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Identidade

Um braço cortado de 500 anos está em turnê pelo Canadá

Provavelmente a coisa mais gótica que a Igreja Católica já permitiu.
Um padre segurando o braço direito de São Francisco Xavier dentro de um estojo de ouro e vidro. Al Fenn/The LIFE Picture Collection/Getty.

Texto originalmente publicado na VICE EUA.

Angèle Regnier, uma católica de Ottawa, está viajando pelo Canadá com um braço cortado de 500 anos.

Mais especificamente, é o braço direito de quase 500 de São Francisco Xavier. Com os dedos e tudo mais.

São Francisco Xavier é um dos santos mais populares do Catolicismo (ele não é que nem esses outros santos; ele é um santo legal). Seu corpo é classificado como “incorruptível”, o que significa que não se decompõe como carne normal. A igreja diz que é um milagre.

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“Chegando perto você consegue ver que ainda há carne nos ossos, é um braço”, disse Regnier numa entrevista para à CBC. Ela vai rodar por 14 cidades do Canadá para que pessoas possam experimentar o contato com braço morto.

Voar por aí com um braço amputado, por mais metal que seja, é um pesadelo logístico. Regnier tem que reservar um assento próprio para o braço no avião, porque ele abençoou um monte de gente ou algo assim. Então é muito sagrado para colocar no compartimento de bagagem de mão (que ganharia outro sentido aí).

“É o braço direito dele, então deve ter batizado, curado e feito muitas coisas maravilhosas”, Regnier disse a CBC. “O Arcebispo [de Ottawa] tem amigos na Air Canada – então são pessoas de fé que sabiam do que estávamos falando.”

Mas de volta à pergunta que importa: Como que a Igreja Católica foi arranjar um braço decepado sagrado pra sair fazendo turnê por aí?

E é aí que a coisa fica estranha. A igreja tem o corpo inteiro do santo preservado, e casualmente cortou algumas partes para mandar para diferentes lugares que precisassem disso. Seu braço direito foi separado de seu corpo em 1614 para ser enviado para Roma, já que eles precisava de uma prova física de que o corpo não estava se decompondo. O Japão tem uma mão. Outros países têm partes menos legais, tipo o intestino. Não tem um sistema para decidir que parte vai pra onde — é meio que tudo liberado. Mas mandar o intestino dele para um país enquanto outro ganha um braço que “batizou milhares de pessoas” me parece uma baita desfeita.

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Regnier conseguiu o braço quando o Arcebispo de Ottawa, Terrence Prendesgast, fez um pedido a Roma em seu nome. A igreja concordou, mas ela precisa devolver o braço pessoalmente em Roma depois.

O que não é problema pra ela.

“É como fazer uma viagem com um amigo”, ela disse a CBC. (Uma comparação meio ridícula, mas também a premissa de um filme que eu com certeza assistiria.)

O braço, claro, tem um estojo especial para protegê-lo dos elementos e das mãos sujas das pessoas. Roma também deu a Regnier uma mala especial com espuma e acrílico para carregar o braço. Mas talvez o mais importante é que ela tem documentos especiais do Vaticano para mostrar às autoridades, né, quando perguntarem por que ela está viajando com um braço arrancado de 465 anos.

Regnier e o braço vão viajar pelo Canadá de 3 de janeiro a 2 de fevereiro. Depois é de volta para Roma para descansar, presumivelmente em paz.

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