Os atuais dados relacionados ao HIV na África Subsaariana são nada bons. A região, que compõe a maior parte do continente africano, contou com 1,5 milhão de novos casos de HIV em 2013. No mesmo período, foram 1,1 milhão de mortes ligadas ao vírus. Na Suazilândia, a prevalência do HIV é assustadora: quase um terço de seus habitantes foram infectados e apenas 40% deles recebem tratamento. A situação, ao que parece, só piorará.
Pesquisadores da Faculdade TH Chan de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, calcularam os custos de manutenção do controle e tratamento do HIV em nove países subsaarianos, de 2015 até 2050, e revelaram que, para manter os atuais programas (inadequados) de tratamento, serão necessários 98 bilhões de dólares.
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Esse valor aumenta para 261 bilhões de dólares caso mais medidas sejam tomadas. A região não dispõe do dinheiro, o que levará seus habitantes a um futuro penoso caso não surjam logo fontes dedicadas de financiamento.
O trabalho dos pesquisadores de Harvard foi publicado recentemente no BMJ Open, em pesquisa liderada por Rifat Atun, professor de sistemas de saúde globais em Harvard.
“Há uma responsabilidade ética em financiar aqueles que recebem tratamento antirretroviral e não abandoná-los”
Atun e sua equipe observaram a situação atual de financiamento e recursos dos nove países mais afetados pela epidemia de HIV:Etiópia, Quênia, Malaui, Nigéria, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue. Juntos, eles respondem por 70% do fardo do vírus na África.
Com ferramentas fornecidas pela UNAIDS, eles puderam criar modelos das necessidades financeiras de tais países em quatro diferentes cenários, incluindo a ampliação de programas para o oferecimento de tratamento antirretroviral de todos os infectados.
É essa projeção que envolve o custo de 261 bilhões. Os pesquisadores sugerem que tal valor, caso seja possível obtê-lo, precisará ser usado “no início” e não distribuído ao longo dos anos. Isso ajudará a reduzir a transmissão do HIV no curto prazo e reduzirá quaisquer obrigações orçamentárias a longo prazo.
Nos últimos anos, o financiamento do tratamento de HIV na África mudou das mãos de doadores internacionais para fontes domésticas. A África do Sul, por exemplo, financia quase todos seus programas sem apoio externo. Quênia e Zâmbia estão no mesmo caminho.
Isso cria uma situação possivelmente precária. Caso o tratamento e prevenção do HIV não seja ampliado no futuro imediato, países que lutaram para chegar até aqui acabarão sofrendo duros golpes. Para que tais esforços se mantenham sustentáveis, a injeção financeira tem que acontecer nos próximos cinco anos.
De acordo com Atun e sua equipe, a África Subsaariana precisará de ajuda externa. “O problema do financiamento previsível e sustentável deve ser resolvido”, conclui o estudo. Há uma responsabilidade ética em financiar aqueles que recebem tratamento antirretroviral e não abandoná-los à morte.”
Tradução: Thiago “Índio” Silva