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Todos os caminhos vão dar a "Roma" ou "Green Book", "The Favourite" e "Vice" vão “roubar” a estatueta para Melhor Filme?

Vi os oito candidatos ao principal troféu dos Óscares 2019 e, claramente, só estes quatro têm estaleca para terem o nome no derradeiro envelope.
Mahershala Ali​, Yalitza Aparicio e Rachel Weisz oscares 2019
(Da esq. para a dir.) Mahershala Ali, Yalitza Aparicio e Rachel Weisz. Excelentes performances em "Green Book", "Roma" e "The Favourite", respectivamente. (Imagens cortesia Universal Pictures, Netflix e Fox Searchlight Pictures)

Para quem a noite mais aguardada de Hollywood está associada a uma madrugada mal dormida, há dois episódios que jamais esquecerei na categoria de Melhor Argumento Original. Em 1995, quando Quentin Tarantino venceu com Pulp Fiction e, em 2004, graças a Lost in Translation, de Sofia Coppola. Arrisco dizer que muitos que seguem os Óscares nas últimas três décadas – num acontecimento que vai para a sua 91ª edição -, terão ficado satisfeitos ao ver estas obras premiadas. Dois excelentes realizadores e dois enredos marcantes que, geralmente, estão numa “must see list”.

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Desde a obra que rejuvenesceu as carreiras de John Travolta e Bruce Willis ou catapultou os nomes de Samuel L. Jackson e Uma Thurman, houve oito consagrados na mesma categoria que merecem o meu júbilo (além do citado O Amor é Um Lugar Estranho - título em português -, com incidência em Tóquio). Falo de Fargo (1997), American Beauty (2000), Habla com Ella (2003), Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2005), Juno (2008), The Hurt Locker (2010), Her (2014) e Get Out (2018).

Na madrugada da próxima segunda-feira, 25 de Fevereiro (à uma da manhã, com transmissão em Portugal na FOX e FOX Movies), dos cinco candidatos a disputar a originalidade no Argumento, há quatro que estão na corrida para Melhor Filme. Porventura, são os favoritos para alcançar a estatueta primordial. Ou seja, Green Book (que ao todo tem cinco nomeações), Roma (dez), The Favourite (dez) e Vice (oito). Primeiro, tratemos do resto da concorrência.

Os quatro “Bês” com poucas hipóteses de levar o Óscar mais desejado

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Há uma década parecia impossível ter super-heróis no lote de candidatos a Melhor Filme. "Black Panther" veio mudar esse cenário. (Cortesia Walt Disney Studios Motion Pictures)

Não vale a pena estarmos com rodeios. A aprovação da lista final pela Academia depende de várias “palmadinhas e doces” nos bastidores (vulgo lobby), que a maior parte de nós desconhece. Daí, é sem admiração que aparecem produtos apáticos como A STAR IS BORN (que devia ter sido substituído por First Man). Tudo soa a forçado neste filme que nem a aceitável performance de Lady Gaga – que pela primeira vez faz com que uma nomeada para Melhor Actriz seja, no mesmo ano, indicada para a autoria da Canção - , salva a honra do convento. Sejamos honestos. Se queres um drama credível que abarque, por exemplo, a temática do vício do álcool, nada como rever Leaving Las Vegas (lançado em 1995) com Nicolas Cage e Elisabeth Shue.

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BOHEMIAN RHAPSODY é outro nomeado improvável e só se justifica por dois motivos. Revela o trajecto dos virtuosos Queen, sem cair na tentação de arruinar os temas (seria um atentado se houvesse reinterpretações por parte do elenco); e mostra um desempenho bonzinho de Rami Malek - o protagonista da série Mr. Robot - ao salientar as virtudes e fraquezas de um dos maiores entertainers em palco chamado Freddy Mercury.

Subindo a parada, BLACKKKLANSMAN (O Infiltrado) é uma paródia com elementos de seriedade onde um telefonema, entre um detective negro e um dos membros-chave do Klu Klux Klan, despoleta uma investigação intensiva ao movimento racista. Como não podia deixar de ser, Spike Lee (também nomeado para Melhor Realizador) aproveita esta narrativa inspirada em eventos verídicos para deixar a sua marca na questão racial, mas nem de perto nem de longe é uma das suas melhores “empreitadas”.

Contrariamente ao que se julgava possível, BLACK PANTHER entra no grupo de eleitos. Sinceramente, não me choca. Com o avolumar do êxito de bilheteiras de obras sobre super-heróis, era plausível que um dia uma destas estórias furasse a principal passadeira vermelha de Los Angeles. Sendo eu avesso aos blockbusters, tenho de admitir que as baixas expectativas que tinha em relação à película da Marvel - e da sua tribo T’Challa - foram largamente ultrapassadas. No capítulo das nomeações, Black Panther conta com sete, A Star is Born com oito, BlaKkKlansman com seis e Bohemian Rhapsody com cinco.

