João Marques não conhece “85 por cento do cartaz”, mas não faz mal.
Como milhares de rapazes e raparigas por este país fora, João e Ana estreiam-se este ano num festival a sério. E vão ao Minho sem medo da chuva. Lembras-te de quando os festivais rock portugueses eram notícia pela concentração de:
1- Aves raras, como punks, coleccionadores de símbolos da Mercedes transformados em pendentes que, aparentemente, só saíam de casa naquelas alturas;
2- Freaks com t-shirts de ícones mortos (destaques óbvios: Marley e Che, com ou sem os Rage Against The Machine na estampagem);
3- Habitantes locais assustados/fascinados com a nova fauna da vila;
4- Artistas amadores sem ponta de noção rítmica que se julgavam reis do djambé, esse instrumento-praga, decidiam tocá-lo sozinhos ou em infernais rodas percussivas pelas cinco da manhã;
5- Repórteres de televisão fascinados com todas as coisas mencionadas nos pontos anteriores.
Lembras-te? LEMBRAS-TE OU NÃO? Então, é porque estás velho.
Mas eles não, eles são novos. Não viveram esses tempos remotos (estavam demasiado ocupados a crescer, como diz o grande Adolfo), anteriores à normalização dos festivais. Como milhares de rapazes e raparigas por este país fora, João e Ana estreiam-se este ano num festival a sério — um festival com pó, tendas, terra que se transforma em lama quando chove. O festival Vodafone Paredes de Coura, marcado para 13 a 17 de Agosto, será a sua estreia nestas andanças.
“É a primeira vez que vou a um festival”, confirma João Marques, de 20 anos, estudante de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Está ansioso por “alargar os horizontes musicais e estar fora da civilização por uma semana”. “Sair da rotina musical” é o seu objectivo confesso: é um rapaz “virado para a electrónica”, e não faltam “nomes de electrónica sonantes” no cartaz, a começar nos Justice e a acabar nos Simian Mobile Disco, mas está particularmente curioso com os norte-americanos Alabama Shakes e outra rapaziada com guitarras. “Não conheço 85 por cento do cartaz”, admite. E está contente com essa ignorância: o objectivo de um festival é a descoberta.
Ana Costa, 23 anos, vai este ano a Paredes pela primeira vez.
Ana Costa, 23 anos, vai a Paredes de Coura, naquela que será a sua primeira vez num festival não urbano (esteve no warm-up que este mesmo festival montou no centro do Porto, em Abril passado), à procura do “Woodstock português”. E desenvolve: “É aquela sensação de liberdade de estar uma semana junto da natureza, uma ligação muito mais natural entre as pessoas.”
A operadora de call center andava há três anos a tentar, mas nunca conseguiu férias. Este ano, finalmente, o sistema laboral libertou-a para a felicidade. O cartaz, “muito bom”, entusiasma-a: The Vaccines, rapazes ingleses do rock indie, os gloriosamente antiquados Alabama Shakes, os reis da introspecção Belle and Sebastian… “The Kills cancelaram, mas compensaram com The Glockenwise e Horrors. Palma Violets. O cartaz quase todo.”
Os amigos mais experientes já aconselharam a preparar-se para a chuva, uma tradição por terras de Paredes de Coura por alturas do festival. Mas não há medo: “O pessoal diverte-se na mesma. Quem corre por gosto não cansa.” João também não dispensa a tenda, a boa velha e nada impermeável tenda: “Pensei em hotéis, mas disseram-me que a experiência verdadeira era acampar.”