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Comida

"O Viagra dos Incas” é tão bom que os chineses já o estão a piratear

A maca é o super-alimento do ano.

Enquanto o mundo continua obcecado com a couve, as sementes de chia e as bagas goji, o Peru está apaixonado pelo que vai ganhar o prémio de super-alimento do ano: a maca. "Jovem, leva-o para a masculinidade, a virilidade, a vitalidade e a fertilidade. Também cura o cancro e outras doenças", é o que podes ouvir os vendedores a cantar pelos corredores dos mercados. E se tens pinta de turista, vão tentar vender-te este alimento como "o viagra dos Incas", o ginseng dos Andes, ou o super-alimento sexual. Ao veres esta pequena raiz, não pensas que pode mudar a tua vida, já que está a venda no Mercado Central de Lima. Mas hoje em dia, a Lepidium meyenii, que cresce em Junín a mais de 4000 metros acima do nível do mar nos Andes, é cada dia mais conhecida mundialmente. Para lá dos boatos, eu quero vos demostrar que a maca, é realmente, um alimento espectacular.

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"Está provado ser um dos alimentos que pode ajudar a corrigir um dos maiores problemas da nossa população: a desnutrição", diz o médico Fernando Cabieses, um dos grandes estudiosos desta planta, no seu livro La Maca y la Puna, onde realizou uma extensa pesquisa sobre as propriedades da planta e demonstrou que é um produto muito mais nutritivo que a quinoa, outro superalimento andino, pois oferece minerais em maior quantidade como o cálcio, o ferro e o fósforo e tem mais proteínas, menos calorias e mais esterois - daí a sua suposta acção hormonal. Alguns estudos têm demonstrado que pode ser usado para prevenir e conter a osteoporose, ajudar com os desequilíbrios hormonais, os de tiróide, os sintomas da menopausa e pós-menopausa, o cancro da próstata e os problemas de fertilidade. Uau, começa a convencer-me.

A Sra.Sofía Jurado, uma vendedora de maca do Mercado nº1 de Surquillo, em Lima, diz-nos que o seu médico receitou-lhe a raiz durante a sua quimioterapia. "Eu tive cancro, e o médico disse-me: 'depois da radiação, tome maca para controlar as náuseas e não emagrecer demasiado". Nem imaginas como me ajudou". Para os peruanos, a maca é uma parte essencial da dieta diária. Com apenas um sol (25 cêntimos), podes comprar um copo de maca em qualquer emolientería (uma espécie de carrinho ambulante). Crianças, adultos, idosos, adolescentes "fresas" e trabalhadores "no-fresas", são todos consumidores de maca. A Sra.Castorina Sarmiento, que tem a sua emolientería com as suas filhas em Barranco, vende cerca de uns 60 copos de maca por dia. E nas montanhas do Peru há séculos que é consumida como energizante.

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O êxito alçando no estrangeiro foi tanto, que esta pequena e feia raiz que se parece a um nabo, tem estado recentemente no centro de um escândalo internacional de bio-pirataria. No ano passado, de acordo com a reportagem realizada pela jornalista Valerie Vázques de Velazco, 2 000 das 4 500 toneladas produzidas por ano foram compradas por "turistas" chineses. Desde maio de 2014, começaram a alertar para a chegada de cidadãos chineses às pampas de Junín, um lugar onde o turismo não é nada habitual. Estes peculiares visitantes vinham pagar pela maca quatro vezes mais do que vale normalmente - pagavam 36 soles em vez dos 9 que custa um quilo (um pouco mais de 8€) -. Além disso, pagavam em dinheiro e procuravam "a negra", a mais valiosa dos três tipos existentes de maca.

Porquê tanto interesse? Existem muitos mitos sobre a maca. Todo mundo fala das suas propriedades afrodisíacas e da sua ajuda milagrosa contra a disfunção eréctil; no entanto, nada disso foi provado. O que sabemos é que a maca negra, especificamente, ajuda à produção e mobilidade dos espermatozóides. E por essa maravilhosa propriedade os chineses chegaram a pagar quase 72 soles por quilo, quase 20 euros, 8 vezes mais do que o seu preço habitual. Assim que estes "turistas" chineses tinham o produto em sua posse, transportavam-no em camião até a fronteira com a Bolívia, e daí era enviado para Hong Kong.

A possibilidade de quadruplicar os seus rendimentos fez com que os agricultores não cumprissem os seus contratos locais e o custo da maca no Peru tenha disparado, chegando a atingir os 90 soles por quilo - 26 euros - pelo que nos conta a Sra.Sofía Jurado. Por sua vez as pequenas emolienterías também tiveram de subir os preços e acabaram todos por sofrer as consequências.

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A luta do Peru por um dos seus produtos principais começou em 2003, quando a Lei de Florestas e da Fauna Silvestre estabeleceu que o vegetal em questão não poderia ser retirado do país na sua forma natural, na sequência de mais um escândalo. Resulta que a empresa Naturex, com sede em Nova Jersey, Estados Unidos, recebeu a patente para a distribuição comercial exclusiva do extracto de maca. Argumentaram que tinham investido mais de um milhão de dólares e três anos para analisar as propriedades da raiz. E ainda tinham contribuído para a crescente popularidade da maca que passou de render 1,3 milhões dólares em 2000 para 3 milhões em 2003. Em 2005, os maiores consumidores foram os Estados Unidos, a Alemanha, a Bélgica e o Canadá. Hoje em dia, 60 por cento é consumida no Peru e o resto das exportações é amplamente dividida entre a China e os Estados Unidos.

Sabe-se que há vários anos na província de Yunnan, os chineses cultivam a maca, mas esta - como todos os outros produtos chineses piratas - é de pior qualidade. Mas antes de criticar ferozmente os chineses, temos de ter em conta que a procura de maca neste país asiático é enorme. Cada ano, são apresentados dezenas de pedidos para patentear a maca ou alguma variante de extracção, e mais de metade vêm da China. No entanto, para lidar com a procura e melhorar ainda mais a sua maca, os chineses continuam a invadir Junín para comprarem toda a que conseguirem. Cabieses dizia: "Se com maca melhoras, maca a todas as horas." E os chineses estão a levar isto muito a sério.

Esta superprodução preocupa as autoridades peruanas, que sabem que não é a primeira vez que o Peru perde um dos seus produtos milagrosos. O Peru deixou de ser o principal produtor de yacón e de unha de gato, dois produtos excelentes que controlam o diabetes e o sistema imunitário, respectivamente; já em 1630 os holandeses levaram as raízes de cinchona para plantá-las na Indonésia e extrair a quinina, um dos componentes medicinais mais importantes do século XIX, pois curava a malária. O problema foi tão grave, que o Peru tem na sua bandeira nacional a árvore cinchona como lembrança do "roubo". E como se diz em Inglês, «fool me once, shame on you; but fool me twice, shame on me» Embora pareça que simplesmente ainda não aprenderam a lição.

Este artigo foi originalmente publicado em Munchies.