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Música

MIXED BY PETDuo

Trocamos um ideião com a dupla mais extrema da eletrônica dos últimos tempos - e ganhamos de presente um mix destruidor.

O David e a Ana são casados há vinte anos, e a dupla formada por eles, o PETDuo, já completou dezoito aniversários. Pioneiros entre os nomes do hard techno gestados do Brasil, eles atualmente residem na Alemanha, para onde se mandaram faz quase uma década e de onde comandam o selo Cause Records e sua mais recente empreitada, a D&A Music.

A cultura techno entrou na vida do casal quando o estilo ainda pavimentava seu caminho em São Paulo. O David era frequentador de clubes como Hoellisch, Sra. Krawitz e Nation e, em 1994, ele e a Ana se conheceram no Hell's Club, na época em que ela começou a trabalhar como hostess na festa, cobrindo as madrugadas de sábado para domingo. Quando o PETDuo nasceu, o estilo do projeto foi definido pelo background musical do David, que era o EBM, o industrial e o hip house, combinado ao da Ana, que trazia o indie-rock e o death metal na bagagem.

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Esse foi o espírito que fez o PETDuo desenvolver uma personalidade única na praia do techno, com seus sets marcados por aquela avalanche de marretadas sem trégua, a mais pura lenha frita incômoda aos ouvidos sensíveis. Apesar do tempo de estrada e de também se apresentar em Live PA, com um punhado de faixas já lançadas em outros formatos, o PETDuo ainda não tem um álbum autoral. Mas isso está prestes a acontecer. Segundo eles, o lançamento sai no segundo semestre de 2015. Em paralelo, podemos aguardar por mais novidades do projeto PET Trio, em parceria com a Miss DJax, e do Resistor, a faceta low BPM do PETDuo. Enquanto isso, se liga na entrevista que fizemos com a dupla e segura esse mix de quase uma hora e meia que eles descolaram pra gente – tempo perfeito pra você ler esse ideião.

Thump: Quando vocês se conheceram, ambos já tinham experiência como DJs?
David PET: Eu já me interessava por discotecagem desde os meus 14 anos. Fiz curso de DJ numa escola chamada Fieldzz, com o DJ Akeen. Fiz muitas festinhas de aniversário na cidade, mas não tive um apoio real da família na época para continuar nessa profissão. Fiz faculdade de Publicidade & Propaganda e trabalhei muitos anos como editor de videos em pós-produção. Nós dois tínhamos trabalhos diurnos e, em 1996, depois que fui demitido, usei o dinheiro da rescisão que ganhei para comprar um par de Technics 1200 MK2.

E aí, o que rolou?
Começamos a comprar discos de techno e era super difícil conseguir informações, gastávamos muito comprando revistas especializadas e importadas como a Muzik, Jockey Slut, DJ Mag… Era preciso encomendar discos baseados nas reviews das revistas. Muitas vezes pegamos músicas erradas confiando nas opiniões de jornalistas. E como disco de vinil importado sempre foi caro no Brasil, às vezes dava o maior prejuízo no final do mês. Foi nessa época que a Ana fez o curso para DJs, também na Fieldzz. Nos finais de semana, geralmente acabávamos dando umas festinhas em casa com amigos e, numa dessas ocasiões, em 1997, um amigo nosso, o Xuetze, que também é organizador de umas das primeiras raves do Brasil, chamada Orybapu, falou que estávamos tocando bem e que deveríamos nos apresentar para outras pessoas. E acabou nos chamando para abrir uma Orybapu. Ficamos super nervosos, afinal nunca foi nosso objetivo virarmos DJs profissionais, nem pensávamos em viver de música! Mas acabamos aceitando e, depois dessa primeira experiência, começamos a receber mais convites pra tocar e aqui estamos, 18 anos depois, totalmente dedicados à música.

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Há quanto tempo vocês já estão em Berlim? Vocês acham que se residissem no Brasil não teriam tantas portas abertas para divulgar sua música? Digo, o Brasil não tem uma demanda e infraestrutura legais para trabalhar o hard techno?

