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Cientistas alimentaram um antigo organismo da Terra com metais do espaço e ele começou a 'dançar'

Extremófilos são modelos da vida primordial na Terra, e acabamos de descobrir que um deles prospera com material de fora do planeta.
Cientistas alimentaram um antigo organismo da Terra com metais do espaço e ele começou a 'dançar'
Esquerda: GUILLAUME SOUVANT/AFP via Getty Images. Direita: Milojevic et. al.

Cientistas descobriram que um organismo unicelular, um descendente de algumas das primeiras criaturas vivas na Terra, é capaz de colonizar um meteorito, crescer e sintetizar nutrientes. O experimento, publicado na segunda-feira no jornal Scientific Reports, pode nos dar um jeito de observar as assinaturas da vida passada em outros planetas.

“Esse processo foi muito enigmático e emocionante, como a energia química de um fragmento de pedra pode ser transformado em energia bioquímica de uma entidade viva”, disse Tetyana Milojevic, primeira autora do estudo. “Encontrar uma resposta para entender esse processo, acho que é um grande momento.”

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Viver numa pedra do espaço é apenas mais uma esquisitice que a espécie, Metallosphaera sedula, pode acrescentar na sua lista crescente. Isolado pela primeira vez num campo vulcânico na Itália em 1989, o micróbio é considerado um extremófilo porque prefere viver em condições que seriam inabitáveis para a maioria dos outros organismos. Tais organismos são úteis para investigar a história primordial da Terra, com seus ambientes difíceis e inóspitos, além de possibilidades para a vida no universo.

Quando Milojevic decidiu cultivar M. sedula num meteorito (um processo não regulamentado, já que os organismos não são patogênicos e meteoritos não são particularmente raros), ela queria ver desde o início como a espécie reagiria. Não só os microrganismos acharam o meteorito gostoso – eles até voltava para repetir o prato. “Descobrimos que a reação é bastante feliz”, ela disse.

“Nossos estudantes no laboratório também notaram imediatamente que as células estavam muito vívidas, elas estavam como que dançando na pedra espacial.”

O fato do organismo ter prosperado foi ainda mais inesperado considerando o quanto ele é exigente. Enquanto muito microrganismos modelos são cultivados com facilidade em laboratórios, o M. sedula dá trabalho. A archaea dobra todo dia (Escherichia coli dobra a cada vinte minutos em laboratório), e os pesquisadores precisam borbulhar dióxido de carbono manualmente na sua cultura.

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“É como um bebê no nosso laboratório”, disse Milojevic.

Usando um microscópio eletrônico, a equipe de Milojevic conseguiu capturar a presença e localização de metais diferentes que a M. sedula tirou do meteorito e transformou quimicamente. Eles conseguiram detectar essas mudanças químicas de grupos incrustados de células que muito provavelmente estavam mortas.

Poder medir essas digitais químicas depois que um organismo morreu pode ser uma ferramenta útil para a busca de vida extraterrestre, disse Milojevic. Ainda assim, ela disse que há um “enorme vácuo” entre identificar essas digitais e as ligar a espécies individuais. Uma futura pesquisa terá que ver quanto tempo essas digitais duram, especialmente sob as condições do espaço sideral.

Milojevic disse que os organismos também têm potencial de biominerar, ou extrair minerais de pedras espaciais. Mais pra frente, M. sedula pode até acabar substituindo o cachorro como o melhor amigo extraterrestre do homem. OK, provavelmente não, mas eles devem pelo menos ser mais estudados.

“Devemos tentar entender de onde viemos e pra onde vamos, e archaea pode ser muito útil nisso”, disse Milojevic.

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