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Sexo

A triste realidade de ser um ator pornô

Na Feira Erótica Internacional VENUS, em Berlim, as atrizes pornôs são as verdadeiras estrelas, enquanto seus colegas homens ficam de lado.
Rocco Siffredi. Todas as fotos por Hanko Ye.

Matéria originalmente publicada na VICE Alemanha.

Como já era de se esperar, tem muita coisa para ver na Feira Erótica Internacional VENUS de Berlim, que aconteceu de 12 a 15 de outubro este ano. Mas apesar de toda gente bonita, bonecas eróticas e apresentações espetaculares de fetiche, fiquei mais impressionada em perceber como a experiência de participar da feira é diferente para os atores. Para onde ia, via as atrizes e artistas eróticas constantemente cercadas por pessoas — fotógrafos ou fãs homens fazendo fila para falar com elas. Bem menos atenção recebem os colegas atores pornô, que na maioria das vezes são jogados pra escanteio.

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Era difícil não sentir um pouco de pena dos caras, todos sorrindo e fingindo que tudo bem ser ignorado. Já que ninguém mais estava falando com eles, decidi papear com alguns dos atores negligenciados para saber como é ser o show de abertura que ninguém quer ver.

Marcello Bravo, 39 anos

Marcello e a esposa, Little Caprice.

VICE: Há quanto tempo você está na indústria?
Marcello Bravo: Há 15 anos. Hoje já estrelei mais de mil filmes. Cerca de um ano atrás, comecei a trabalhar atrás das câmeras como produtor com a minha esposa, Little Caprice.

Desde que começamos a conversar, cinco caras abordaram sua esposa para pedir um autógrafo, enquanto você foi completamente ignorado. Isso te incomoda?
Uns 80% dos fãs só estão interessados em falar com ela, mas não tenho inveja. Sendo honesto, não dá para culpar os caras — se eu fosse eles, com certeza pediria uma foto com a minha esposa.

Qual seu maior talento como ator?
Sempre consigo ficar duro, mesmo quando não estou no clima. Já fui acrobata aéreo, o que exige muita concentração. Uso essa habilidade para fazer cenas longas, me mantenho focado e sigo firme. Essa força mental é minha maior qualidade.

Rocco Siffredi, 53 anos

VICE: Como é ser um ator pornô numa convenção erótica?
Rocco Siffredi: Isso mostra como é difícil ser homem nessa indústria. A maioria dos filmes são criados por homens héteros, então o foco quase sempre é na mulher na cena. Somos tratados mais como um acessório, não coadjuvante. Mas não é tão ruim assim — em qualquer lugar do mundo para onde vou, sempre sou abordado por fãs. E muitas vezes eles me tratam como um amigo que não veem há anos.

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O que os caras hétero dizem quando te abordam?
A maioria quer agradecer. Outros comentam minha performance, e me dizem que se impressionam com quantos filmes já fiz.

De todos os pornôs que fez, de qual você tem mais orgulho?
Um filme chamado Never Say Never to Rocco. Fizemos esse 20 anos atrás, com gente comum em vez de atores pornô. Claro, profissionais fazem um ótimo trabalho, mas quando você é muito profissional diante da câmera, pode parecer mecânico demais. Mas esse filme não era assim — era muito natural.

Porno-Klaus, 40 anos

VICE: Você sabe quantos outros atores pornô estão aqui hoje?
Porno-Klaus: Provavelmente uns 20. A indústria tem poucos bons atores homens porque acho que as pessoas que compram pornô são principalmente homens héteros, e eles não ligam para o cara que está fazendo a cena. Não faço mais pornô, na verdade, mas trabalhei nisso por cinco anos. O mercado mudou totalmente e não vale mais a pena. Todos esses sites de pornô grátis estão destruindo o cinema adulto, e ninguém mais compra DVDs. Esse é o verdadeiro problema.

As pessoas te conhecem mais por ter participado da versão alemã do Big Brother ou por seus filmes adultos?
A maioria me conhece por meio do pornô, mas sou famoso pelas duas coisas. Na verdade sou popular entre homens e mulheres nas convenções. Os caras me dizem que tem inveja de mim por ter transado com tantas mulheres, e as mulheres geralmente elogiam o meu pênis.

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Se você não faz mais filmes, por que está aqui hoje?
Estou promovendo o "Little Shooter", é um copinho de shot em forma de pênis.

Manuel Stallion, 36 anos

VICE: Você se descreveria como um ator de sucesso?
Manuel Stallion: Sim, fiz 1.500 filmes em 11 anos. A indústria é difícil para os homens, mas você pode ganhar muito dinheiro se trabalhar bastante.

Pelo que vi aqui, você tem mais fãs que a maioria dos outros atores.
Sim, mas é porque também fiz televisão mainstream, então não sou conhecido só pelo pornô. Fiz muitos realitys.

Mesmos assim, comparado às atrizes, o pessoal não está tão interessado em você.
Como ator pornô, você se acostuma a se misturar ao fundo. Isso não me incomoda. E também não é como se não recebêssemos nenhum reconhecimento — já ganhei o Venus Award de melhor ator amador em 2013.

Martin, 37 anos

Martin concordou em dar a entrevista sob a condição de permanecer anônimo.

VICE: Como você não quer que a gente mostre seu rosto, acho que posso dizer que você não gosta de chamar atenção, certo?
Martin: Sim, é verdade. Conheci minha namorada em 2012 no banco onde a gente trabalhava, e logo começamos a fazer pornô amador juntos. Fizemos 380 até agora. Eu diria que estou nuns 370 deles, mas nunca mostrei meu rosto. Não queremos que os espectadores saibam que é sempre o mesmo cara — já fiz o padastro, o tio e o jardineiro. E as pessoas compram a ideia, até recebemos comentários tipo "Eca, você transou com seu tio!" Minha namorada é quem aparece nos filmes e fala com os fãs.

Então você fica feliz em ver que pouca gente se importa com você?
Você quer ser conhecido só o suficiente para vender filmes. Uma vez, minha namorada e eu aparecemos com nossos nomes verdadeiros numa matéria do maior tabloide alemão, o Bild. Acabamos processando eles por causa disso. E quando fomos indicados para o Venus Award alguns anos atrás, recusamos educadamente. Mas fazemos convenções porque é uma oportunidade da minha namorada conhecer os fãs e mostrar a ele que somos de verdade.

Algum fã abordou você aqui?
Não, ninguém. Mas muita gente veio falar com a minha namorada; até perdi a conta. Os caras até formaram fila para conhecê-la neste final de semana.

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