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Música

​Os HHY & The Macumbas vão apoderar-se do teu cérebro

Na sexta-feira, 29 de Janeiro, apresentam ao vivo, em Braga, o resultado da residência artística que desenvolveram no gnration.

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Fotografia de Maria Louceiro.

Podem ainda ser aquilo a que normalmente se chama "um segredo bem guardado" - pelo menos fora do circuito portuense e do meio lisboeta mais atento e explorador -, apesar de não serem propriamente novatos. Mas o colectivo HHY & The Macumbas pode estar prestes a dar a volta ao texto.

Na sexta-feira, 29 de Janeiro, apresentam ao vivo, em Braga, o resultado da residência artística que desenvolveram no gnration. Um período de imersão total - como descreve à VICE Jonathan Saldanha aka HHY em breve entrevista que podem ler mais abaixo -, que resultou no material gravado no Estúdio Mobydick e que será parte essencial do disco que pretendem editar este ano (pela Soopa Crew) e que sucede ao álbum de estreia, "Throat Permission Cut".

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Ao vivo, os portuenses têm construído uma reputação de acontecimento. Performances em que a música se mostra como inqualificável, poderosa e experimental, bastas vezes avassaladora e indutora de assinaláveis estados de hipnose.

Na sinopse de apresentação que escreveu para o concerto da Blackbox do gnration, Mário Lopes, jornalista do Público, dá o mote: "Para quem tem a música como relógio do quotidiano e como paixão fora-de-horas, deparar-se com o novo, com a surpresa, é um desejo eternamente alimentado. Um desejo e não uma procura. A distinção é importante porque, vivendo nessa relação com a música, torna-se indispensável perscrutar o mundo de sons que nos rodeia e que se transforma, ora mais imperceptivelmente, ora em corte nada discreto, enquanto o mundo continua o seu avanço. A verdade é que seria cansativo, e até vagamente autista, perseguir sem fim a quimera do 'não ouvido antes', recusando tudo o resto. Precisamos da história, da transmissão de cultura, para encontrar sentido nos propósitos. Como precisamos também de acrescentar o que somos, agora, àquilo que nos foi legado".

Mas uma coisa é certa, a muralha de percussão, sub-bass em pressão constante, sopros e ecos, carregada de electricidade, caos, paisagens suburbanas e que faz do dub o meio de transmissão para um padrão sónico singular, pode, facilmente, encaixar nessa categoria tantas vezes subjectiva do "nunca antes ouvido".

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"HHY & The Macumbas são jazz exploratório embebido em ondulações rituais de tempos longínquos. São a ideia do dub jamaicano, que era sintonização na era espacial de prévias ondulações encantatórias, a sobrevoar o oceano para chegar à costa este africana, onde trompas trovejam no ar sobre a planície etíope. Quando ouvimos "Throat Permission Cut", álbum de estreia desta banda que parece combo de jazz enfeitiçado no Mardi Gras de Nova Orleães, compreendemos tudo isso – e sentimos pulsares minimalistas que nos sugam do mundo exterior, e observamos camadas de realidade aumentada desenhadas, com labor de artesão antigo, em electrónica moderna", acrescenta a prosa de Mário Lopes. E sem tirar nem pôr, dizemos nós.

A apresentação da residência no gnration - antigo quartel da GNR e um projecto resultante da Braga 2012: Capital Europeia da Juventude, programado desde Junho de 2014 por Luís Fernandes, também director do Festival SEMIBREVE e músico conhecido pelos trabalhos em peixe:avião, The Astroboy (agora Landforms), ou Quest (com a pianista Joana Gama) - enquadra-se, pois, no tal conceito de acontecimento.

Momento único e imperdível, em que os HHY & The Macumbas sucedem a nomes grandes que ao longo dos últimos anos usufruíram destas residências artísticas , como Dirty Beaches (com o português André Gonçalves), Sonic Boom (dos Spacemen 3), Norberto Lobo, Mark Fell, ou os Sensible Soccers.

A palavra a Jonathan Saldanha.

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VICE: O que é que vos trouxe esta residência artística no gnration, no que ao vosso crescimento enquanto banda diz respeito?

Jonathan Saldanha: Qualquer contexto que permita uma alteração objectiva das rotinas diárias, serve sempre o propósito maior de reconectar com as dimensões mais profundas da vontade. Percebemos melhor como fazemos o que fazemos.

Estavam à espera de sair disto com o material para o novo álbum? Era já parte do plano, ou foi algo que resultou de toda a envolvência que encontraram no GNRATION?

Os processos de gravar um disco de HHY & The Macumbas são múltiplos. Diferentes formas de gravar, diferentes espaços e instrumentações, construções não lineares em estúdio, escutas e reconstruções.

Sabíamos que o gnration seria importante nesse puzzle e conseguimos, de facto, gravar algumas matrizes daquilo que será o nosso próximo disco.

Para que parte do Universo apontaram as antenas para criarem o que se vai poder ver e ouvir ao vivo na sexta-feira, 29, em Braga?

Temos por definição as antenas apontadas para as mais distintas direcções. É um universo múltiplo, mas, cada vez, mais escutamos a própria antena, como funciona, qual a sua forma e que desvio adiciona à captação da realidade envolvente. Temos um grupo de métodos, ritmos, timbres que constituem o nosso corpo. É um território já por si vasto e repleto de possibilidades.

Residência artística. Fotografia gentilmente cedida por gnration.

Estarem embrenhados a compor, a ensaiar e a tocar numa situação tão particular como é uma residência artística, é algo que vos agrada?

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Estar embrenhado agrada sempre. A subtracção do tempo é condição essencial ao desenvolvimento da nossa linguagem.

A vossa música não é fácil de catalogar. Agrada-vos essa condição? Conseguem, ainda assim, colocar-lhe algum "rótulo"?

Não conseguimos, nem tentamos colocar um rótulo. Não é um dado importante para o nosso output. Nem sei se esse output pode ser visto apenas como música. Por vezes estamos mais perto do som enquanto evento, do que da música enquanto forma. A sinestesia não deixa espaço para gavetas.

Houve um grande consenso quer na comunicação social, quer no público, que 2015 foi um ano excelente para a música feita em Portugal. Concordam que há uma espécie de "boom all over again", ou é sol de pouca dura?

A música e o som enquanto mediação e linguagem esteve e estará sempre em constante reorganização, num fluxo imparável (e enquanto tivermos ar a preencher a atmosfera), aqui ou noutro lado.

Podem existir partículas desse fluxo que são menos visíveis durante um período, podem utilizar formas menos reconhecíveis e, por isso, tornam-se ilegíveis naquele momento.

Os sistemas de validação passam muitas vezes ao lado de coisas brilhantes. É difícil apontar anos em que existem booms. Existem tantas explosões invisíveis que só anos, ou décadas, depois se manifestam…como se fazem listas com isso?

O que é que têm em mãos para 2016?

Temos as mãos carregadas de matéria. Estamos a avançar na construção do disco e, enquanto isso, vamos continuar a tocar ao vivo, estendendo a realidade prismática da nossa linguagem.