O Etsy é uma verdadeira cornucópia de produtos DIY feministas, incluindo bolsas para copos menstruais em forma de útero feitas em crochet, vários broches “CRUSH THE PATRIARCHY” (Abaixo o patriarcado), e um vasto mundo de botões adornados com mensagens encorajadoras.
Com ânimo explorador, a VICE contactou com alguns dos mais intrigantes e produtivos artistas que curtem vulvas, para conhecer os segredos do seu ofício.
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Imagens via Facebook.
ARTISTA: Dorrie Lane
LOJA: Wondrous Vulva Puppet
PREÇO: $85 por um mini peluche – $250 por um peluche grande feito de angora.
SOBRE: A Dorrie criou a sua primeira vulva nos anos 90, para ajudar a sua filha adolescente a sentir-se bem com a sua anatomia. A vulva foi um sucesso na escola (as vulvas têm esta particularidade), por isso a Dorrie decidiu fazer mais. O negócio expandiu-se rápido, e ela começou a vendê-las a educadores e terapeutas sexuais, ou entusiastas dos genitais. Como era de esperar, apareceram num episódio de Portlandia.
VICE: Que objectivo tens, quando crias estas “Vulvas Maravilhosas”?
Dorrie Lane: Quando comecei a fazê-las o objectivo principal era poder encontrá-las em cada loja, ao lado da Barbie. Quero que saiam à rua e se tornem mainstream.
Os filhos dos meus amigos foram criados com vulvas de peluche. Estas crianças têm experiências positivas no que diz respeito a entender a sexualidade, e isso contribui ao respeito que se tem pela mulher. Eles percebem que é dali que toda a gente vem. O respeito nasce dessa ideia, e a essa ideia deve voltar. Esta é a minha mensagem.
Fala-me sobre o design das vulvas de peluche.
Para mim era muito importante que a vulva fosse anatómicamente correcta, que fosse agradável. Quando lhe tocas sentes que está feita de veludo. Tem uma textura parecida à de uma vagina. E o ponto G está feito com fitas. Quando pões o teu dedo lá dentro podes sentir esta variação. Este objecto encoraja as mulheres a conhecer os seus corpos. De verdade. E leva os homens a colocar questões sobre o funcionamento do clitóris e sobre o que dá prazer às mulheres.
E nunca pensaste em fazer uma pila de peluche?
Tenho uma em progresso. Assim que tenha tempo termino-a. Será algo inaudito.
Achas mesmo que os homens precisam de ajuda com as suas pilas?
Acho que os homens precisam de compreender a beleza dos seus genitais. O pénis de peluche que eu estou a fazer é responsivo. Os testículos retraem-se quando o pénis está erecto. Podes brincar com ele de diferentes formas, como com a vulva de peluche. Se podes brincar com ele, então é um brinquedo.
A ideia é muito semelhante à da vulva. Bonito e anatómicamente correcto. Para mim é realmente uma forma de entender a sexualidade, diferente da que se pratica hoje em dia. (Não sei bem como é). Trata-se de sentir-se confortável com uma parte do nosso corpo que, na cultura americana, é completamente reprimida.

Imagens via Etsy.
ARTISTA: Kira
LOJA: Scarlet Tentacle
PREÇO: $170 – $225
SOBRE: A Scarlet Tentacle foi criada em 2009. Desde então, a Kira vende bordados de vulvas, livros sexy para colorir, e postais.
VICE: Como é que começaste com o tema das vulvas?
Kira: Trabalhava no departamento de marketing de um distribuidor de pornografia, mas fartei-me daquilo. Eu era a única mulher num departamento cheio de homens. Homens estes que ganhavam umas quantidades incríveis de dinheiro através desta indústria, e que ao mesmo tempo denegriam e gozavam com as mulheres que participavam nela. Ou seja, as interlocutoras dos produtos que eles vendiam. A minha visão utópica de sexo em positivo estava muito longe de ser verdade.
Comecei a bordar vulvas como resposta directa a esse ambiente. Queria fazer algo completamente inesperado e impactante, mas que não fosse julgado pelo sexo, o seu mundo e os seus trabalhadores. A combinação de arte, vulvas e bordado encaixava nesse perfil.
O que é que te levou ao bordado?
Não só a ideia de criar vulvas como arte, mas também de usar um meio super associado à mulher, como é o caso do bordado. Foi muito apelativo para mim. Um bordado é algo que demora muito tempo a ser produzido, e criar uma peça que exige tanto esforço pareceu-me uma boa maneira de responder à forma como tratam os trabalhadores do sexo, como se fossem de usar e deitar fora.
Também queria que fosse uma coisa portátil, na qual pudesse trabalhar enquanto viajava em transportes públicos, ou na minha hora de almoço.
Qual foi a melhor reacção ao teu trabalho que tiveste?
A minha reacção favorita foi a do Renegade Handmade, em São Francisco, há uns anos atrás. Duas mulheres entre os 40 e os 50 anos vieram à minha banca, e enquanto estavam a pagar, uma delas perguntou: “Há quanto tempo é que te identificas como femme?” Eu fiquei bastante surpreendida com aquela pergunta, porque normalmente tenho de ser bastante explícita, por isso perguntei-lhes como é que sabiam que eu era queer ou femme, assim à primeira vista. Elas olharam uma para a outra, riram-se, e disseram-me: “Querida, estás aqui ao pé de uma parede cheia de vaginas bordadas, e usas pérolas e sapatos altos. Nós já sabíamos.”