David PET: Nós moramos em Berlim há nove anos, mas faz 13 anos que começamos a tocar regularmente na Europa. Na época em que decidimos nos mudar para cá, o hard techno estava numa subida enorme na Europa, o que não refletia o que estava acontecendo para nós no Brasil. Passávamos mais tempo na Europa do que aí e, quando voltávamos para casa em São Paulo, mal tínhamos festas pra tocar. Acho que, por trabalharmos sempre na independência e porque ficávamos muito tempo fora do Brasil, houve um esquecimento do nosso trabalho, uma vez que não tínhamos representantes do PETDuo no Brasil.

Ana PET: Quanto às portas abertas ao hard techno, caso ainda morássemos no Brasil, não podemos dizer ao certo, mas conscientes do nosso jeito, com certeza teríamos arrumado uma maneira de nos expressar. Infraestrutura pro hard e pra e-music em geral, o Brasil tem de sobra.

Fico pensando em qual é a maior qualidade de tocar com seis players. Vocês usam essa técnica para costurar passagens de diferentes faixas nos sets? E o que acham dos modernos softwares de discotecagem, esse lance de tocar com laptop e pen-drive?
PETDuo: Nosso set up atual é consequência de anos de prática e da nossa adaptação às mudanças tecnológicas dos útlimos dez anos, mais ou menos. Tocávamos em quatro toca-discos e acabamos incorporando um CDJ para cada um de nós, a fim de testar nossas próprias produções e tocar os promos e faixas digitais que já estávamos acumulando. Como os lançamentos em vinil pro nosso estilo foram ficando cada vez mais escassos, acabamos mudando para quatro CDJs e dois toca-discos. Até que, num dado momento, não fazia mais sentido carregar os poucos vinís que levávamos para nos apresentar, pois já não eram atuais e, além disso, quando saía algo nesse formato, já tínhamos as tracks muito tempo antes. Acabamos optando pelo uso de seis CDJs e dois mixers e, com isso, nossa técnica evoluiu para o que é hoje. Em muitos momentos do nosso DJ set temos de duas a quatro músicas tocando simultaneamente. Cortamos diferentes frequências, com diferentes equalizações, para criar uma nova mixagem. Fazemos cuts rápidos e agressivos e usamos os efeitos dos mixers combinados de maneira a criar sons nunca ouvidos antes, levando a experiência para além do que se pode esperar de uma mixagem mais convencional, sempre com algo a ponto de acontecer e surpreender. Nosso amor ao vinil é enorme, temos uma coleção bem grande em nossa casa, e tentamos tocar com vinil realmente até onde deu, mas também não tivemos muitos problemas na adaptação aos novos formatos digitais. E nossa escolha foi mesmo tocar com CDJs. Usamos pen drives e Rekordbox (software da Pioneer voltado à seleção e organização de músicas dentro de um pen drive) para preparar os sets e playlists.

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O chamado PET Trio, em parceria com a Miss DJax, é um projeto paralelo duradouro/fixo que promete render novos frutos ou apenas um lance ocasional que vocês decidiram experimentar?
PETDuo: O Pet Trio surgiu por acaso quando, durante uma festa em 2010, em Mannheim, na Alemanha, ela estava fazendo seu live P.A, e o DJ que deveria entrar depois dela se atrasou. Ela precisava que alguém entrasse no som. Como já estávamos na festa, adiantamos o início do horário da nossa performance e fizemos uma pequena jam, nós com os decks e ela com o live. Foi bem legal e conversamos na festa sobre fazermos algo juntos. Fizemos um EP Juntos, o Dance or Die, e a track de mesmo nome foi um verdadeiro hit, que ainda é tocada nas festas por aqui. Para nossas performances, optamos pelo formato de batalha de Live P.A.s, cada um leva suas máquinas e mixamos nossas músicas usando um mixer. Tocamos em algumas festas bem legais com esse projeto, como o Monegros Desert Fest, Awakenings Fest e Hard Techno Edition, Tomorrowland, Code, no clube Fabrik. Mas tanto ela como nós estávamos trabalhando em outros projetos e achamos melhor dar uma pausa, o que não quer dizer que o Pet Trio acabou. Estamos conversando para experimentar coisas novas e, talvez, ainda este ano, vocês tenham boas surpresas!

