ser em grande parte baseado na minha vida foi muito estranho", Sven me diz ao telefone. "Algumas das coisas eram reais, algumas inventadas, e sempre haviam alguns elementos que eu nem percebi que tinha inventado — sua memória pode pregar peças em você".

Ao contar suas experiências de tocar discos e festejar na tela, Sven essencialmente desnudou um período em sua vida tipificado em um triunfo seguido de derrota em medidas iguais. Como resultado, muitos dos toques pessoais na história envolvem personagens e eventos que tocam algumas de suas memórias mais delicadas. "Tiveram algumas coisas que precisamos mudar, envolvendo amigos ou ex-namoradas, eu tinha que respeitar essas pessoas. Ainda assim, muitas pessoas entraram em contato para dizer que se reconheceram. Um amigo até começou a me lembrar de coisas que eu tinha esquecido completamente quando estava escrevendo. Eu acho que minha memória não é tão boa!"

Publicidade

O jogo de perseguir memórias e reinventar o passado pode ser difícil, mas Eden se beneficia muito disso. O redemoinho baladas e drogas no meio do filme significa que as noites e dias constantemente se misturavam uns nos outros, permitindo ao longa apresentar a vida de Sven de maneira similar. "Eu acho que haviam duas partes da minha vida como o personagem. A primeira parte era diversão, as festas que eram muito boas, mas esse tempo acabou. É como se eu tivesse acordado um dia e percebido que se passaram oito anos sem eu notar. Nada aconteceu nesse tempo todo". Parece que o processo de recontar os altos e baixos de sua carreira de DJ, fez Sven avaliar toda essa parte da sua vida. "Eu me arrependo de coisas", ele me diz, "é claro".

Ainda assim o filme também tem a oportunidade de celebrar o lado mais doce dos seus vinte anos, principalmente na música. "A melhor coisa sobre a trilha sonora foi que tivemos muito tempo. O filme foi bem difícil de financiar, então desde o começo do projeto, do primeiro dia de gravação até o final, nós tivemos quase um ano. Nós começamos com uma lista enorme de quase 200 músicas, e fomos subtraindo, até termos apenas 40".

O que pode parecer uma surpresa no filme que é aparentemente baseado na filter house não contém quase nenhuma música desse gênero em sua trilha sonora. Ao invés, as faixas que povoam as cenas são em grande parte a música que Sven estava tocando nos clubes, referidas no filme como garage (pense em Paradise e não Artful Dodger). As longas noites são preenchidas com as batidas soul de Levan, Hardy e Knuckles. "A França naquela época tinha um gosto tão eclético. Eu podia discotecar com pessoas e ouvir algum techno bem hardcore e algum garage na mesma noite. Eu acho que me apaixonei por garage porque era mais estranho de certa forma do que o resto da música. Era um grande contraste".

Publicidade

No entanto, conseguir montar uma trilha sonora se provou muitas vezes desafiador. "A parte difícil era encontrar as pessoas que tinham os direitos, literalmente procurando artistas que haviam desaparecido completamente!" Esse é o mundo da dance music que aqueles hits únicos de balada costumam existir completamente independentes do artista por trás dele, que pode continuar relativamente anônimo. "Tentar achar Rosie Gaines que tinha o hit 'Closer Than Close', foi impossível. Não conseguimos encontrá-la! Quase tivemos que contratar um detetive, seguindo pistas como 'Eu a vi em uma cidadezinha não muito longe daqui.' Muitas das pessoas daqueles dias estão fazendo outra coisa agora. Eles não estão mais na música".

Existe um tipo engraçado de simetria na batalha de Sven e Mia Hansen-Løve em encontrar artistas que já foram tão próximos à cultura de balada dos anos noventa, mas desde então tem se adaptado a uma vida longe da festa — bem parecido com Sven. "Estou escrevendo e fazendo mestrado em escrita criativa na França. Minha vida é calma mas estou bem feliz, eu só quero escrever". Dito isso, a jornada de fazer Eden foi, até certo ponto, reviver sua carreira de DJ. "O filme ajudou nisso! Apesar de eu não beber quando eu trabalho ou festejar como antes! Eu nunca parei de verdade, eu só tive que mudar minha atitude".

O assunto da atitude parece estar no cerne da história de Sven, particularmente quando ele fala sobre os sucessos do Daft Punk. "Eu acho que é uma questão de quanta ambição você tem. Com toda a sinceridade, eu não acho que eu já tive tanta ambição quanto eles. Para ser bem sucedido você precisa se projetar no futuro. O que vai acontecer em cinco ou dez anos? Eles tinham um plano, e eu não tinha plano algum. Meu único plano era curtir — o que era divertido, mas se tornou um problema".

Publicidade

Felizmente, a amizade de Sven com Daft Punk se provou um elemento frutívero e adequado em Eden, com Thomas e Guy-Man oferecendo o uso de sua música a uma taxa amigável para filme independente. Sven foi enfático em mostrar a significancia do papel deles. "Eu acho que não poderíamos ter feito esse filme sem a colaboração do Daft Punk. Eles são amigos e muito simpáticos, Thomas sempre apoiou a minha escrita. O fato deles nos ajudarem foi uma chave de ouro".

Antes da nossa conversa terminar, Sven considera sua longa amizade com a dupla, e os giros de destino e decisões que levaram a seus respectivos caminhos. "Eles são visionários na minha opinião. Eu tenho o sentimento que mesmo quando eles tinham vinte anos de idade eles sabiam o que ia acontecer. Todas as pessoas em volta deles tinha esse sentimento. Eles tinham a ambição, eles queriam isso, e eles sabiam como fazer isso acontecer".

Então e o que ele queria? Eu perguntei para Sven se ele considera ou não Eden um conto de moralidade de certa forma? Uma lição sobre a importância da determinação, visão e perseverança. Ele pausa por um segundo. "Não. Eu não acho que tenha uma lição nisso. É só uma história".

Descubra mais no Twitter.

Siga Angus no Twitter.

Tradução: Pedro Moreira