Imagem via Etsy.
ARTISTA: Whitley Sullivan
LOJA: SquidleyStuff
PREÇO: $200 por uma escultura de uma orquídea vagina.
SOBRE: Segundo a sua loja, a Whitley começou por criar papillons. No entanto há um artigo que destaca. Uma escultura de orquídea vagina de $200 dólares (com um piercing no clítoris).
VICE: Como é que começaste com a arte da vagina?
Whitley Sullivan: Comecei essencialmente porque sou lésbica e adoro vaginas. São o que faz o mundo andar à roda.
Porque é que decidiste fazer vaginas orquídeas?
Porque adoro vaginas. A minha mãe é florista, sempre tivemos flores por todo o lado. E estás literalmente a cheirar uma vagina, porque as flores são os orgãos reprodutivos das plantas. Quando alguém te oferece rosas no dia dos namorados, é como se te oferecesse um bouquet de vaginas. Gosto muito desta ideia.
Entrei nisto porque achei que era divertido e criativo, e uma boa forma de rir. Sejamos honestos – mesmo que adores pénis ou vaginas, todos sabes que não são a coisa mais atractiva do corpo humano. Não importa o quanto os adores.
Fizeste outras peças deste tipo, ou a tua cena é a vagina?
Eu tenho três esculturas vagina, feitas por mim. E basicamente é isto. Estou a tentar vendê-las, mas ninguém as quer. Talvez baixe o preço. Se quiseres uma podemos negociar!

Imagem via Etsy.
ARTISTA: Michelle Gauthier
LOJA: MichelleGauthierArt
PREÇO: $20 – $70
SOBRE: A arte da Michelle consiste em bordar vulvas em ponto cruz, ovários, tampões, e ocasionalmente, alguns pénis. É um óptimo presente de Natal.
VICE: Qual é a mensagem por trás das tuas peças, se é que há alguma?
Michelle Gauthier: Adoro fazer vulvas, pénis, mamas, tampões, porque ponho em evidência temas sobre os quais não falamos abertamente. Eu queria promover o corpo positivamente, e mostrar às pessoas que não precisam de ter medo de falar de sexo.
Qual foi a melhor reacção que tiveste?
As melhores reacções são quase sempre quando alguém me vê bordar em público. Ando muito de transportes públicos, e durante esse tempo costumo bordar. As pessoas olham, perguntam se estou mesmo a bordar aquilo que parece, e querem saber porquê. Também tens as reacções das pessoas muito conservadoras. Essas acham que sou estranhíssima.
Quanta arte relacionada com vaginas tens em casa?
Comecei a contactar com outros artistas que também exploravam o tema das vulvas. Por cima da minha cabeça tenho um ornamento em forma de vulva, botões com vulvas, e no meu quarto, uma linda vulva tricotada.

Imagens via Etsy.
ARTISTA: Kniqui Nimbus
LOJA: Hypgnosis
PREÇO: $25 – $95
SOBRE: A arte de Kniqui relaciona-se com a vulva de uma forma bastante mística. Inclui vulvas de cimento para o jardim (“põe uma vulva no teu jardim e entenderás o significado da fecundidade”), e puxadores em forma de vulva.
VICE: Como é que entraste na arte da vulva?
Kniqui Nimbus: O meu amor pelas vulvas remonta à minha infância, quando me apaixonei pela minha. A minha mãe apanhou-me a masturbar-me e disse-me que isso era uma porcaria. Nessa altura comecei a fazê-lo discretamente, durante e logo depois do banho.
Há uns cinco anos atrás criei o meu primeiro coração vulva, para uma amiga lésbica. Fi-lo em papier mâché. Ela adorou e disse-me: “Podias perfeitamente vender isto.” Eu comecei com uma Virgem Maria Iónica, e depois pediram-me uma Vulva-Freira-Noiva-de-Cristo.
Percebi que o teu trabalho junta o oculto e o BDSM. Como é que caracterizarias esta intersecção?
A combinação destas duas imagéticas excita-me. O útero e a vagina são lugares de poder, secretos e misteriosos, dos quais a vulva é a fachada, ou na minha arte, o ícone amado.
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