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Um hotel japonês criou uma "sala de choro" para as mulheres tristes

Podes rir à vontade deste conceito de "sala de choro", mas a verdade é que há pessoas que podem estar a precisar de uma, neste preciso momento.

Para uma sociedade que recebe consecutivamente estereótipos como "robots sem sentimentos", os japoneses são bastante viscerais no que toca a expressar os seus mais profundos desejos.

A introspecção característica dos samurais torna-se absolutamente exteriorizada quando perfuram o estômago do inimigo e sacam as suas entranhas no acto de seppuku. A ala direita do Japão marcha nos centros urbanos, deslocando-se em enormes veículos militares gritando palavras de ordem sobre o nacionalismo e valores tradicionais. Na procissão do funeral de Hideto "Hide" Matsumoto, ex-guitarrista da banda de metal, X Japan, em 1998, milhares de homens e mulheres sairam à rua, chorando ao ponto de desmaio, enquanto recebiam água fornecida pelos paramédicos das ambulâncias, para, assim, evitar a total desidratação. Tens mesmo que espreitar o vídeo abaixo: uma cena que faz o funeral da Princesa Diana parecer uma cerimónia de um "zé-ninguém".

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No entanto, chorar no meio da rua pode ser perigoso. Por isso, foi muitíssimo bem pensado que, uns 17 aninhos após aquele dia tão triste, o Mitsui Garden Yotsuya Hotel, em Shinjuku, Tóquio, tenha criado uma sala específica para as mulheres poderem ir quando tiverem uma crise de choro. Estamos a falar de um lugar com lenços macios, filmes tipo Forrest Gump, livros depressivos e cobertores super confortáveis. Um porta-voz do hotel explicou que o objetivo é ajudar a diminuir o nível de stress das mulheres japonesas.

Stress é o que as mulheres japonesas comem ao pequeno almoço. É o pão-nosso-de-cada-dia. Em Tóquio, há carruagens de metro (e comboio) exclusivamente para mulheres - entre as 7h30 e as 9h30, já que o assédio sexual nos transportes públicos é algo que as mulheres japonesas têm de enfrentar quando frequentam as carruagens mistas na hora de ponta. O Japão tem uma das maiores desigualdades de género do mundo; or isso, não é de se surpreender que algumas mulheres se sintam tão pressionadas a ponto de explodir num choro convulsivo.

Quando os japoneses inventam um espaço no mínimo "caricato" (já para não dizer descabido), geralmente isso significa algo bastante fofo: um café de gatos, um café de corujas e o ligeiramente mais bizarro, café de carinho. Mas não há nada particularmente fofo numa sala de choro. Isto demonstra algo bem mais profundo. Tóquio é uma das cidades mais populadas do planeta, e o Japão é um Estado onde as cidades são construídas sob planos estreitos por entre as vastas terras montanhosas do arquipélago. O que faz com que milhares de pessoas vivam amontoadas em espaços relativamente pequenos, onde a boa educação e a tranquilidade sejam mais uma questão de necessidade social do que propriamente resultado de uma educação rígida e cuidada. É impossível ter tanta gente enfiada no mesmo espaço, o dia inteiro, sem fazerem as maiores idiotices de sempre.

E o que é que as mulheres japonesas podem fazer com o stress numa sociedade onde as emoções são sufocadas pela educação? Pois bem: podem reservar um quarto no Matsui Garden Yotsuya Hotel, pelos vistos. A questão é que - e olhem que não sou nenhum especialista - de certeza que um plano bem melhor seria "consertar" a sociedade para, assim, aliviar o tipo de pressão ou stress que faz alguém enfiar-se num quarto de hotel cheio de livros e filmes lamechas, a fim de libertar toda e qualquer frustração que está dentro de si. Mas penso que abrir um espaço-exclusivamente-reservado-para-chorar, a 75€ por noite, até é uma boa segunda opção.

Há, sem dúvida, algo de caricato nesta ideia de sala de choro. Mas, infelizmente, evidencia também a falta de espaço (físico e intelectual) que as mulheres japonesas que vivem no meio urbano urbano têm para si. Um espaço para reflectir e relaxar, longe dos salary men bêbedos. Mas, na realidade, o que falta são parques e zonas verdes para descansar e espairecer. Os apartamentos são, regra geral, do tamanho de um contentor do lixo. A claustrofobia é, sem sombra de dúvida, o sentimento mais presente em casa, no trabalho, no metro e nas ruas.

E podes rir à vontade deste conceito de "sala de choro", mas a verdade é que há pessoas que podem estar a precisar de uma, neste preciso momento. Segue Joe Bish no Twitter.