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Vai a carinhosa e sofredora empregada doméstica bater o livro verde (com uma intenção absurda), a rainha dividida e o “CEO” do governo do Bush filho?

ROMA é considerado favorito por ter vencido na principal categoria em vários prestigiados certames, como os Bafta ou os Critic's Choice Awards (ver trailer acima). Depois de ter sido um dos produtores do belíssimo Labirinto do Fauno (2006) e de ter dirigido, entre outros, os honrosos Y Tu Mamá También (2001) e Gravity (2013), o cineasta Alfonso Cuáron regressa às origens.

Aproveitando as reminiscências do seu passado, evoca um pouco da realidade do México nos anos 70, centrando a acção numa família de classe média alta e, sobretudo, numa das serviçais. A surpreendente Yalitza Aparicio é Cleo, a empregada doméstica que enquanto cuida da casa e mima os quatro filhos, assiste ao desabar da relação entre os seus patrões e o desmoronar da sua vida pessoal (fora do ecrã, a primeira indígena nomeada, admite ter receado que o casting para este trabalho estivesse ligado a um esquema de tráfico humano).

Ao longo de um filme apresentado a preto e branco, a protagonista nunca abandona a aura ternurenta e quando o sofrimento lhe entra pelo coração adentro, só nos apetece confortá-la. Ali, na situação mais poderosa de Roma (nome retirado de um bairro local). Que o mar lhe devolva a salvação…

Cuáron deve ser o “dono” da estatueta entre os realizadores, mas não é certo que o primeiro nomeado “made in” Netflix, no item de Melhor Filme, veja o nome inserido no último envelope da noite. GREEN BOOK – ver o clip acima – é, talvez, a maior “ameaça” a uma vitória mexicana (para mal dos pecados do intragável Trump). Baseado na incogitável amizade entre o reputado pianista com origem jamaicana, Don Shirley (o actor Mahershala Ali - o Óscar de Actor Secundário é dele?), e o seu motorista italo-americano, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), o enredo leva-nos a uma viagem sensível que mudou a vida dos dois, em 1962.

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Choque de realidades, destruição de estereótipos, como escrever cartas de amor ou amostras de formosos excertos musicais, são alíneas que ajudam a conquistar o afecto do espectador. O filme de Peter Farrely (que em 1998 dirigiu o hilariante There’s Something About Mary) pode ter cenas previsíveis, mas não deixa de cintilar esperança. Toma nota: se ainda não puseste os olhos nisto, vais ver que a razão de ser do denominado “livro verde” é um absurdo.

THE FAVOURITE é a comédia negra de que nem tu sabes que precisas nestas primeiras semanas de 2019 (clicar no trailer acima). Este é outro argumento que assenta em factos verdadeiros, onde brilham três actrizes nomeadas. Com estilos diferentes, Olivia Colman (que será a rainha Elizabeth II na terceira temporada da série The Crown), Rachel Weisz e Emma Stone, formam um trio empolgante.

Olivia é a rainha Ana que, durante uma guerra com a França - corria o ano de 1708 - e devido a uma saúde frágil, deixa as grandes decisões nas mãos da duquesa Sarah Churchill (Weisz) com quem partilha sessões calorosas de intimidade. Quando a prima de Sarah chega à procura de emprego (Stone no papel de Abigail Hill), a monarca começa a repartir as atenções entre as duas e o jogo “eu sou a melhor para ti” começa. The Favourite está repleto de ciumeira, tácticas insidiosas e conta com dezassete coelhos à solta…

Com menos possibilidade de arrecadar o Óscar mais ambicionado de todos, VICE é, porém, uma forma válida (e com passagens jocosas) de olharmos para o horrível período em que a Casa Branca foi tomada pelo bronco George W. Bush (mandato entre 2001 e Janeiro de 2009) – ver vídeo abaixo. Com um Christian Bale irreconhecível (engordou dezoito quilos para este brilhante desempenho merecedor de Óscar; ao contrário dos vinte e oito que emagreceu para O Maquinista, em 2004), vemos a ascensão de Dick Cheeney na vida político-social norte-americana e como decide o que é indispensável (a seu ver) enquanto número dois de Bush.

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Cheeney é uma espécie de CEO que não precisa de dar grandes explicações a um presidente com menos experiência a nadar entre os tubarões da política, da indústria da guerra, do negócio do petróleo ou da finança. E quando o 11 de Setembro acontece, o poder deste “VP” torna-se incomensurável. O Mundo ainda sofre com as suas terríveis decisões. Haja coração.

Mais informações sobre os ÓSCARES 2019, que não vão ter um apresentador fixo (mas sim blocos com vários diferentes), no site oficial.


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