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Entretenimento

Há milhares de designers em Portugal, mas só alguns ganham prémios

O Ano do Design Português está a terminar, e ainda há uma exposição para ver.

Joana Monteiro, 29 anos, acaba de receber das mãos de um ministro, de um secretário de Estado e de uma comissária um prémio importante na sua área profissional, mas ninguém diria. A placa com o seu nome e a inscrição "Prémio Profissional Sebastião Rodrigues - Design de Comunicação" já está dentro da mochila, o valor monetário correspondente há-de ser transferido, e Joana passa alguns minutos junto aos exemplares da sua obra que agora fazem parte da exposição que acolhe todos os finalistas do Prémio do Design Português 2015, patente até 29 de Novembro, no Museu Nacional dos Coches.

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Capas dos cadernos da Programação do TNSJ de Joana Monteiro - Prémio Profissional Sebastião Rodrigues - Design de Comunicação.

Designer Gráfica, freelancer, vive e trabalha em Coimbra e, apesar do trabalho agora distinguido ter sido uma encomenda do Teatro Nacional de São João, no Porto, a sua rede de clientes, parcerias e colaborações está longe de ser tão institucional como a cerimónia em que acaba de brilhar. "Para mim os prémios são uma coisa completamente à parte da carreira profissional. A minha grande gratificação é quando vejo que o trabalho funciona, está na rua, que cumpre os seus objectivos, os objectivos do cliente", assegura Joana Monteiro em conversa com a VICE. Para alguém que se move de uma forma independente e, muitas vezes solitária, numa área em que a criação artística anda de braço dado com a criação puramente técnica e onde a concorrência é feroz e profícua, prémios e reconhecimentos públicos são também uma forma, confidencia, "de tirar um bocadinho a cabeça da carapaça e perceber que se está a ir no bom caminho".

"Em relação a este trabalho, ter conseguido fazê-lo de uma forma tão livre e o Teatro Nacional de São João ter-me dado a oportunidade de o fazer é, para mim, o mais importante. O prémio dá-me impulso para continuar a experimentar sem medo, ou com menos receios…embora eu até ache que já há muito tempo que não tenho esse medo de errar ou de experimentar e isso é o que muitas vezes faz com que os projectos possam ganhar outra dimensão", conclui a designer que neste momento está a trabalhar para a Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra - Ano Zero, bem como para outros agentes culturais da sua cidade. "É o que sempre quis fazer", garante.

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Exposição.

O júri considerou que os materiais de comunicação para o Teatro Nacional de São João (temporada 2011-2013) que criou, "mostram a excelência do trabalho de direção de arte e design gráfico. O processo criativo revela uma compreensão da importância da produção e de diversos recursos e meios (com destaque para a fotografia e a tipografia) e um sentido contemporâneo de mise-en-scène que resultam em soluções visuais muito eficazes". Joana tem sorte, há-de também reconhecer. Designers (e advogados) não faltam no Portugal de 2015. E por cada premiado, ou reconhecido, há cem (na melhor das hipóteses) que terão de fazer outras opções de futuro…ou emigrar. A instituição do Ano do Design Português 2014/15, em que o Prémio do Design se insere, é, no entanto, prova da vitalidade da área.

Comissariado por Guta Moura Guedes, o Ano termina a 30 de Setembro próximo e despede-se em grande. À exposição no Museu dos Coches, dos 26 projectos finalistas e distinguidos no Design de Comunicação (Prémio Sebastião Rodrigues), Design de Produto (Prémio Daciano da Costa) e Design de Interiores (Prémio Pádua Ramos), que conta ainda com a projecção de um documentário sobre os três mestres que dão nome aos prémios, junta-se o lançamento do livro e da app "Portugal by Design". A publicação tem design do ateliê Silvadesigners e integra projetos de 95 profissionais portugueses, numa edição bilingue apoiada pela aplicação digital que permite uma difusão mais alargada dos conteúdos.

Teapot'set de João Abreu Valente - Prémio Daciano Costa (Categoria Estudantes) para Design de Produto.

"É uma imagem impressionante da enorme vitalidade, pluralidade e qualidade que o design nacional apresenta neste momento. O livro traz-nos a força de um grupo de criadores, autónomos, independentes, versáteis, mas também contribui para construir uma nova percepção sobre um País que, de forma cada vez mais expressiva, se destaca pelo seu posicionamento na área das indústrias culturais e criativas", explica Guta Moura Guedes. E a comissária do Ano do Design Português 2014/15, conclui: "Esperamos que este ´Portugal by Design´ seja o primeiro de uma série e que acompanhe o desenvolvimento e a estruturação de uma relação útil entre o Estado e a Sociedade Civil´, nesta que é uma das disciplinas mais importantes do século XXI: o design".

Os designers são como os treinadores da bola, há um bocadinho em cada português… mas Mourinhos há poucos.