Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma The Creators Project.
A tecnologia digital abriu novas possibilidades criativas ao cinema e os vídeos de skate também não as têm desaproveitado. No entanto, se queremos fazer um filme sobre skate que realmente nos deixe de boca aberta, mais do que a quantidade de animações ou imagens digitais, o importante é o terreno, o ambiente em que seja filmado. E é este aspecto que muitos vídeos repetem e acabam por não nos mostrar mais do que skaters a deslizarem sobre cimento e meia dúzia de paisagens mais ou menos fixes de fundo.
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Foi por isso que Northbound nos chamou a atenção. Skaters numa pista de areia congelada, numa praia remota da Noruega, não é coisa que se veja todos os dias. A curta de 10 minutos foi filmada em quatro locais diferentes das Ilhas Lofoten e, recentemente, foi distinguida com uma menção especial do júri do Festival de Cinema de Tribeca. No documentário vemos quatro dos melhores skaters noruegueses da actualidade – Karstein Kleppan, Henrik Lund, Hermann Stene e Didrick Galasso – a praticarem naquele que é, provavelmente, o ambiente mais gélido em que alguma vez se filmou um vídeo de skate, naquela que foi a semana mais fria do ano. Para além das manobras impressionantes, Northbound mostra-nos que, se há coragem, o duro Inverno árctico não impede os skaters de continuarem a praticar.
O The Creators Project falou com o jovem cineasta – e skater ocasional – Jørn Nyseth Ranum, para descobrir mais sobre a sua obra.
Mot Nord (Northbound) Teaser, de Łukasz Zamaro, no Vimeo.
The Creators Project: O que é que sentiste quando viste a tua obra ser reconhecida num dos festivais mais importantes do Mundo?
Jørn Nyseth Ranum: Nem queria acreditar quando me disseram! Foi bastante divertido.
Tens 27 anos e este e já o teu segundo filme. A tua estreia foi com North of the Sun, que conta a história de quando passaste nove meses gelados a surfar pela costa Norte da Noruega. Northbound tem alguma coisa a ver com esse filme anterior?
Na altura do primeiro, estivemos a surfar durante um dos dias mais frios do Inverno, quando cheguei à areia, percebi que estava dura como uma rocha, parecia cimento e tive a ideia de tentar andar de skate na praia. Tentei duas ou três vezes. Criei umas mini rampas e a coisa funcionou, por isso decidi avançar para um projecto de maior envergadura.
E conseguiste contar com a participação de alguns dos melhores skaters da Noruega. Foi fácil convencê-los?
Quando comecei a falar com skaters, a maior parte deles passou-se com a ideia, mas, claro, também houve um ou outro com reacções mais cépticas, já que era uma ideia completamente nova e não acreditavam que pudesse funcionar. Mas acho que, na sua maioria, os skaters estão acostumados a sair da sua zona de conforto e a experimentar coisas novas. Curtem a ideia de fazer uma coisa que nunca ninguém fez e também combinar o skate de cidade com a natureza.
É por isso que não estamos a falar de um típico vídeo de skate…
Bem, vi um monte de vídeos de skate antes de começar e também cresci a ver muitos outros, mas o meu objectivo nunca foi fazer um vídeo de skate. Andava, isso sim, à procura de algo que me inspirasse. Este tipo de vídeos, normalmente, tentam criar algo novo através da escolha de locais estranhos, ou incluindo uma série de paisagens de fundo fixes, sendo que o objectivo final é o de documentar novas manobras e a evolução do desporto. Todavia, Northbound não é sobre isso. Aqui a questão era mais documentar uma nova forma de andar de skate, em que a paisagem e a natureza são, de facto, importantes. Por isso, acho que o resultado final acaba por ser uma mistura entre uma curta, um documentário e um vídeo de skate.
Quais foram os maiores desafios que enfrentaste durante a rodagem?
Estivemos sempre muito angustiados à espera do momento de sair para filmar, porque tinha que estar frio suficiente para que se pudesse deslizar sobre a areia e isso não é algo que ocorra assim tão frequentemente na costa. Toda a equipa e os skaters estiveram de prontidão durante o Inverno e em determinada altura, quando vimos as previsões favoráveis, tivemos que avançar de repente. Por sorte, escolhemos mesmo a semana mais fria do ano. Se tivéssemos escolhido outro momento, certamente não teríamos conseguido levar o projecto avante.
Qual era a temperatura exacta?
Cerca de -10ºC, que é uma temperatura em que realmente sentes o frio. Mais ainda com a humidade e o vento da zona costeira.
Alguém se lesionou?
Não houve nenhuma lesão grave, apenas alguns arranhões durante as filmagens. Houve um momento em que um dos skaters aterrou sobre o próprio pé e foi um bocado assustador, mas como estava tanto frio não lhe doeu muito.
Aqui encontras mais informação sobre Northbound.