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saúde sexual

Finalmente um estudo entendeu como as mulheres gozam

A maior pesquisa já feita sobre orgasmo feminino nos ensina muito, mas não tudo.
Crédito: George Peters/Getty Images.

Um estudo publicado mês passado no The Journal of Sex and Marital Therapy descobriu que aproximadamente 37% das entrevistadas precisam de estimulação clitoriana para chegar ao orgasmo, em comparação aos 18% de mulheres para as quais a penetração vaginal é suficiente para fazê-las gozar.

De acordo com Debby Herbenick, pesquisadora no Centro de Promoção à Saúde Sexual da Universidade de Indiana, nos EUA, os resultados do estudo revelam o grande alcance das preferências das mulheres no que diz respeito a como preferem ser tocadas durante o sexo.
O estudo, conduzido em parceria com a OMGYes, uma empresa focada na "ciência do prazer feminino", pesquisou mais de mil mulheres residentes nos EUA com idades entre 18 e 94 anos. Foram feitas 1.000 entrevistas sobre preferências sexuais para uma corte combinada de 2.000 participantes, a fim de se tornar o maior estudo já realizado sobre especificidades do prazer feminino.

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As mulheres do estudo responderam a uma pesquisa composta de 30 questões em várias partes relacionadas ao comportamento e atitudes sexuais, e experiências com toque genital, incluindo perguntas detalhadas sobre como as participantes preferiam ser tocadas.

Aproximadamente 37% das mulheres responderam que precisam de estimulação clitoriana a fim de gozar, e outras 36% responderam que, apesar de não necessitarem da estimulação clitoriana, isso melhorava a experiência. Dezoito por cento das respondentes afirmaram que só a penetração vaginal era suficiente para o orgasmo, e 9% afirmaram que não têm orgasmos durante a relação ou que chegavam ao orgasmo por outros meios, como o sexo oral.

Com relação a experiências subjetivas de prazer, a maioria das mulheres citou "ter um tempo para criar a excitação", "ter um(a) parceiro(a) que sabe do que eu gosto" e "intimidade emocional" como técnicas que melhoram os orgasmos. Com relação ao toque, 66,6% das mulheres afirmaram que preferiam ser tocadas diretamente no clitóris, e citaram o movimento "para cima e para baixo" com uma pressão média, como estilo preferido de toque.
A pesquisa acrescenta dados muito necessários para a ciência do prazer das mulheres, o qual há muito é assombrada por afirmações freudianas sem qualquer base sobre a natureza dos orgasmos femininos.

"Freud afirmava que o orgasmo clitoriano era adolescente, e de que, com a puberdade, quando começam a ter relações sexuais com os homens, as mulheres deveriam transferir o centro do orgasmo para a vagina", escreveu a feminista Anne Koedt no famoso ensaio The Myth of Vaginal Orgasm, de 1970. "Presumia-se que a vagina era capaz de produzir um orgasmo paralelo, mas mais maduro, que o clitóris. Já se teve muito trabalho para desenvolver essa teoria, mas pouco foi feito para desafiar essas afirmações básicas."

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"A ideia de um tipo de orgasmo ser mais maduro é ridícula", afirma Herbenick. "E eu também não gosto desse binarismo clitoriano/vaginal porque, anatomicamente, essas partes pequenas estão próximas umas da outras e grudadas. No fim das contas, acho que brigar sobre qual nervo leva ao orgasmo não é nada instrutivo."

De acordo com Herbenick, a realidade do orgasmo feminina tem muitas nuances e há, historicamente, uma lacuna de conhecimento quando se trata da ciência do gozo. Como um dos primeiros e únicos estudos a abordar o orgasmo feminino em uma amostra nacionalmente representativa de mulheres nos EUA, o trabalho de Herbenick e seus colegas representa um importante passo em direção a uma maior compreensão da saúde sexual das mulheres.

"O primeiro estudo nacionalmente representativo dos EUA sobre o comportamento sexual foi conduzido no início dos anos 1990 e nossa equipe de pesquisadores realizou o segundo em 2009", afirmou Herbenick. "É uma lacuna de quase 20 anos para que um estudo acontecesse pela segunda vez. Parte do motivo porque estudos de comportamento sexual não são conduzidos com frequência é que eles são caros e o governo federal nunca ofereceu fundos."

Além disso, estudos anteriores sobre o prazer sexual nas mulheres utilizaram amostras limitadas ou não focaram em detalhes específicos do toque sexual. Essa falta de dados subjetivos sobre a sensibilidade genital torna a ciência empírica, de focar nas redes neurológicas dos genitais, mais difícil e também pode proibir educadores sexuais e clínicos de abordar experiências e dúvidas comuns entre as mulheres no que diz respeito à saúde sexual e ao prazer, de acordo com Herbenick e seus colegas.

Embora o estudo seja uma das pesquisas mais aprofundadas sobre o prazer sexual das mulheres já conduzido, Herbenick afirma que algumas questões permanecem em aberto.

"Fiquei bastante intrigada com o fato de que 41% das mulheres se satisfazem com um único tipo de toque", afirma Herbenick. "Em um estudo futuro, acredito que será fascinante encorajar essas mulheres a explorar outras formas, e ver se elas somente gostam daquele único estilo, ou se há um segundo do qual elas venham a gostar se experimentarem."

Em última análise, Herbenick afirma que o estudo aponta para a importância da comunicação e franqueza no quarto. "Se esse tanto de mulheres realmente gosta de uma única coisa, você realmente tem que conversar para aprender do que gosta, do contrário, vira um jogo de adivinhações", afirmou. "Como parte de meu ensino em sexualidade humana, sempre encorajo as pessoas a falarem. Se você descobriu uma forma de que gosta, tente não se limitar a ela. Acho que sou uma grande proponente da experimentação."

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