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Australianos Viciados em Heroína não Podem Usar Ibogaína para Largar a Droga

A planta milagrosa que muitos afirmam ser a resposta definitiva para o vício em heroína continua banida na Austrália.

Como você deve ter aprendido em Trainspotting, a parte mais difícil de largar a heroína é passar pela síndrome de abstinência. É por isso que os médicos receitam metadona para os usuários – a ideia é aplacar a intensa necessidade fisiológica de heroína do corpo. Claro, a metadona também é um opiáceo; então, ela não anula realmente a fissura. Só leva muito mais tempo para o corpo metabolizar a metadona; assim, o usuário pode ter uma vida funcional entre as doses. Mas há uma droga que tem conseguido lidar com a fissura e a abstinência, e não é um opiáceo. O problema é que essa droga é uma planta psicotrópica altamente controversa e ilegal.

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A ibogaína, de que já falamos aqui na VICE, é uma droga extraída da casca da raiz de um arbusto do oeste africano chamada Tabernanthe iboga. Seus efeitos exatos ainda são pouco conhecidos – exceto seu efeito mais importante: a ibogaína reduz drasticamente a ânsia por heroína enquanto manda o usuário numa viagem dissociativa que dura até 72 horas. Esse último aspecto fez a droga ganhar seguidores new age da mesma maneira que o peiote.

Algumas clínicas underground de reabilitação que oferecem tratamento com ibogaína operam internacionalmente, mas a única clínica da Austrália fechou em 2010. Foi quando o proprietário, conhecido apenas como Jasen, foi trabalhar na Nova Zelândia, onde a ibogaína não é tão regulada. Depois que uma paciente sofreu um ataque cardíaco durante a terapia com a droga, Jasen retornou a Austrália em 2013. E, apesar da tragédia, ele parece mais convencido do que nunca do poder da ibogaína.

"A taxa de sucesso é impressionante", Jasen exclamou pelo telefone. Ele explica que, aos 38 anos, a ibogaína o ajudou a superar a heroína depois de praticamente uma vida inteira de vício. Isso o colocou no caminho da defesa da droga; hoje, ele continua a fornecer ibogaína para viciados. "As pessoas me ligam, e eu coloco tudo na mesa", ele diz. "O que eles estão prestes a tomar é um remédio muito, muito sério."

Jasen descreve a ibogaína como "pesada, mas maravilhosa" e me conta que, depois de uma única dose, os pacientes não dormem por dias.

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Frequentemente confundida com um alucinógeno, os círculos etnoquímicos se referem à ibogaína como um onirógeno: uma substância que causa sonhos lúcidos. A experiência tem a reputação de ser extremamente intensa e forçar períodos longos e frequentemente dolorosos de autorreflexão. Jasen descreve a ibogaína como "pesada, mas maravilhosa" e me conta que, depois de uma única dose, os pacientes não dormem por dias e ficam exaustos por várias semanas. E são a intensidade e as complicações de saúde associadas à experiência que tornam a droga tão polêmica.

Na Austrália, a ibogaína é classificada como uma droga em nível 4, significando que ela não pode ser importada ou administrada sem uma licença garantida pela Administração de Bens Terapêuticos (TGA). Atualmente, os australianos precisam importar ibogaína ilegalmente ou viajar até a América Central ou Tailândia, onde a distribuição é regulamentada e o tratamento pode custar mais de US$ 10 mil.

Um interesse renovado em ibogaína durante o meio dos anos 90 mostrou sua eficiência como assassina de vício, mas também a conectou a algumas mortes. Em outubro do ano passado, um australiano morreu na Tailândia enquanto passava por uma terapia com ibogaína. Sua namorada contou que ele se debateu na cama do hotel até sufocar. "Ele estava com falta de ar", ela disse à Fairfax, "e, de repente, parou de respirar. Ele estava olhando para mim com os olhos completamente abertos." O americano dono da clínica afirmou que o homem morreu de uma overdose de metanfetamina, o que a namorada nega.

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E esse não foi um caso isolado. Como um estudo alemão de 2006 sobre ibogaína mostrou, "O núcleo cerebelar responde a pequenas doses com um estímulo do sistema simpático, levando a uma reação de luta ou fuga. Altas doses, no entanto, levam a uma dominância vaga, ou uma 'morte simulada". Em outras palavras, a viagem de ibogaína é tão intensa que coloca seu corpo perto do mesmo estresse de uma experiência de quase morte.

Dr. Steven Bright, psicólogo e coordenador de Estudos de Vício na Curtain University, reconhece os perigos, mas acredita que eles são superados pelos benefícios. Segundo ele, o único motivo para a proibição da ibogaína na Austrália é uma falta de pesquisas sobre drogas controversas. "Estamos realmente atrás quando se trata de pesquisa psicodélica", ele frisa. "Há uns 12 ou 15 estudos pelo mundo agora, e não temos um único teste clínico iniciado na Austrália."

Brights explica que a falta de testes é o que coloca a ibogaína numa situação ardil 22. Sem pesquisa, a única informação sobre a droga é a anedota do mercado não regulado. Essas histórias de terror não fazem avançar o caso para testes nem fornecem qualquer dado útil. Como ele diz, "companhias farmacêuticas realizam testes para demonstrar a segurança e eficiência de suas drogas, mas, sem testes clínicos, não há evidências para usar isso como produto terapêutico".

Jasen recomenda às pessoas que o contatam uma lista de clínicas estrangeiras que operam com o mínimo de segurança. Além disso, ele espera conseguir uma licença para importar e administrar ibogaína no futuro. "Não importa se isso é legal ou não", ele destaca. "Só gostaríamos de uma licença para importar e administrar a droga, mesmo se isso tiver de ser feito por médicos. Tudo bem – desde que a ibogaína esteja disponível para os australianos."

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Tradução: Marina Schnoor