A morte de João Carvalho está a abalar o MMA na Irlanda

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma FIGHTLAND.

Na sequência da morte do lutador português de artes marciais mistas, João Carvalho, na última segunda-feira, 11 de Abril, depois da derrota por knockout num evento da TEF no Estádio Nacional de Dublin, dois dias antes, a comunicação social e o governo irlandeses andam em guerra aberta sobre o papel que o MMA deverá ter na cultura e vida do País.

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Aqueles que conseguem manter a calma perante a tragédia, têm focado as suas reacções na perda e partilhado a necessidade de uma regulação mais forte no MMA na Irlanda, um país em que a relação ambivalente com o desporto parece ter aquecido mais com a ascensão da estrela local da UFC, Conor McGregor, e agora com a morte de um lutador no seu território.

“Para quem está de fora, é fácil criticar a nossa forma de vida, mas para os milhões que, em todo o Mundo, encontraram neste desporto uma forma de melhorarem as suas vidas, a sua saúde, a sua forma física e mental, esta é, na verdade uma situação amarga”, escreveu McGregor. E acrescenta: “Perdemos um de nós. Espero que todos se lembrem que o João era um campeão, que perseguiu o seu sonho, que fazia o que gostava de fazer e que todos lhe mostrem o eterno respeito e admiração que merece”.

Entretanto, o ministro irlandês do Turismo e Desporto, Michael Ring, já pediu mais regulação do MMA. De momento, os lutadores profissionais estão a ser encorajados a pedirem aprovação a um grupo denominado SAFE MMA – cujos requerimentos para aprovação incluem testes sanguíneos e testes médicos pré e pós combate, bem como “médicos e paramédicos qualificados nos locais dos combates -, mas o desporto continua sem regulação na Irlanda.

Esta semana, em declarações à Rádio RTE 1, o ministro disse: “É óbvio que há um problema…Este desporto em particular, nunca procurou ser regulado e nunca quis fazer parte do programa de desporto irlandês. Não recebem qualquer subsídio do Estado. Qualquer outro evento desportivo no País tem de cumprir com normas de segurança e, por isso, temos de encontrar uma forma de o regulamentar, de forma a podermos lidar com este novo fenómeno”.

Johnny Wattersonm colunista do Irish Times, não poupou palavras, nem indignação ao descrever o combate de João Carvalho, e em particular os momentos finais em que o seu opositor desferiu vários golpes sem que houvesse reacção por parte do português, como “um episódio calamitoso e indefensável” na história do desporto na Irlanda. “É esse aspecto da modalidade, um homem indefeso no chão e outro em cima dele a esmurrá-lo sucessivamente, que faz com que estejamos não perante dois atletas talentosos a combater, mas sim perante um caso de pornografia dentro de uma jaula”, escreveu Watterson. “Leva as pessoas para um mundo que é mais facilmente associado a violência gratuita, do que qualquer outra modalidade, incluindo o boxe profissional, claro”. Watterson termina classificando a morte de Carvalho como “um assassinato legal”.

E, entretanto, para elevar ainda mais o nível de pânico que se vive por estes dias no meio, o professor Tim Lynch, neurologista do Hospital Universitário Mater Misericordiae, de Dublin, veio a público dizer que o objectivo do MMA, toda a sua razão de existir, é destruir o cérebro humano. Em declarações proferidas no programa Newstalk’s Breakfast Show, na quarta-feira, 13, Lynch disse: “Acho abominável que queiram promover um desporto em que o objectivo é atingir e ‘apagar’ o opositor e causar-lhe danos cerebrais”.