O planeta corre o risco de entrar em um estado  apocalíptico e irreversível
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Meio Ambiente

O planeta corre o risco de entrar em um estado apocalíptico e irreversível

Novo estudo diz que temos menos de 20 anos para corrigir isso.

Neste verão, as pessoas estão sofrendo, e morrendo, por causa das ondas de calor e dos incêndios florestais em muitas partes do mundo. Os últimos três anos foram os mais quentes já registrados e é provável que 2018 siga o mesmo padrão. Aquilo que fizermos nos próximos dez a 20 anos determinará se nosso planeta continuará bom para a vida humana, ou se nos encaminharemos, de modo irreversível, para o que os cientistas, em um grande estudo recente, chamaram de condições de Terra estufa.

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A Terra estufa é um pesadelo apocalíptico em que as temperaturas globais médias estão de 4 a 5 graus Celsius mais altas (em regiões como o Ártico, a temperatura média será de 10 graus a mais) do que hoje, de acordo com o estudo, “Trajectories of the Earth System in the Anthropocene” [“Trajetórias do sistema da Terra no Antropoceno”], publicado segunda-feira passada na Proceedings of the National Academy of Sciences. Os níveis do mar estarão de 10 a 60 metros mais altos conforme todas as geleiras do mundo derretem. Nessas condições, grandes porções de terra do planeta se tornarão inabitáveis.

"Cortar as emissões de carbono para limitar as mudanças climáticas em dois graus Celsius, conforme proposto pelo acordo para o clima de Paris, não será suficiente para evitar a Terra estufa”, afirmou o coautor Johan Rockström, diretor executivo do Centro de Resiliência de Estocolmo, na Suécia. A realidade é que as temperaturas globais não são causadas unicamente pelas emissões de carbono causadas pelos seres humanos, afirma Rockström -- sistemas naturais, como florestas e oceanos, também têm papel importante.

Se o aquecimento global chegar a dois graus Celsius, isso poderá desencadear um ponto crítico, também chamado de “tipping point”, em um ou mais dos sistemas naturais, causando mais aquecimento. Para colocar em perspectiva, as ondas de calor recentes e incêndios florestais estão associados às mudanças climáticas que aumentaram a temperatura média global em um grau Celsius.

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O degelo do permafrost (solo encontrado no Ártico e constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados) é um dos dez pontos críticos estudados no artigo. O permafrost existe em praticamente um quarto da área de terra do hemisfério norte. Se áreas grandes descongelarem, elas liberariam grandes quantidades de carbono e metano, aumentando o aquecimento.

Outros pontos críticos incluem a floresta amazônica e o desaparecimento das florestas boreais (quando uma floresta inteira morre subitamente por causa da seca ou outra causa); a redução da cobertura de neve no hemisfério norte, do gelo antártico e das calotas polares; e a perda do gelo de verão do ártico.

“Esses elementos de virada podem agir como uma fila de dominós. Quando uma peça é derrubada, ela leva todo o planeta consigo”, afirma Rockström. É praticamente impossível parar esse processo depois que ele inicia, e a etapa seguinte é estar no caminho de uma Terra estufa.

“Precisamos nos tornar administradores planetários nos próximos dez anos. Esse é o maior problema de segurança global de todos os tempos”, afirmou Rockström.

Não se sabe se um aumento de temperaturas de 2 ou mesmo de 1,5 graus Celsius desencadeará um ou mais desses pontos críticos, mas quanto mais quentes as temperaturas ficam, maior é o risco. A boa notícia é que sabemos o que fazer para evitar a futura Terra estufa, afirma a coautora Katherine Richardson, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. “Temos o conhecimento e capacidade de agir. Isso está em nosso controle”, ela afirmou.

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Os cientistas ressaltam três áreas principais de ação. A principal, para as próximas décadas, é cortar de modo agressivo as emissões de carbono e descarbonizar nossos sistemas de energia o mais rápido possível. Isso está começando a acontecer porque energias alternativas, como a eólica e a solar, hoje são mais baratas do que a energia fóssil em muitas partes do mundo, não poluem o ar e criam mais empregos.

A segunda prioridade é combater o desmatamento e a conversão de áreas naturais para produção agrícola. Florestas e outras áreas naturais absorvem 25% de nossas emissões de carbono, e isso precisa aumentar.

A terceira prioridade é continuar a desenvolver tecnologias a fim de retirar carbono da atmosfera e armazená-lo de modo seguro por milhares de anos. A Carbon Engineering, uma empresa canadense, desenvolveu recentemente um processo que retira o carbono da atmosfera e o transforma em combustível líquido neutro. Entretanto, seus custos permanecem altos, bem como os custos das demais tecnologias para remoção de carbono.

Muito disso já está acontecendo sem a liderança de governos nacionais. Indivíduos, comunidades e empresas compreendem que há coisas novas a fazer e que precisamos limitar nosso impacto na Terra. Uma coalizão de estados, cidades e organizações representando mais da metade da economia dos EUA está unida para cumprir os objetivos do acordo de Paris, independentemente do que a administração de Trump faça.

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Outra grande mudança para sustentabilidade planetária diz respeito à diminuição das taxas de fertilidade em praticamente todos os lugares do mundo, afirma a coautora Diana Liverman do Instituto do Meio Ambiente na Universidade do Arizona, nos EUA. Se as escolhas das mulheres continuarem sendo apoiadas, a população mundial se estabilizará em breve, reduzindo a necessidade de alimentação. Assim será possível sustentar ainda mais pessoas.

O grande desafio agora é reduzir o consumo de material e de energia em países ricos e garantir que países pobres e em desenvolvimento sigam um caminho de progresso com cada vez menos carbono.

Pesquisas globais revelam que as pessoas, especialmente os adultos jovens, estão conscientes e dispostos a tomar atitudes e desejar que seus governos trabalhem mais nesse sentido.

“Mas não podemos ser complacentes. Se escolhermos não tomar as atitudes devidas, vamos ter grandes problemas”, afirmou Liverman.

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