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O Clark Kent desistiu do jornalismo

É um pássaro? É um avião? Não, é uma estupidez.

Ilustração por Zé Cardoso

Lembram-se daquela cena no

Kill Bill,

onde o David Carradine entra num discurso despropositado sobre o Superman e o seu alter-ego Clark Kent? A tese seguia mais ou menos assim: o Superman de Krypton, que voa e mija laser dos olhos, é a verdadeira identidade. Clark Kent, que gagueja e usa óculos, é o comentário do Superman sobre a raça humana, frágil e torpe. Esqueçam o facto de isto não fazer sentido nenhum ser dito por um suposto mestre internacional do crime, qualquer leitor de comics vos poderia apontar que a identidade de Superman só apareceu mais tarde, quando a identidade Clark Kent já estava estabelecida.

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Ainda estão a ler isto? Adiante.

Entre os

fait-divers

(notícias engraçadas dadas por animadores da rádio matinal antes do espaço publicitário) desta semana noticiosa, circulou — com relativo sucesso — a curiosidade que, nas novas aventuras do

Superman

, Clark Kent decidiu abandonar o jornal

Daily Planet

por considerar o jornalismo actual demasiado sensacionalista. Isto fez-me reconsiderar esse tal discurso do Carradine de uma outra forma: o Clark Kent não era uma sátira aos humanos por ser totó e míope, era uma paródia das nossas imbecilidades, porque era jornalista.

Os jornalistas são vaidosos e têm um sentimento de inferioridade de classe muito aguçado. Pensem bem: quem descobre uma vocação para o jornalismo só está a pensar em falar com celebridades e aparecer na TV — porque já não existe outro tipo de jornalismo, hoje em dia. Claro que a resposta da imprensa à mera menção do estado da classe num livro aos quadradinhos foi a de um entusiasmo desmesurado, quando na verdade NINGUÉM QUER SABER, seus pascácios. Porque os jornalistas são como um português quando o país é falado “lá fora”, fica logo cheio de tesão e já se acha importante.

A única razão porque esta crise ainda não despoletou todas as psicoses da população portuguesa é que o país continua a ser falado por gente estrangeira e bem vestida, e isso é uma almofada para o tal orgulho nacional. Mas pronto. Os governos agradecem mais ruído por entre as notícias do descalabro civilizacional, e a editora DC Comics que agradece, sem dúvida, a publicidade gratuita. Aliás, é fazer render o filão,

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peeps

da banda desenhada. Algumas ideias para coisas que vão chamar a atenção de um estagiário numa redacção:

1. O Homem-Aranha despede-se como fotógrafo do

Daily Bugle

em revolta com o uso do Instagram pelos grandes jornais;

2. Hulk disfarça-se de repórter durante o Carnaval;

3. Batman vê-se forçado a despedir jornalistas e a fechar redacções para compensar as perdas que teve na banca;

4. O Homem de Ferro diz qualquer coisa sobre o Twitter (crack para jornalistas).

Fiquem com a síntese de uma reacção esclarecida a esta questiúncula, da parte de um conterrâneo meu: