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Drogas

O que você precisa saber sobre beber maconha

Troquei o álcool por elixir de cannabis durante uma semana.
Tim Wright

A primeira coisa que eu fiz quando me mudei para o meu primeiro apartamento de adulto foi comprar um carrinho bar muito foda. Era uma mistura de Don Drapper e Drake – vintage, dois andares, detalhes em cobre com um bourbon de 40 dól e garrafas de Santa Margarita Rosé para aquelas noites em que a fama não é suficiente e é crucial que as ex’s fiquem sabendo. Nessa época eu fui de um para o outro, passando de um fim de semana bêbado para um ritual noturno de segunda a sexta-feira.

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Meu fígado adorou essa mudança de vida – mas só porque, como amo meus drinks, passei a consumi-los em doses mais sensatas num ambiente mais controlado. Três ou quarto vezes por semana mandava uma dose generosa de Mezcal ou uma puta dose de Old Fashioned. Esse ritual é relaxante demais. Me acomodo no meu sofá – copo na mão – entro no Netflix, e respiro fundo como se tivesse passado o dia tomando difíceis decisões executivas.

A questão é, álcool não é exatamente uma água de coco fresquinha, especialmente para um cara de 33 anos que quer parecer e se sentir como um de 26 pela próxima década ou mais. Bebendo moderadamente como eu faço, o álcool não se mostra um grande problema, mas sim, ele adiciona uns anos na sua pele e pode tornar pessoas ansiosas (olá!) ainda mais ansiosas. E ainda pode foder com seus padrões de sono, o que é uma merda porque eu realmente preciso das minhas nove horas de sono pra conseguir formar belas sentenças com palavras para viver.

“Álcool pode te ajudar a dormir inicialmente”, diz Mitch Earleywine, professor de psicologia na Universidade de Albany e autor de Understanding Marijuana: A New Look at the Scientific Evidence. “Mas geralmente, uma vez que seu corpo completou o metabolismo do álcool, você acaba acordando. Ou acordando de manhã muito cedo, ou no meio da noite, o que parece ser mais comum segundo algumas pesquisas.”

Esses fatores não foram suficientes pra desistir do meu happy hour caseiro. Mas quando a Monk Provisions me ofereceu amostras grátis de seu novo elixir “drink botânico” – um cocktail de cannabis, basicamente – me perguntei se conseguiria manter meu ritual pré sono sem o álcool.

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Decidi substituir meu ritual alcoólico noturno pelo elixir durante uma semana pra ver qual era. Sim, eu estava substituindo uma substância pela outra, mas acredite, nenhum dos meus hábitos indicam qualquer tipo de abuso. Inclusive, estudiosos que se dedicam ao estudo dos efeitos positivos do uso de cannabis acreditam que pode ser uma alternativa mais saudável do que foder meu fígado com Bulleit a cada 24 horas. “Realmente essa pode ser uma boa ideia”, Earleywine disse quando contei sobre meu experimento. “Canabinóides certamente não são tão tóxicos ou cancerígenos quanto o álcool. O metabolismo do fígado é bem mais fácil do que com o álcool. Todo o sistema funciona."

Ultimamente tenho notado que um ou dois drinks já não me relaxam mais como costumavam há uns anos atrás. Me pergunto se a relação da minha ansiedade com o álcool mudou com os anos. É possível, especialistas me disseram. Uma coisa é certa: o elixir de pouco mais de 100 g definitivamente melhorou minha noite de sono na primeira vez que tentei. Enquanto tecnicamente uma microdose (o elixir vem em diferentes “dosagens” e eu tentei a de 5 mg de CBD/5 mg de THC), me senti notavelmente mais relaxado em 20 minutos depois de beber.



O CBD, um dos principais componentes da cannabis pode ter um efeito sedativo em muitas pessoas. O THC, outro dos principais componentes, contém propriedades de alívio de dores, porém é mais famoso por deixar a galera chapada. Tem muito a ser dito sobre microdosagem e como o consumo de um sem o outro funciona, mas vou te contar sobre a minha experiência. Provei um elixir diferente a cada noite, por quatro noites da semana passada. Os sabores são cuidadosamente selecionados pelos fundadores Aaron Burke e Melanie McGraw, que quiseram imitar o apelo de um coquetel artesanal pra galera que normalmente prefere produtos naturais ao álcool.

