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Por várias razões, 2016 vai ser o ano das DSTs no Reino Unido

Apesar das pessoas estarem fazendo menos sexo, as taxas de doenças sexualmente transmissíveis continuam subindo.

Um cartaz de 1939 sobre os perigos da sífilis. (Imagem via)

Todos os genitais da Grã-Bretanha são bombas-relógio purulentas, pelo menos segundo os tabloides. Esta semana saíram várias matérias sobre uma "explosão" de DSTs, causada pelo corte dramático nos serviços públicos de saúde sexual e o crescimento do uso dos aplicativos de encontro. Mas quanto disso é verdade e quanto é apenas alarmismo da imprensa conservadora, que simplesmente não quer que os ingleses afoguem o ganso?

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Os diagnósticos de DSTs na Inglaterra pairam perto de meio milhão de novos casos, caindo um pouco ano passado mais ainda perto do maior número de todos os tempos. No entanto, esse total é apenas parte da história. Algumas áreas são piores que outras; em Hackney você encontra clamídia em mais de 4% da população, que é gente pra caralho, enquanto Lambeth é o líder do país em gonorreia.

Vimos sucessos no tratamento de certas infecções — a vacina contra o HPV, por exemplo, ajudou muito as genitálias da nação. Mas isso foi diminuído pelo aumento da taxa de infecções por outras DSTs. Casos de gonorreia subiram 19% num ano, enquanto a sífilis chegou a espetaculares 33%. Isso deveria ser uma baita preocupação para caras que transam outros caras, que representam 80% dos diagnósticos de sífilis e 50% dos de gonorreia.

Claro, as pessoas já estão procurando um bode expiatório, e os aplicativos de encontros são a bola da vez. Vários médicos culpam serviços como Grindr e Tinder pelo aumento nas DSTs, e a Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV chegou a sugerir que esses aplicativos podem ser "potencialmente perigosos" para a saúde dos usuários. Acredita-se que por esses aplicativos, as pessoas escolhem parceiros sexuais mais rápido, se expondo a mais doenças, mas ninguém ainda deu dados que realmente comprovem isso.

Na verdade, pesquisas mais aprofundadas parecem mostrar que os jovens estão fazendo menos sexo. Um estudo grande da UCL de 2014 descobriu que homens e mulheres ingleses de idades entre 16 e 44 anos estão fazendo sexo uma média de 4,8 a 4,9 vezes por mês. Dez anos atrás, antes do Facebook aparecer, os dois sexos faziam isso mais de seis vezes por mês. Nos EUA, um grande estudo com mais de 33 mil americanos descobriu que os baby boomers transavam com mais parceiros que os millennials, e chegou à estatística impressionante de que metade de todos os americanos de 20 e poucos anos não levaram ninguém para a cama ano passado. Menos "Netflix and chill" e mais, bom, só Netflix mesmo.

Foto via usuário do Flickr Jes.

Se isso não é culpa da molecada, então como explicar o aumento? Para algumas doenças, não há resposta fácil. Vendo as tabelas de infecção por clamídia na Inglaterra desde o começo dos anos 2000, parece que houve uma grande aumento — em 2005 eram cerca de 200 casos para cada 100 mil pessoas, mas em 2008 já eram mais de 350. Em 2005, o Serviço de Saúde Nacional do Reino Unido (NHS) lançou o Programa Nacional de Triagem de Clamídia. Com mais pessoas fazendo o teste para a doença, mais casos foram encontrados, e por isso os gráficos mostram um grande aumento.

Outras condições parecem bem menos claras — a razão pode ser diferente de doença para doença, e a situação em Hackney pode ser motivada por fatores diferentes da situação em Cheshire, por exemplo. Mas de uma coisa a gente sabe: com mais pessoas fazendo os testes, menos pessoas são infectadas — é por isso que os médicos disseram ao Guardian que o corte de £40 milhões que o governo britânico fez nos serviços públicos de saúde sexual vai resultar numa "explosão" de novas infecções.

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Sabemos que é isso que acontece quando você diminui o financiamento para serviços que tratam DSTs porque já vimos isso em outros lugares — cortes nas clínicas em Nova York contribuíram para um aumento de 60% nos diagnósticos de gonorreia nos cinco anos anteriores a 2014. E isso certamente vai representar mais gastos no tratamento de gonorreia do que o que foi economizado com os cortes.

E essa nem é a pior parte. Todas essas doenças não tratadas estão evoluindo, e rápido. Novas cepas de gonorreia estão aparecendo, cepas resistentes aos antibióticos que antes tratavam a doença. Um surto de "supergonorreia" apareceu em Leeds ano passado, e os dois principais antibióticos usados para tratar isso não são mais efetivos.

Você pode achar que gonorreia não é um problema tão grande assim, mas isso porque a doença tem tratamento. Sem tratamento, essa pode ser uma doença séria que realmente prejudica a vida, esterilizando homens e mulheres e fazendo a gravidez se desenvolver fora do útero. Mais drogas estão em desenvolvimento, mas se queimamos os tratamentos mais rápido do que podemos inventá-los, o cenário parece sombrio.

Então esse é o nosso futuro: uma terra arrasada pós-industrial cheia de doenças sexualmente transmissíveis resistente a drogas. Nossa esperança é que na época em que as coisas chegarem a esse ponto, nossos netos estarão mais preocupados com os emojis do iPhone 42s do que com essa bobagem de sexo.

Matéria original da VICE Reino Unido.

Tradução: Marina Schnoor