Crónicas Lxxx - Insónias

Sempre sofri de insónias…talvez seja esse o motivo pelo qual gosto tanto de cinema. Depois de ver todos os anúncios de televendas, passava a maioria das madrugadas a ver filmes. Vi todos os filmes do Cronenberg, Spike Lee, Woody Allen, Romero, Spielberg…as manhãs e as tardes eram duras, mas à noite tudo se tornava mais fácil, era eu, o sofá e os filmes.

Agora sofro de insónias por outros motivos…
No segundo dia do Pedro lá em casa, tive um dia de trabalho horrível. Ainda estava a habituar-ma às novas funções, novos colegas, novas dinâmicas. Cheguei tarde, pelo que só queria jantar, ver um filme e dormir. Nessa noite percebi que tínhamos horários opostos. Quando eu ia dormir o Pedro ia trabalhar, e vice-versa.

Às 3 da manhã ouvi alguém entrar em casa, era o Pedro, e trazia companhia. A casa não é nova, o soalho range e as portas deixam entrar qualquer resquício de luz. Ouvia bem tudo o que diziam e os feixes de luz da cozinha entravam sorrateiramente pelo meu quarto.

Ouviam-se risos, conversas sobre música e alguém a abrir uma garrafa de vinho. Apesar da usurpação da garrafa (depois da separação o vinho ocupou, temporariamente, o lugar da minha ex-namorada ) senti-me otimista e pensei que talvez fosse rápido. Estariam com os copos, teriam sexo desmazelado e acabariam por dormir às 3.15.

Eram cinco da manhã e eu estava enganado…a vista da cozinha e o vinho funcionam como catalisadores de paixão e desejo, e para meu azar, essa noite o desejo era ruidoso.

Ouvi os primeiros suspiros, beijos, gemidos e depois gritos, palmadas, móveis a ranger, algo a cair no chão….Perto das 6 da manhã oiço o orgasmo do Pedro, as luzes apagam-se e o filme chega ao fim.

Penso: Ainda tenho 2 horas antes de ter de me levantar, fecho os olhos e tento adormecer.

6.30, e voltam os gritos… nessa noite o Pedro teria dois orgasmos, mas a mim, esperava-me um dia miserável pela frente.

No dia seguinte, depois do trabalho, encontrei o Pedro em casa. Apesar de ter o aspeto de um dos zombies do Dawn of the Dead perguntei-lhe que tal tinha corrido com a rapariga. Disse-me que bem, que a rapariga era gira, porreira, inteligente e que adorava fazer sexo oral.

Esbocei um sorriso amarelo e disse-lhe que ia para a cama cedo pois tinha uma reunião na manhã seguinte.

Enquanto caminhava em direcção ao quarto, perguntou-me se queria conhecê-la, pois nessa noite voltaria a estar com ela…