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cenas

Fui ao teatro ver uma peça em que me deram banho

E ainda comi laranjas, mas só queria ficar em casa.

Sabes aqueles dias em que sais tarde das aulas ou do trabalho (sorte de quem o tem) e já só queres chegar ao conforto da tua casa, comer um bom prato (já preparado, de preferência) e ir para a cama ver séries? Tudo menos voltar a sair de casa, portanto. Pronto, foi num desses dias. Não sei como ganhei coragem, mas conseguiram convencer-me a ir ao teatro. Já tinha ouvido falar da peça mas, tudo o que me disseram foi: “Tem qualquer coisa a ver com banhos turcos e mulheres muçulmanas”. Muito pouca informação para quem só queria enfiar-se no meio dos lençóis. Tudo o que interessa é contar realmente como foi o teatro. E não foi nada do que estava à espera. Para a próxima tenho de aprender a ler a sinopse. Nem sequer havia uma sala de teatro propriamente dita. À entrada do espaço, as actrizes, envoltas em toalhas brancas (ai, os meus lençóis!)pediram que me descalçasse e tirasse as meias inclusive. Comecei logo a desconfiar, mas avancei. Muito vapor, muito incenso e cheiro a laranjas (é fixe para desenjoar). Ainda tentei ver se havia shisha. Pediram que nos sentássemos no chão, à volta delas, e começaram a representar. Desculpem, mas não me recordo do discurso — meio espanhol, meio português — estava mais preocupada em integrar-me naquele espaço. Dividiram-nos em dois grupos. Eu fazia parte do primeiro, por isso, sentei-me nos bancos à volta do tanque — e agora, o que é suposto eu fazer à frente destas mulheres enroladas em toalhas de banho? Pediram que tirássemos a roupa e que relaxássemos — ok, relaxa Catarina, só precisas de ficar de roupa interior. Aproximaram-se de mim, e das outras pessoas presentes (apenas mulheres), com frascos de óleo (óptimo cheiro por sinal), baldes com água e luvas de banho. Iam limpar-nos de todos os males, pensei eu. Uma delas sentou-se à minha frente e começou a dar-me banho. Literalmente. Tive direito a óleo e a massagens. Abstraiam-se de quaisquer pensamentos homossexuais, nada a ver. Foi super relaxante, mesmo. Podia ser a minha mãe. Ela ainda me contou a vida toda, desde o marido, aos filhos, passando por deus. Não me incomodou minimamente, estava mesmo a absorver aquilo. Podia ficar ali até ganhar pregas nas mãos, mas tínhamos de trocar de grupo. Deram-me uma toalha, vesti-me e fui sentar-me na zona das almofadas e do incenso — onde é que está a shisha? Deram-nos várias laranjas para as mãos e pediram-nos para as descascar. Cada pedaço de casca significava uma alegria da vida. Que bonito! A cena fixe é que depois podíamos comê-las. Nunca gostei tanto de laranjas.Ficava ali mais quatro horas, pelo menos. Nenhuma de nós estava com vontade e, muito menos, força nas pernas, para sair daquele espaço. Ficámos demasiado leves e adormecidas. Mulheres, acreditem: só queria chegar a casa e ter outro fim de dia daqueles. Alguém que me desse banho, fizesse massagens, contasse histórias, por mais desinteressantes que fossem — já ouço tudo a partir de uma certa hora. E que me desse laranjas. Todos os dias se possível.