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Politică

Sem Bolsonaro, Daciolo ou Lula, debate pega leve na treta e premia boa retórica

Com os candidatos comedidos após o atentado contra Bolsonaro, debate morno serviu de palanque para os sem-TV (e para Alckmin).
Foto: TV Gazeta / Instagram 

Que a corrida eleitoral de 2018 seria um entrevero mais feio que bater em mãe, a gente já sabia – talvez não imaginasse que chegaria a tanto. Porém quem trocou o fim do futebol deste domingo (9) para sintonizar a TV Gazeta a partir das 18h não encontrou no terceiro debate presidencial do ano nada que refletisse o clima acirrado que toma conta das redes sociais e das ruas.

Com apenas seis dos 14 candidatos presentes, o debate foi marcado pelas ausências. Pela terceira vez seguida, o PT ficou de fora da brincadeira, ainda enredeado pelo vai-certamente-não-vai dos recursos de Lula preso na tentativa de se candidatar. Cabo Daciolo (Patriotas), que animou o primeiro debate com referências bíblicas e a URSAL, preferiu permanecer jejuando no monte, enquanto o alvo preferido de perguntas nem tão capciosas, Jair Bolsonaro (PSL), permanecia internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, após tomar uma facada no bucho em Minas Gerais na quinta-feira (6).

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Ou seja, já se esperava um debate morno, cheio de obsequiosidades, com todos os dedos possíveis após o atentado contra Bolsonaro, levado lentamente no ritmo dos pastosos “ok” da apresentadora Maria Lydia Flândoli. Se num momento parecia que o tom ia dar uma animada, no embate entre Guilherme Boulos (PSOL) e Henrique Meirelles (MDB), não durou muito: só serviu o chiste de “taxar o Meirelles” de Boulos, sempre à procura de um meme.

O banqueiro e ex-ministro da Fazenda Meirelles, por sinal, segue demonstrando indícios de senilidade avançada, o que deve explicar, em parte, a empáfia de um candidato que quer se arvorar na falta de sucesso de Temer para tentar faturar uma cadeira presidencial. Das gafes cometidas, a mais feia foi dizer que "é absolutamente inaceitável que mulheres ganhem mais do que homens" ao falar das diferenças salariais de gênero no Brasil – não à toa, sempre sobravam uns risinhos soltos da plateia quando era a sua vez de soltar o verbo.

Enquanto Álvaro Dias (Podemos) se repetia exaustivamente com seu sorriso de Coringa do Jack Nicholson a falar da Lava Jato – imagino que não ocorra a ninguém perguntar ao senador sobre seu suplente e muitas vezes financiador Joel Malucelli basicamente porque ninguém se importa com o político paranaense –, Geraldo Alckmin (PSDB), que sempre se congratulou por sua postura “dura contra o crime” quando governador de São Paulo, queria vender-se como “Geraldinho paz-e-amor”. Já Marina Silva (Rede), sem um Bolsonaro para fazer de escada, pareceu menor do que a personagem que deu um intimão histórico no ex-capitão na rodada anterior.

No fim a bola sobrou solta para Ciro Gomes (PDT), que usou o máximo do espaço possível para compensar sua deficiência de tempo no horário eleitoral gratuito, costurando frases de efeito para se cacifar como substituto de Lula na centro-esquerda, usando expressões como “ladroagem de alto coturno” para se referir aos presos da Lava Jato, de um lado, e “Justiça que vive de gravatinha borboleta nos salões da grande burguesia nacional e estrangeira” para se referir à atuação do Judiciário na Lava Jato, de outro. Com a ausência de Bolsonaro, Ciro liderou com muita folga as menções no Twitter durante o debate, mostrando que, com ou sem bots, deve ser ele a liderar a polarização atual entre PT e Bolsonaro.

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