Fotos que capturam o absurdo da vida cotidiana

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Fotos que capturam o absurdo da vida cotidiana

O fotógrafo norte-americano Darin Mickey fala como registra pequenas coisas peculiares ou que estão fora do lugar.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

Darin Mickey vive em Nova York, onde é fotógrafo e professor do Centro de Fotografia do Cooper Union. Ele já fez algumas exposições solo e coletivas pelo mundo todo, já foi publicado pela New York Times Magazine e a Washington Post Magazine, seu trabalho está nas coleções permanentes do Brooklyn Museum e Museet for Fotokunst na Dinamarca. Seu livro mais recente, Death Takes a Holiday, foca em lojas antigas de discos do nordeste dos EUA.

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As fotos de Mickey capturam coisas ordinárias de jeitos estranhos. Ele diz que tenta olhar "intensamente para coisas que consideramos garantidas" até ver "algo mais".

Darin Mickey quando criança. Foto cortesia do artista.

VICE: Onde você mora e trabalha, e como isso influencia sua fotografia?
Darin Mickey: Sou de Kansas City, mas moro em Nova York há 24 anos. Morar aqui, e interagir com pessoas num ambiente urbano, definitivamente molda minha perspectiva como ser humano. Mas isso pode não ser tão óbvio nas minhas fotos, em seu conteúdo e contexto. Gosto de tirar fotos em estados diferentes e países diferentes. Quando faço fotos de Nova York, elas geralmente não revelam muito de um senso específico de lugar. Mas financeiramente, estar em Nova York tem um impacto no meu trabalho, já que o custo de vida aqui saiu do controle. Não posso pagar um estúdio, então imprimo minhas fotos num tamanho menor do que fazia no passado.

Como você começou a fotografar?
Quando estava no colégio, eu gostava muito de skate e punk rock. Então as fotos que eu via na Thrasher e na Maximumrocknroll me fizeram querer ficar atrás da câmera. Minha professora de fotografia também tinha um gosto ótimo. Ela trazia livros de Diane Arbus, Birney Imes e Helen Levitt para as aulas. Ver esse tipo de trabalho no relativo isolamento do Kansas abriu meu mundo.

Death Takes a Holiday

O que te estimulou a pegar a câmera?
Curiosidade, dúvida e uma busca por questões com respostas impossíveis.

No que você está trabalhando agora?
Acabei de terminar meu segundo livro, Death Takes a Holiday, que foca em algumas lojas de discos antigas e um tanto obscuras, principalmente no nordeste do país, e as comunidades que as cercam. Também tenho fotografado muito no Japão. Minha esposa é de lá e viajamos para o país sempre que possível. Faz uns dez anos que viajo para lá, mas só recentemente consegui fazer fotos onde sinto que vou além das impressões superficiais. Também fotografo coisas que acho intrigantes, mas não se ligam necessariamente a nenhum projeto específico. Essas vão para caixas que deixo fermentando por um longo tempo, até poder vê-las mais claramente.

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Se você tivesse que explicar seu trabalho para uma criança, como você o descreveria?
É como olhar para o seu dedão por muito tempo até ele começar a parecer um pouco estranho. Olhar intensamente para coisas que consideramos garantidas e ver algo mais.

Death Takes a Holiday

Você consegue viver de fotografia?
Nos últimos 20 anos, tenho sorte de conseguir ganhar a vida (mesmo que de um jeito meio pobre) sempre com algo ligado a fotografia. No final dos anos 90, começo dos 2000, trabalhei como impressor analógico de fotos coloridas. Eu fazia exposições para pessoas cujo trabalho eu admirava, como P.L. DiCorcia, Roni Horn, Justine Kurland e um punhado de outros artistas. Aprendi muito tendo que interpretar o trabalho de outros fotógrafos na sala escura, examinando suas abordagens variadas. Também fotografei editoriais para revistas por alguns anos, o que eu gostava muito. Tenho ensinado fotografia desde 2001. Ensinar me mantém em alerta e me obriga a reavaliar e cultivar meus pontos de vista sobre a vida. Isso com certeza informa minha própria prática artística. Se digo aos alunos que eles precisam se arriscar com seu trabalho e aprender com os erros, isso me lembra de continuar fazendo o mesmo.

