A China está a fabricar génios bebés

Já não é novidade para ninguém que a China é a “nova” superpotência global. Enquanto o Ocidente se asfixia agoniadamente, a China continua a comprar dívida estrangeira e a acumular os recursos naturais do planeta. Mas agora, não satisfeitos por se rirem de nós enquanto galgam terreno na corrida geopolítica, os chineses estão também a desenvolver um projecto de engenharia genética patrocinado (surpresa!) pelo Estado.

Os cientistas do BGI Shenzhen já recolheram amostras de ADN das duas mil pessoas mais inteligentes do mundo (?) e estão a determinar a ordem dos genomas. A ideia é, claro, identificar as combinações que compõem a inteligência humana. Ao que parece, não estão longe de as encontrar. Quando isso acontecer, uma análise de embriões permitirá aos pais seleccionar os seus zigotos mais inteligentes, de forma a subir a inteligência de cada geração até 15 pontos de QI. Dentro de algumas gerações, competir intelectualmente com os chineses vai ser como tentar matar um leão com beijinhos.

O Geoffrey Miller, psicólogo e professor da NYU, é um dos milhares de génios que contribuíram com o seu ADN, por isso falei com ele sobre as implicações que este macabro programa genético poderá ter para os miúdos chineses do futuro.

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VICE: Olá Geoffrey. A China já tem um certo historial nestas coisas, certo?

Geoffrey Miller: Quando Deng Xiaoping tomou o poder, em finais dos anos 70, mudou o governo chinês, deixando de tentar controlar a economia para tentar controlar a qualidade, e quantidade, das pessoas. Nos anos 90, generalizaram-se as provas pré-natais para detectar defeitos de nascença com ultra-sons e, nos últimos anos, investiram muito dinheiro em investigação genética para decifrar que genes fazem as pessoas mais inteligentes.

O que sabes sobre a BGI Shenzhen?

É o maior centro de investigação genética na China e, suponho eu, do mundo. Não trabalha apenas genética humana. A BGI também trabalha muito com genética vegetal e animal. Enfim, qualquer coisa que seja economicamente relevante, qualquer coisa cientificamente interessante. 

Estás em contacto com eles?

Há uns anos recebi um email em que me informavam que tinham praticamente terminado a combinação para o Projecto de Genética Cognitiva de BGI, ao qual doei a minha genética. Os resultados estarão disponíveis em breve. 

Como foi o teu processo de selecção?

Estavam muito interessados em pessoas com ascendência chinesa e europeia. Basicamente estão a recrutar através de uma conferência científica, de boca a boca. Tens de provar que és tão inteligente como dizes. Envias o teu CV completo, as tuas publicações, as tuas notas, a universidade onde estudaste… Coisas assim.

Em termos práticos, como é que se aplicam os estudos?

Depois de terem a informação e um óvulo fertilizado dividido numas quantas células, avaliam simplesmente uma das células para calcular que inteligência teria se fosse implantada e convertida numa pessoa.

Ok, o que quer isso dizer ao certo?

Qualquer casal pode fertilizar vários óvulos em laboratório, com o esperma do pai e o óvulo da mãe. Podem, então, avaliar vários embriões e saber qual seria o mais inteligente. Continuaria a ser filho desse casal, como se o tivessem tido de forma natural, mas seria o mais inteligente de entre os 100 filhos que pudessem nascer de forma natural. Não é engenharia genética, nem se trata de agregar novos genes. É tudo feito com os genes que o casal tem. 

E depois de várias gerações poderiam multiplicar a inteligência da população de forma considerável.

Exacto. Ainda que, em média, só melhore a inteligência por cinco pontos de QI, trata-se de uma grande diferença em termos de produtividade económica, competitividade do país, número de patentes, gestão de patentes e inovação económica.

Pode transformar-se em algo perigoso .

Este estudo pode abrir portas a trabalhos de engenharia genética no futuro, mas levaria tempo antes de chegar à prática.

Quando é que achas que esta análise de embriões pode ser feita a larga escala?

A implementação da tecnologia para analisar embriões poderá levar entre cinco e dez anos, mas também pode ser menos. Depende da motivação.

Esse processo poderá repetir-se, mas com outras características? Com a aparência física, por exemplo.

Absolutamente. É fácil avaliar qualquer outra característica. Sabemos que a inteligência depende de muitos genes, enquanto que as características físicas, como o tipo de cabelo ou a cor dos olhos, só dependem de alguns. Aspectos como a forma do corpo serão, no futuro, mais fáceis de analisar. Saber se uma pessoa será trabalhadora, impulsiva, liberal ou conservadora será mais fácil. Até o facto de seres muito ou pouco religioso, é algo que depende, até certo grau, dos teus genes.

Merda. E podemos comparar a investigação genética do Ocidente com a da China?

Estamos muito atrasados. Temos as mesmas capacidades técnicas, as mesmas capacidades estatísticas para analisar os dados, mas eles estão a recolher a informação em escalas muito superiores e parece que têm a capacidade de transformar as suas descobertas cientificas em políticas governamentais e em provas genéticas para o consumidor, de forma muito mais fácil que nós. Técnica e cientificamente, podíamos estar a fazer o mesmo, mas não estamos.

Porquê?

Temos tendências ideológicas que dizem: “Isto pode ser problemático, não devemos brincar com a natureza, não devemos brincar de ser Deus.” Acabei de estar num debate em Nova Iorque sobre a proibição da engenharia genética em bebés. O público estava muito dividido. Na China, 95 por cento diriam: “Claro que devemos fazer bébes que sejam geneticamente mais saudáveis, alegres e inteligentes!” Há uma enorme diferença cultural.

Que mais é que estão a fazer na China e que nós ainda não fazemos?

Também estão a investir grandes quantidades de dinheiro na educação, criando um novo sistema de universidades que favorece a criatividade na aprendizagem. Estão a enviar centenas de milhares de estudantes universitários para os EUA e para a Europa, para ver como funcionam os nossos sistemas educativos e assim poder igualar, ou melhorar, os seus.

Acreditas que o domínio global está nos planos da China? 

A China nunca quis dominar o mundo. Esta é a maneira de devolver a China ao seu lugar na história como o centro cultural da humanidade. A Europa teve uma vantagem temporal, por isso estão apenas a começar a reestabelecer o equilíbrio natural como o país mais povoado do mundo. Não acredito que tenham ambições imperiais, não vão comportar-se como a Alemanha nazi ou como os EUA do século XX, mas querem respeito e influência. Não acreditam que os EUA ou a Europa possam governar o mundo como deveriam, em questões como o aquecimento global, a igualdade e a estabilidade económica.