A evolução da pintura na era digital

Nicole Eisenman, Beer Garden with Ash, 2009. Todas as imagens são cortesia do Museum Brandhorst

A profusão de novas formas de arte mídia surgidas na última década foi tamanha que às vezes até nos esquecemos da pintura contemporânea, que nos últimos 100 anos sobreviveu e respondeu de maneiras interessantes à proliferação das mídias de massa. Quando a pintura foi ameaçada pela fotografia e, posteriormente, pelo cinema, pintores responderam de forma experimental com o Cubismo, Futurismo, Dada, Surrealismo e outros movimentos artísticos. A pintura ressurge cada vez que sua morte é presumida.

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A nova exposição Painting 2.0: Expression in the Information Age, em cartaz no Museum Brandhorst, em Munique, destaca a evolução da pintura através da ascensão de outras mídias de massa, incluindo revistas em quadrinhos, televisão, video games e aquela que talvez seja a mais poderosa de todas, a Internet. O curador assistente da exposição, Tonio Kröner,conversou sobre as ideias por trás da mostra com o The Creators Project.

Albert Oehlen, Easter Nudes, 1996

“A mostra é baseada na nova onda de interesse em relação à pintura nos últimos anos, não somente no mercado de arte, mas também em escolas de arte”, diz Kröner. “Durante anos a pintura não foi a escolha mais fácil para o artista fazer. Agora, parece que esse é (de novo) um campo discursivo ao qual vale a pena se dedicar.”

Kröner diz que, durante o processo de criação de Painting 2.0, o museu propôs diversas “pré-histórias” desse interesse contemporâneo pela pintura e sua relação com as mudanças que a tecnologia mais recente teve em nossas imagens de subjetividade, protesto, corpo e comunidade. A exposição começa com trabalhos de cerca de 1960, ano que Kröner caracteriza como uma época crucial para a arte moderna. Essa foi uma época em que o modernismo – exemplificado pelo Expressionismo Abstrato e suas ideias de “autonomia, urgência e liberdade” – se viu na berlinda.

Matt Mullican, Sem título(Placas), 1981

“As novas tecnologias e seus efeitos, como a cultura pop, desafiaram a pintura moderna”, diz Kröner. “Artistas como Robert Rauschenberg, Andy Warhol, Eva Hesse, Lee Lozano eYves Kleinaceitaram esse desafio. Combinaram o vocabulário visual da arte moderna com as imagens e desafios da sociedade do espetáculo.”

Quando os curadores da exposição dizem “sociedade do espetáculo”, estão se referindo ao livro homônimo do teórico Situacionista Guy Debord, publicado em 1967. O espetáculo, segundo Debord, era um subproduto das mídias de massa, uma série de ilusões, rasas e hipnotizantes, que basicamente tornava as massas submissas cultural, política e economicamente.

Guyton Walker, instalação sem título

“Debord classifica a pintura como um produto de consumo burguês e alvo de fetichismo, o que faz parte da ilusão do espetáculo”, diz Kröner. “Mas ele também tem uma outra relação com a pintura. Seus livros Fin de Copenhague(1957) and Mémoires (1959), por exemplo, foram feitos em colaboração com o pintor Asger Jorn e usam os clássicos espirros de cor do modernismo como meio de composição.”

“Essa ambivalência, argumentar ao mesmo tempo contra e a favor da pintura, é um dos principais temas da exposição”, Kröner continua. “O interessante é que a própria pintura parece oferecer um espaço de reflexão sobre as últimas mudanças na tecnologia e nas mídias, talvez como resultado de todos os debates e desafios aos quais sobreviveu. Assim, é possível se comunicar com a era digital através da pintura de formas muito diferentes.”

Isa Genzken, Wind II (Michael Jackson), 2009

Para Kröner, a pintura é “uma espécie de ciborgue”. Como meio de expressão artística, parece capaz de abarcar simultaneamente novos tipos de arte mídia e abordagens análogas, e também de causar atrito entre eles.

E qual é o futuro da pintura? Kröner diz que a pintura já está em contato direto com obras de arte atualmente consideradas “pós-internet”, mas que também podem ser discutidas sob o termo “arte mídia”.

A exposiçãoPainting 2.0.  

“Se pensarmos em ciclos, a pintura também poderia enfrentar esses desafios a partir das formas renovadas da crítica institucional e das práticas que focam na arte pública e global”, diz Kröner. “Será interessante ver como esse espaço que a pintura oferece poderá contribuir com essas questões.”

Painting 2.0: Expression in the Information Age fica em cartaz até dia 30 de abril de 2016 no Museum Brandhorst. Para saber mais, clique aqui.

Tradução: Flavio Taam