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Os eleitores colombianos rejeitaram o histórico acordo de paz do governo com as FARC

Numa verdadeira reviravolta, o acordo que terminava com 52 anos de ações violentas dos rebeldes foi rejeitado durante um referendo.
Foto por Ariana Cubillos/AP.

No último domingo (2), os eleitores colombianos rejeitaram o histórico acordo de paz que deveria acabar com a guerra entre o maior grupo rebelde da Colômbia e o governo, um conflito que já dura mais de 50 anos.

O acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionária da Colômbia, as FARC, porém, não foi aprovado por uma diferença de 0,5% da votação, o equivalente a 61 mil votos, num referendo.

As pesquisas mostravam uma vitória fácil do "sim", defendido tanto pelo presidente Juan Manuel Santos quanto pelos líderes das FARC, que tinham realizado um congresso mês passado comemorando sua transformação iminente num partido político.

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Agora, no entanto, o resultado chocante jogou o país na incerteza.

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Santos e um líder das FARC conhecido como Timochenko assinaram cerimoniosamente o acordo no último dia 26 de setembro, diante de um público formado por 15 presidentes, o secretário da ONU Ban Ki-moon e o secretário de Estado americano John Kerry.

Com o mal-estar ainda se instalando, Santos pediu uma reunião de emergência dos maiores negociadores e chefes de segurança do país. Depois ele deu uma declaração breve à imprensa aceitando a derrota nas urnas, mas disse que o atual cessar-fogo com as guerrilhas continua.

A oposição ao acordo de paz, que levou quatro anos para ser negociado, foi liderada pelo ex-presidente Alvaro Uribe, que dizia que o tratado permitia que os rebeldes não respondessem pelos crimes cometidos durante o conflito. O acordo prometia tribunais especiais e garantias de que os rebeldes pudessem confessar seus crimes para evitar sentenças de prisão.

A guerra com as FARC é a mais longa e intensa dos vários conflitos na Colômbia, que juntos são culpados pelas mortes de cerca de 220 mil pessoas e deslocamento de outras sete milhões. Os rebeldes são responsáveis por muita da violência no país, mas as piores atrocidades foram cometidas por grupos paramilitares e forças do governo apoiadas pelos EUA.

Os oponentes do acordo de paz também argumentaram que os negociadores do governo eram ex-combatentes das FARC que financiaram sua luta com tráfico de cocaína e impulsionaram suas carreiras políticas com dinheiro sujo.

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As FARC surgiram durante um levante de camponeses em 1964, no começou da primeira onda de rebeliões marxistas na América Latina. Quase todos esses grupos eventualmente seriam desmantelados ou transformados em partidos políticos.

O acordo colombiano visava abrir caminho para essa metamorfose das FARC, começando com a concentração de seus sete mil combatentes restantes em zonas monitoradas pela ONU, pensadas para servir como casas de passagem para a vida civil. Com o governo e os rebeldes tratando o referendo mais com uma formalidade, o processo até já tinha começado.

Agora as FARC, o governo e o povo colombiano encaram um futuro desconhecido. Comentaristas do canal colombiano TV Caracol apontaram que agora tudo depende de como as FARC irão reagir ao resultado.

"As FARC reiteram sua disposição de usar apenas palavras como armas para construir o futuro", disse Timochenko ao canal, em sua primeira, apesar de vaga, resposta ao referendo. "Os colombianos que sonham com a paz podem contar conosco, a paz triunfará."

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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