O que está rolando de mais instigante no techno atual, na perspectiva de vocês?
PETDuo: O que achamos é que, recentemente, muitos produtores de techno com BPMs mais baixas estão trazendo seus trabalhos para um clima mais agressivo e dark, que lembra bastante como o techno soava 15, até 20 anos atrás, só que melhor produzido e mais hipnótico. Alguns DJs com extensa carreira que estão trilhando este caminho são os Space DJz, Len Faki, The Hacker, Al Ferox e Mike Humphries, e entre os DJs novos ou menos conhecidos que podemos citar estão: Ritzi Lee, Niereich, Sebastian Groth, Erphun, Millimetric, Gary Beck e Perc.

Qual a diferença de abordagem do trabalho que vocês fazem com o selo Cause Records e com o D&A Music? Por que criar um novo selo também focado em techno?
PETDuo: O Cause Records é nosso selo voltado ao hard techno e às vertentes mais pesadas do estilo, como stomping, jackin' e industrial. É ligado totalmente ao PETDuo e expressa o que acreditamos em relação ao hard techno. A Ideia inicial do D&A Music era incorporar o techno com BPMs mais baixas, o electro e músicas um pouco mais experimentais, abrindo a chance para mostrar um pouco mais nossas influências e estilos que gostamos. Depois do lançamento do D&A Music 01, percebemos que deveríamos manter o HT no Cause e explorar esse lado de BPMs mais baixas e experimentalismo sem misturar com o estilo pelo qual o PETDuo ficou conhecido. Estamos preparando o número 2, mantendo o conceito de oferecer uma experiência sonora para os ouvintes em geral, com o EP completo a ser distribuído em formato de DJ set, de modo que as pessoas ouçam as tracks numa ordem, como uma história sendo contada. Claro que também disponibilizaremos as faixas separadas para os DJs. Esse selo é diretamente ligado ao nosso projeto de DJ set de techno low BPM, chamado Resistor.

Pensando em quem curte o som do PETDuo, que outros artistas essenciais dentro desse mesmo estilo vocês indicam, para a galera acompanhar ou pesquisar melhor?
PETDuo: Aqui vai uma lista com alguns nomes pros amantes do hard techno acompanharem e fazerem suas pesquisas: O.B.I., Svetec, Greg Notill, Alex TB, Buchecha, Manu Kenton, Instigator, Golpe, No.Dolls, Recycle Duo, Leon KB, Barbers, Slugos, Satoshi Honjo, K-Hole, Joana Coelho e Malke. Obrigado pela entrevista, nos vemos nas pistas! E VIVA O TECHNO!

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Tracklist:
1. Intro
2. DJ Drops - Booty Juke
3. O.B.I. - Get Ready To Party Hard
4. O.B.I. - Big Booty (PETDuo RMX)
5. Bassbottle – Black & White
6. OBI – Drill In structor ( Recycle Duo Rmx)
7. Yves kavella – Hart Leben (Orman Bitch Rmx)
8. Leon Kb Vs. Buchecha - Music For Your Mind
9. M-11 – Let the bass kick
10. Alex TB – Outta Control
11. DJ Deeon – Pushin Dik (Original Mix)
12. Arkus P. - Tool 46 ( Original Mix)
13. Golpe – Cheers!
14. Recycle Duo - Red Phase
15. DJ Speto – Pesado Romantico
16. Alex TB – Join and pain
17. Buchecha – Musicore
18. Pet Trio – Dance Or Die
19. Arkus P. - Phones Control
20. Endless Ressonance – Deliberate Attack
21. Buchecha – The Jumper
22. DJ Nasty – Lukeworm
23. Manatame – Scratchin' Jackout
24. Ben Long – Banger 1
25. 2M Jr. - Crazy People
26. Leon Kb – Awareness
27. Buchecha – Hardtechno Engines
28. 30 Second Source – What Would Jason Do?
29. DJs Message – Try Harder If You Want To Find This One
30. Mental Crush – Inside Me
31. Distor – Secundos
32. DJ Emme – After Break
33. Instigator – The Begining
34. Dragon Hoang – Hard Deaf 2014 (Withecker Rmx)
35. Arkus P. - Never more
36. Gockel – To The Core (Slugos RMX)