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Tecnologia

Temer discute reduzir áreas protegidas da floresta amazônica

Se aprovada, medida pode devastar as árvores com as quais seres humanos coexistem há séculos.
Wikimedia Commons

Quando os europeus chegaram às margens da floresta amazônica, acreditavam estar diante de paisagem intocada pelo homem. Não era verdade. Um abrangente estudo das espécies de árvores amazônicas no periódico Science revelou, há poucos dias, que as árvores domesticadas – isto é, mantidas e usadas – por indígenas já dominavam grande parte do ambiente antes de 1492.

Infelizmente, o presidente do Brasil, Michel Temer, e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, estão considerando uma proposta que pode botar em risco essa riqueza histórica. Eles cogitam encerrar a proteção de mais de um milhão de hectares da floresta. Se aprovada, a medida botará em risco muitas árvores que coexistem há séculos com humanos da região.

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Trata-se de uma mudança brusca de projeto. Conforme noticiado pelo site Amazônia Real, a ex-presidente Dilma Rousseff criou, em 11 de maio de 2016,  cinco unidades de conservação (UC) no Amazonas. Temer agora discute reduzir quatro delas. A diminuição da área protegida seria de 1,772 milhão de hectares, de um total de 2,695 milhões. Essas áreas protegidas, dizem os ambientalistas, sofrem forte pressão da grilagem de terra, desmatamento e agronegócio.

"O Amazonas tem a maior parte contígua de floresta na Amazônia", disse Cristiane Mazzetti, voluntária do Greenpeace em campanha pró-Amazônia, via Skype. As áreas em questão, comentou, são tão importantes quanto fronteiras ali, impedindo a expansão do sul por parte de grileiros e demais atividades suspeitas.

A floresta também serve como proteção: várias das 85 espécies de árvores domesticadas pesquisadas pela equipe de ecologistas internacionais tais como cacau, açaí, castanha-do-brasil seguem vitais para a subsistência dos povos amazônicos. Após analisar 1000 diferentes estudos com árvores ao longo da bacia amazônica, a equipe descobriu que estas árvores domesticadas têm prevalência cinco vezes maior que suas contrapartes não-domesticadas.

"Isto derruba o mito da 'Amazônia vazia'", comentou o ecologista e co-autor do estudo Charles Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em nota à imprensa. "A pesquisa confirma que mesmo áreas da região parecem vazias hoje estão cheias de pegadas ancestrais."

Ainda assim, há o risco de perder essas pegadas nas mãos da ganância e industrialização. De 2012 a 2015, o desmatamento no Brasil cresceu 75%. O próprio estado do Amazonas teve aumento de 54% dos desmatamentos em 2016. "O desmatamento está crescendo novamente e, em vez de combatê-lo, o governo o incentiva", disse Mazzetti.

A descoberta de espécies de árvores domesticadas essenciais para a vida de tantos amazônidas espalhadas pela floresta revela que há mais ignorância e irresponsabilidade do que se pensava na destruição da própria floresta.