Assista ao nosso documentário sobre a explosão do 150 BPM:
Nos pátios dos batalhões, a ordem já chegou aos ouvidos dos policiais militares: o governador mandou acabar com o baile. A notícia correu as ruas do subúrbio carioca e os grupos de bairro no Whatsapp.
A bandoleira que sustenta o fuzil se mistura visualmente com os grossos cordões. O boné é acessório opcional, mas o ‘copão’ de bebida é obrigatório na ‘postura’ de um traficante no baile. Meio por diversão, meio a trabalho, eles estão presentes, é claro, seja na Gaiola, no Baile da Colômbia, e em outras dezenas de bailes nas favelas. Mas, por que operações estão sendo programadas justamente para a hora dos bailes? A pergunta foi feita para policiais militares, ‘envolvidos’, DJs e produtores. A resposta parece seguir um único caminho: o algoz não é o tráfico, mas o baile funk. “O governador foi quem proibiu esse baile (da Gaiola). Geralmente, quem vai nessas operações policiais é o Bope ou o Choque, porque a repressão é muito forte. Esse mês, para acabar com o baile funk, foram feitas muitas operações no momento em que acontecia. Essa é a ordem do governador. A dinâmica é essa”, explicou um policial militar que pediu para não ser identificado. “O baile funk dá um retorno absurdo para o tráfico, tanto em venda de entorpecente quanto em bebida. Mexe no comércio todo, mas influencia muito no tráfico. Na prática, o Baile da Gaiola só pode funcionar se o 16º Batalhão da PM (Olaria) permitir”, comentou o militar. Segundo ele, a Gaiola e outros bailes só funcionam porque repassam parte do dinheiro ao batalhão local - o famoso ‘arrego’.A ordem já chegou aos ouvidos dos policiais militares: governador mandou acabar com o baile.
Baile da Colômbia. Nos bailes cariocas, a moda é o 'copão' de bebida - com enérgico ou cerveja - sempre na mão. Fotos: Clara Sthel/VICE.
A promissora carreira do jovem DJ Gustavo Mix, de apenas 20 anos, já acumula apresentações em comunidades da Baixada Fluminense e nas favelas do Complexo do Chapadão, na Zona Norte. Mas, com o enfraquecimento dos bailes, ele tem buscado alternativas para não se ver sem grana. Ele já até precisou voltar pra casa mais cedo porque o baile em que ia tocar fora cancelado por conta de uma incursão policial. “Recebo muitos convites de amigos para tocar aqui e ali. Mas, já cheguei para tocar uma vez no Chapadão e havia sido cancelado por causa de uma operação policial. Por isso a gente tenta correr para se virar, correr por fora pra fazer uma grana. Tento fazer algo que seja fora dessa parte. Se for preciso, até um terreno eu capino, sem problemas”, disse Gustavo Mix, um entre tantos que querem seguir os traços de carreiras bem sucedidas como a de Rennan da Penha. “Tem muitos DJs que dependem de um evento como um baile de comunidade para poder trabalhar e tirar uma renda para ajudar nas contas de casa, ou até para se alimentar”, reforçou."Para quem está de fora, todo e qualquer tipo de comércio está relacionado ao tráfico. Na minha época de barraqueiro, quem pagava equipe de som e DJ éramos nós."
As equipes de som e a estrutura do evento normalmente são pagas pelos ambulantes do baile, e não pelos traficantes. Baile da Colômbia. Fotos: Clara Sthel/VICE.
O problema é o funk e o funkeiro
Os bailes grandes contam com várias 'lonas', e cada uma delas abriga uma equipe de som diferente. Baile da Colômbia. Fotos: Clara Sthel/VICE.
Entre boas ações e polêmicas, quem é Rennan da Penha?
DJ Rennan da Penha no Baile da Gaiola. Foto: Matias Maxx/VICE.