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Tecnologia

Existem seis tipos de héteros que saem com pessoas do mesmo sexo

Nossa identidade sexual e nosso comportamento nem sempre andam juntos.
Alexey Kuzma/Stocksy

Como estudioso e pesquisador do sexo, descobri que a orientação sexual é um campo de estudo muito desafiador. Muito disso se deve ao fato de que os “rótulos” identitários que as pessoas adotam nem sempre estão de acordo com seu comportamento sexual.

Em particular, descobri que existem muitas pessoas por aí que afirmam ser heterossexuais, mas que já relataram ter parceiros do mesmo sexo. Também vi muitos estudos nos quais pessoas identificadas como heterossexuais com histórico de experiências com parceiros(as) do mesmo sexo ultrapassa todas as identidades não heterossexuais combinadas.

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Por que isso acontece? Quem são essas pessoas heterossexuais que fazem “sexo gay”? Pode parecer tentador dizer que todas essas pessoas são, secretamente, gays ou bissexuais, e que estejam vivendo dentro do armário, mas um estudo novo publicado na Archives of Sexual Behavior sugere que isso seria mera simplificação, e que existem pelo menos seis tipos diferentes de pessoas que se identificam como heterossexuais, mas que têm experiências com parceiros do mesmo sexo.

Chegou-se a essa conclusão com base em um estudo maior, com mais de 24 mil estudantes de 22 universidades e faculdades diferentes dos EUA. Os alunos se submeteram a uma pesquisa detalhada a respeito do último encontro que tiveram (se tiveram). No total, 14.630 alunos afirmaram ter tido um encontro recentemente, dos quais 5% (695) envolveram parceiro(a) do mesmo sexo. Esse subgrupo se tornou o foco do estudo.

Dos que reportaram um encontro com parceiro(a) do mesmo sexo, 12% dos homens e 15% das mulheres se identificaram como heterossexuais. Uma análise estatística foi realizada para agrupar esses indivíduos em grupos com base em características compartilhadas, e os resultados apontaram para as características a seguir.

O primeiro e maior grupo entre eles era o das pessoas caracterizadas simplesmente como “quero mais”. Essas pessoas gostaram tanto do encontro que, na maior parte, gostariam de ter um relacionamento amoroso com esse(a) parceiro(a). Esse grupo foi o mais propenso a ter tido uma experiência anterior com o mesmo sexo e o menor propenso a ter bebido nesse encontro. Talvez seja razoável pensar que essas pessoas estão em um estágio inicial de se descobrir gay ou bissexual.

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O segundo grupo foi descrito como “bêbado e curioso”. Praticamente três quartos dos estudantes beberam ocasionalmente antes do encontro, e muito poucos descreveram experiências com parceiros do mesmo sexo. Além disso, em geral, apresentaram ideias bem liberais a respeito do sexo. Contudo, eles não gostaram da experiência tanto quanto os do primeiro grupo (embora tenham apreciado de maneira geral) e praticamente nenhum participante afirmou ter desejado um relacionamento amoroso com o(a) parceiro(a). Esse grupo simplesmente desejava beber um pouco e experimentar algumas coisas.

O terceiro grupo foi descrito simplesmente como “teve pouco aproveitamento”. A grande maioria afirmou que não gostou da experiência. Diferentemente dos dois primeiros grupos, a maioria das pessoas desse grupo não teve contato genital com os(as) parceiros(as) e limitaram suas atividades a beijos e toques. Em outras palavras, elas não levaram as coisas adiante porque não tiveram vontade com aquelas pessoas em especial.

O quarto grupo consistiu em pessoas que tiveram atividades com pessoas do mesmo sexo para se mostrar e chamar a atenção. Todas as pessoas desse grupo eram mulheres que saíam com outras mulheres em eventos sociais onde outras pessoas pudessem vê-las. A maioria bebia socialmente, limitava suas atividades a beijos e toques, e não tinha experiência anterior com pessoas do mesmo sexo. “Bissexualidade performativa” seria outro modo de descrevê-las – elas faziam isso para se exibir, talvez para atrair atenção ou excitar outras pessoas.

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O grupo seguinte é o dos “gostaram demais, mas são religiosos” – são pessoas (a maioria mulheres) que realmente gostaram dos encontros, mas que pareciam ter crenças religiosas que não estavam de acordo com a adoção de uma identidade gay ou bissexual. Elas eram praticamente semelhantes ao grupo do “quero mais” em relação a aproveitar a experiência, e no desejo de uma relação com o(a) parceiro(a). Contudo, a diferença é que a maioria das pessoas praticava determinada religião e que suas crenças orientavam suas ideias sobre a sexualidade.

Por fim, e relacionado ao grupo anterior, havia o grupo “não é quem eu quero ser”, que consistia em pessoas (a maioria homens) praticamente de acordo que a homossexualidade é algo errado. Esse grupo era o mais politicamente conservador e, em sua maioria, baseava suas atitudes sexuais nas crenças religiosas. Eles não gostaram da experiência anterior tanto quanto o outro grupo religioso, e relativamente poucos afirmaram que desejaria um relacionamento com o(a) parceiro(a). (Esse grupo lembra muito as notícias sobre políticos homofóbicos envolvidos em escândalos sexuais envolvendo gays.)

Como você pode ver, pessoas que se identificam como heterossexuais que participam de encontros com pessoas do mesmo sexo, em uma diversidade de contextos, variam consideravelmente no modo como se sentem a respeito de suas experiências. Levando em conta essa variação, parece lógico concluir que a identidade heterossexual é mais propensa a persistir em algumas dessas pessoas em detrimento de outras.

Especificamente, os grupos mais propensos a transitar pelas identidades no futuro próximo são talvez os “quero mais”, e os “bêbados e curiosos”, levando em consideração que eles em geral gostaram da experiência e não parecem lidar com conflitos religiosos. Em contraste, os outros grupos provavelmente impedirão sua sexualidade de seguir adiante, pelo menos por um tempo. É possível que elas até mudem, mas isso vai depender de suas experiências futuras e em como suas atitudes e ambiente social se desenvolvam.

Esses achados nos dizem algumas coisas importantes. Primeiro, aqueles que estudam orientação sexual perdem parte do cenário total quando se focam unicamente na identidade sexual. É sensato não fazer muitas suposições sobre o comportamento sexual com base em um “rótulo” identitário predeterminado. Em segundo lugar, nem todos que se identificam como heterossexuais transam com pessoas do mesmo sexo às escondidas. Mas, sim, parece haver uma série complexa de fatores e motivações subjacentes a esse fenômeno, e nem todos eles são igualmente propensos a sinalizar uma mudança futura na identidade sexual.

Justin Miller é pesquisador fellow no Instituto Kinsey e autor do blog Sex and Psychology. Seu livro mais recente é Tell Me What You Want: The Sciente of Sexual Desire and How It Can Help You Improve Your Sex Life. Siga-o no Twitter: @JustinLehmille. Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter , Instagram e YouTube .