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análise

Na real, 'Purple Rain' é um filme ruim?

Revisitamos o clássico cult de Prince de 1984 para ver se todo o hype em torno da obra ainda se sustenta.

Imagem do topo cortesia de Warner Bros.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

Agora que Prince está de volta ao Spotify, incontáveis fãs provavelmente vão revisitar seu catálogo nas próximas semanas. E, com certeza, várias dessas viagens pelo túnel do tempo vão acabar num destino inevitável: Pulple Rain.

Apesar de ter lançado 39 álbuns de estúdio durante sua carreira absurdamente prolífica — a maioria deles depois de ter se afastado da briga pelo título de Maior Pop Star da Terra —, Purple Rain ainda é um dos temas principais quando falamos de Prince. Faz sentido quando estamos discutindo seu trabalho no estúdio de gravação. Apenas alguns discos na história podem ser honestamente descritos como "perfeitos", e Purple Rain com certeza é um deles. Já o filme, bom, há controvérsias.

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Na época do lançamento, a versão em filme de Purple Rain parecia uma conquista monumental, e por boas razões. O mundo não tinha visto um músico lançar um filme capaz de se destacar das músicas que o inspiraram desde que os Beatles lançaram Os Reis do Ié-Ié-Ié e 1964.

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Mas essa conquista não quer dizer necessariamente que Purple Rain é um bom filme. Se você, como milhões de pessoas, foi ao cinema quando o filme foi relançado depois da morte de Prince, você vai estar mentindo pra si mesmo se disser que ele envelheceu bem.

Para começo de conversa, as atuações são péssimas. Claro, Prince está charmoso como sempre, mas sua atuação é pateta e dura, e faz o cenário que deveria parecer o mundo real tão crível quanto o de um filme de terror tosco. Os únicos salvando no campo da atuação são Morris Day e Jerome Benton. Deveríamos estar fascinados pelo romance em ebulição de Prince e Apollonia, mas o bromance entre Morris e Jerome rouba a cena toda vez. Assistir os dois juntos é quase sempre um deleite.

Quase. Uma cena-chave envolvendo os dois também destaca perfeitamente outra falha gigantesca de Purple Rain. No cerne, esse é um filme sobre como Prince precisa ser melhor com as mulheres em sua vida, mas se baseia em várias cenas onde as mulheres são tratadas como lixo, figurativa e literalmente, para chegar nessa mensagem. Numa das cenas mais memoráveis, Morris e Jerome são confrontados por uma mulher que está puta porque Morris não retornou seus telefonemas, e eles respondem jogando a moça numa lixeira.

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Em outra cena, Prince dá um tapa em Apollonia, fazendo ela cair do outro lado da sala, simplesmente porque ela o insultou. Mas tudo bem, né, porque no final ele conserta tudo tocando "Purple Rain", e todo mundo é feliz para sempre.

Basicamente, Purple Rain é um ótimo filme de show com um drama de merda no meio. Você ainda acha partes ótimas nas cenas musicais, mas o resto é incrivelmente constrangedor.

O pior é como Purple Rain ofusca o resto da filmografia de Prince. Ele lançou quatro filmes na carreira. Um deles, Graffiti Bridge, a "sequência" oficial de Purple Rain, é um filme sem pé nem cabeça que você nem precisa se preocupar em assistir. Mas os outros dois merecem mais atenção da história do que recebem.

Depois do sucesso de Purple Rain, Prince ganhou controle completo para fazer qualquer coisa que desse na telha. E o que ele entregou foi Sob o Luar da Primavera, uma comédia absurda que se passa num ponto indeterminado do passado. O filme é sobre dois irmãos golpistas, interpretados por Prince e Jerome, que planejam casar com uma jovem francesa que deve herdar $50 milhões. O papel é interpretado pela indicada ao Oscar Kristin Scott Thomas, e só por isso já vale a pena dar uma conferida — mesmo que o público tenha discordado no lançamento.

Depois de Sob o Luar da Primavera, o mais perto que ele chegou de fazer um filme "de verdade", Prince lançou seu primeiro grande filme de concerto: Sign 'o' the Times. Pode ficar tranquilo, acompanhando sua estética geral, é um filme estranho pacas e inclui alguns momentos roteirizados que você vai preferir que não estivessem ali, mas na maior parte, é só o Prince no palco no auge do seu poder criativo. O que torna ainda mais frustrante o fato de que é quase impossível achar uma cópia HD desse filme.

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O mais importante sobre esses dois momentos relativamente esquecidos da carreira de Prince é que os dois são exemplos melhores das duas coisas que tornaram Purple Rain um sucesso de público. Em Sob o Luar da Primavera, as tentativas patetas de Prince de fazer comédia estão mais relaxadas que no filme anterior. Morris Day com certeza faz falta, mas as interações entre Prince e Jerome Benton são realmente engraçadas e charmosas. A cena "wrecka stow" desse filme rivaliza com o trecho "Lake Minnetonka" de Purple Rain como o momento mais engraçado na história cinematográfica do Prince.

Essa é uma comédia que demonstra perfeitamente o carisma da vida real responsável por tornar Prince o ícone que ele foi. (E ajuda que nenhuma mulher apanha ou é jogada numa lixeira.) Além disso, o que é mais estranho, o fato de o filme se desenrolar no passado e ser em preto e branco o torna significativamente menos datado que Purple Rain.

Quanto a Sign 'o' the Times: é Prince no auge criativo, ao vivo, sem todo aquele drama bizarro que forma metade de Purple Rain. Você pode discutir o dia inteiro qual lista de músicas apresentada nos dois filmes é a melhor, mas não dá para negar que Sign 'o' the Times é uma representação mais correta do que era ver Prince ao vivo. Em Purple Rain, as músicas são tocadas praticamente do mesmo jeito que no disco, mas em Sign as faixas foram retrabalhadas e estendidas para mostrar todo o talento da banda de Prince numa performance ao vivo.

Claro, nada disso significa que Purple Rain deveria ser descartado ou esquecido. O filme é parte da história de um dos maiores artistas de todos os tempos. Mas se você está procurando um filme que explique a mística da personalidade de Prince ou Prince como artista, tem opções melhores no mercado.

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Tradução: Marina Schnoor

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