Qual a imagem pela qual você é mais conhecido? O que você acha dela?
Acho que não tenho uma. Se tenho, ninguém chamou minha atenção para ela ainda. Acho que é seguro dizer que nenhuma das minhas fotos pode realmente ser considerada icônica.

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Death Takes a Holiday

O que te frustra na fotografia?
Muita coisa que pode ser considerada frustrante na fotografia também é o que torna o meio tão envolvente. O modo como a fotografia pode comunicar informação, muitas vezes em fragmentos desconjuntados, sempre foi algo incrível para mim.

Fale sobre seu processo de trabalho.
É bem variado. Pode ser andar por uma rua pela qual já passei centenas de vezes, ou ia a um lugar onde nunca estive antes. Pode ser me encontrar com pessoas rapidamente e pedir para tirar uma foto delas, ou voltar para fotografá-las várias vezes. Mas me esforço para sair e trabalhar. Não posso ficar sentado em casa esperando a inspiração aparecer. Me distraio muito facilmente com outras coisas.

Death Takes a Holiday

Descreva sua abordagem para estabelecer uma relação com um tema.
Novamente, isso varia. Com Death Takes a Holiday, eu gostava de aparecer nas lojas de discos e falar com as pessoas — alguns donos dessas lojas estão no negócio desde os anos 60, e muitos colecionadores são obcecados. Gosto de fazer perguntas e ouvir as histórias das pessoas. As histórias me deixam mais calmo quando estou tirando fotos das pessoas. Pelo menos eu acho.

O que você acha do oceano de fotos que existe na internet?
Gosto do Instagram como um lugar para compartilhar fotos aleatórias que faço com meu celular. É legal se comunicar com as pessoas em pequenas explosões de imagens que não precisam de muito investimento. Mas não quero perder tempo com muitas distrações das redes sociais, então uso isso como um escape limitado — e também limito meu tempo na internet. Recentemente tirei muito do meu trabalho do meu site e substituí por links dos meus livros e projetos musicais. Não ligo mais para ter um monte de imagens na internet só para parecer prolífico, especialmente de trabalhos que ainda estão evoluindo. Dito isso, acho que não tenho exatamente uma abordagem para me destacar online.

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Death Takes a Holiday

Death Takes a Holiday

Do que você mais tem orgulho no seu trabalho?
Quando levei para o meu pai uma cópia do meu primeiro livro, Stuff I Gotta Remember Not to Forget, e depois de passar pelas páginas, ele disse "É, agora intendi".

O que você faz quando não está fotografando?
Além de fotografia, faço música. Toco guitarra desde os dez anos e ainda adoro tocar. Tenho uma banda chamada Soft Gang. Lançamos nosso primeiro disco junho passado pela Sophomore Lounge Records, um pequeno selo gerenciado por artistas de Louisville.

Como você vê o futuro da fotografia?
Não faço ideia, e considerando a situação atual, com aquele babaca laranja na Casa Branca, estou mais preocupado com o futuro da humanidade do que com o futuro da fotografia.

Death Takes a Holiday.

Diga três fotógrafos contemporâneos que te impressionam.
Cuny Janssen, Mark Steinmetz e Motoyuki Daifu.

A pergunta mais importante de todas: cachorro ou gato?
Os dois! Amo meu gato, mas também acho cachorros incríveis. Agora estou obcecado por labradores chocolate por alguma razão. Adoro que os animais não se importam com coisas como dinheiro, classe ou política. Talvez eles tenham um ângulo melhor das coisas que os humanos?

Veja mais do trabalho do Mickey abaixo.

Death Takes a Holiday

Death Takes a Holiday

Death Takes a Holiday

A Different Kind of Tension

A Different Kind of Tension

A Different Kind of Tension

A Different Kind of Tension

A Different Kind of Tension

Sem título

Stuff I Gotta Remember Not to Forget

Sem título

Sem título

Tradução: Marina Schnoor

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