Diz-se que é no meio que está a virtude e no dia do meio do Milhões caguei completamente para os concertos da tarde e fui conhecer as virtudes de Barcelos e as dos campistas. Vá, não resisti a ir ver a Da Chick dominar a piscina ao fim da tarde, mas o sacrifício implicou perder BRO-X, Moullinex com Xinobi e Unicornibot, entre outros. Escolhas da vida com as quais vou ter de aprender a viver. Talvez.
Descobri que afinal Barcelos é uma cidade — o ter andado a chamar-lhe “vila” deve-me ter valido alguns olhares de lado e hatemail. É para o lado que eu durmo melhor, mas queiram desculpar-me os barcelenses. Para compensar vou falar bem da vossa cidade. Barcelos é muito bonito, desde o centro até ao mercado, passando pelo castelo e descendo até ao rio. Há uma quantidade parva de esplanadas frescas e confortáveis. As pessoas são muito hospitaleiras, especialmente os donos dos bares, e as miúdas são giras.
Vou evitar comentar o festival de marisco que está claramente a competir com o Milhões pela atenção das pessoas (informalmente conhecido por Palco Surpreende-me), as peixeiras a fazer corridas de sacos de batatas e os escuteiros. Só acho estranho o facto de em três noites ainda não ter visto a Lua — não sabia que Barcelos era o ponto cego do país para o espaço.
Depois do jantar juntei-me a alguns campistas e criámos laços em torno de garrafas e restos de sobremesa. Entre gente do Porto, de Aveiro e de Barcelos, foi difícil convencer as pessoas de que não sou eu, o único lisboeta do grupo, que tenho um sotaque esquisito. Caguei e desisti, deixei-me levar pela névoa que às vezes varre a cidade em noites amenas e fui, em piloto automático, até ao concerto de Connan Mockasin, uns hippies com muito boa onda que sentaram o público por duas vezes. Depois foi a vez de WeedEater, praticamente o oposto musical dos anteriores, com um metal pesado e voz de bagaço a animar os surfistas de público. Nunca toquei em tanto rabo, pena serem maioritariamente peludos.
Isto a um sábado ganha proporções épicas, quando o pessoal se escapa do trabalho e dos afazeres e vem livre de tudo para fugir para o mundo encantado dos triângulos. O resultado é um recinto cheio até de manhã. Dormir é o que menos importa.
Fotografia por José Ferreira
More
From VICE
-
Cancan Chu/Getty Images -
Flavio Coelho/Getty Images -
Screenshot: Raw Fury -
Claudia Totir/Getty Images