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Aqui está o que você precisa saber se vai tentar um desses:

Os sabores são fortes, você vai tem que bancar o bartender

Burke me conta que os extratos naturais que eles usam no elixir (limão, gengibre, xarope de carvalho, lavanda, entre outros) são escolhidos estrategicamente pra trabalharem em conjunto com o CBD e/ou THC. “Eles não são apenas um veículo para o THC – os botânicos apoiam seu efeito.” Terpenos – o composto orgânico das plantas conhecido por proporcionar aromas distintos – como o linalol (encontrado na lavanda) são relaxantes pra muita gente, Earleywine confirma. Alguns desses sabores são um pouco pesados pro meu paladar, então preferi diluir em um pouco de La Croix sem sabor.

Não tente se “tratar” sem um acompanhamento médico

Eu seria negligente se não alertasse sobre a necessidade de consultar um médico e só contasse sobre meu experimento super divertido. “A principal questão é a ‘brisa’”, diz Amarjot Surhar, um psiquiatra que lida com questões de abuso de substâncias e vícios em Northwell Health em Nova York. “Uma vez que as pessoas começam a buscar a brisa ou uma dose significativa da droga, é uma questão de tempo até que isso evolua e saia do controle”.

Surhar estava visivelmente apreensivo com o meu encantamento pelo elixir, e eu tive que convencê-lo de que não precisaria de uma puta dose pra conseguir dormir e que levava a sério suas preocupações sobre um potencial abuso. “Para realmente entender a necessidade do uso do CBD, temos que entender o contexto em que é usado,” ele diz alertando, visto que tem muito entusiasmo ao redor da cannabis como tratamento alternativo a opioides. Ele não pode afirmar com certeza sobre os benefícios em geral antes que se tenha mais pesquisas sobre o assunto.

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Por enquanto só está disponível na Califórnia

Já consigo ver seus dedos se animando no app do Amazon Prime. Infelizmente, devido às políticas de restição do uso de CBD e THC nos estados, os elixires estão disponíveis apenas no estado da Califórnia (por uns $7 a garrafa e $35 a caixa com cinco). Burke diz que eles têm planos de expandir para outros estados onde a a cannabis é legalizada para fins recreacionais em breve.

Eles são diferentes dos comestíveis, então não espere ficar chapadão

Pessoas colecionam histórias de terror sobre como ficaram alucinadas quando comeram maconha e isso provavelmente, Earlywine diz, se deve ao fato de que comer maconha pode ser bem mais intenso do que fumar (mais sobre isso abaixo). Inclusive a dosagem pode ter sido retirada da embalagem. “Eles dizem ter 5 mg. Mas de repente você ta viajando pesado e fica tipo – isso não tem só 5 mg.” Mas ele acrescenta que as marcas têm melhorado sobre isso agora.

Já que a cannabis pode ser distribuída de forma desigual em comidas sólidas como cookies ou brownies, as pessoas podem acabar consumindo um pequeno pedaço que contenha mais da substância que em outras partes. Burke me conta que eles criaram essa bebida para garantir que uma microdose não vai te deixar brisadão. “Isso permite que você administre melhor sua experiência,” ele diz, “e então você pode determinar se quer uma segunda dose ou não.”

Você provavelmente vai sentir os efeitos de maneira diferente do que se tivesse fumado

“Vai ser absorvido pela membrana mucosa da sua boca,” Earleywine diz sobre beber cannabis em vez de tragar. “A quantidade que você tem [no elixir] não é a mesma de 5 mg de THC fumado, em partes porque se torna uma outra versão do THC que possui mais psicoatividade.” Logo, pode demorar mais pra sentir os efeitos, mas eles vão durar mais.

Eles me fizeram dormir como um bebê gordo, bem alimentado e levemente brisado

Não tive nenhum tipo de ressaca nem fiquei meio grogue na manhã seguinte. Monk normalmente usa um combinado (de sativa e indica) nos drinks com THC, mas todos eles fizeram eu me sentir bem – no corpo e na mente. De novo, tudo depende do seu contexto e estado mental pra começar, mas eu estava bem. Dito isso, eu não beberia antes de trabalhar, trabalhando ou em qualquer outro cenário onde eu tivesse que gastar energia mental ou física.

Matéria originalmente publicada pela VICE US.

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