FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Primavera Sound: Muita gente, alguma música, poucos calções de ganga

O primeiro dia da primeira edição portuguesa do Primavera Sound.

Matosinhos é o lugar perfeito para receber um grande festival. Toda a área metropolitana do Porto é, em geral, propícia a um convívio de rua que é comum nas cidades mais amigáveis e bem dispostas (pensemos em Barcelona, por exemplo). Mas Matosinhos enche-nos os pulmões de maresia e boa vibração, e, sem darmos por ela, após duas ou três cervejas, estamos a partilhar a vida com pessoas que conhecemos há apenas cinco minutos. É isso que se quer de um festival também: aproveitar os dias para prolongar as conversas com uma cerveja na mão e a ouvir boa música. É pouco provável que o camarada que aproveitava uma esplanada de Matosinhos pelas duas da tarde estivesse a aquecer para ir ver Atlas Sound ou The Drums, mas ali se encontrava o exemplo de um festivaleiro clássico: chapéu à Crocodilo Dundee, calçado todo-o-terreno e um enorme à vontade para contar o que se anda a passar na vida. Disse, bem alto e para quem queria ouvir, que estava com obras em casa e que era possível ouvir todos os ruídos sexuais vindos dos apartamentos vizinhos. Concluiu depois referindo que isso o deixava muito mais à vontade para quando preferisse fazer “sexo selvagem”. O pessoal fica mais selvagem e solto nos dias de festival. Esta primeira edição do Primavera Sound instalada no Porto ocorre numa área gigantesca: um Parque da Cidade cheio de espaços verdes, dividido por quatro palcos ligados por vários caminhos. Não houve pó espalhado pelo ar. Por isso: Primavera Sound 1 – Aquele outro festival 0. O primeiro dia ficou limitado a dois palcos (os principais), por onde foram passando algumas caras conhecidas e outras tantas de que nunca tinha ouvido falar. Pelas sete da tarde Biggot trouxe consigo a barba de um Christian Bale após três meses de cativeiro e algumas músicas que nos fizeram imaginar o que poderiam ser os Walkmen de Valladolid. Um pouco depois, Bradford Cox, o gajo de Deerhunter que toca a solo como Atlas Sound, recuperou o espírito da country espacial que anda a explorar ultimamente e ficou, uma vez mais, entre o David Bowie e o Neil Young. Não é de bom tom fazer piadas sobre a famosa aparência do Brad, porque ele tem uma doença complicada e até costuma diminuir os preços dos bilhetes para os miúdos irem aos seus concertos. A mesma generosidade não se conhece a monsieur Yann Tiersen, quase sempre apresentado como o compositor da música escutada no filme da Amélie Poulain. Fazer este tipo de banda sonora conceituada é um pouco como ser nomeado para um Óscar: uma marca que fica colada ao nome até ao fim dos dias. No Primavera Sound, Yann Tiersen preferiu, mesmo assim, alegrar o público com um rock para viajar de foguetão até à mesma lua que os Air visitam quando querem fazer um disco de jeito. Já era noite quando os Suede começaram a malhar na brit-pop com grandes doses de glamour e toda a pose de frontman do Brett Anderson. Tocaram a “Animal Nitrate”, mas ouvir essa música sem ver as máscaras de porco do vídeo não é a mesma coisa. Muitos outros momentos especiais aconteceram fora do palco, espalhados por todo o Parque da Cidade. O sósia exacto do B Fachada, depois de marcar presença na Festa da VICE com o Tumblr, estava também no Primavera Sound e foi uma pena não ouvi-lo a cantar “Beijinhos” ou “Lá na selva” junto à grande caixa da adidas. Houve também a quantidade habitual de sacolas Rough Trade, uns quantos espanhóis todos mamados a atirarem-se para cima de uns arbustos e uma amostra ainda muito escassa de miúdas com calções de ganga. Estava à espera de mais, mas ainda agora a festa começou. A única mensagem que recebi directamente do Primavera Sound de Barcelona só dizia isto: “três palavras: calções de ganga”. Fotografia por Mauro Mota
_ MAIS PRIMAVERA SOUND
Segundo e terceiro dias para a posteridade