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Este pesquisador brasileiro cria mini-cérebros de Neandertais em laboratório

O objetivo é nobre: entender o passado para tratar de problemas do futuro.
Foto: Muotri Lab/UC San Diego

Parece coisa de ficção científica, mas é verdade. Um pesquisador brasileiro criou um método para crescer pequenos cérebros em laboratório. O bônus da história, se é que precisava, é que se trata de cérebros Neandertais. A gente sabe o que você está pensando: por que raios alguém iria querer miniaturizar os miolos de nossos primos distantes?

A pesquisa está sendo comandada pelo geneticista brasileiro Alysson Muotri, na Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA. O cientista e sua equipe criaram um protocolo que é capaz de induzir células-tronco humanas a gerar tecido nervoso.

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As células, ele explicou em entrevista ao Motherboard Brasil, seguem uma programação genética que as leva a se transformar nos diferentes tipos celulares que existem no cérebro humano. O cérebro em miniatura contém DNA Neandertal e cresce até ficar do tamanho de uma ervilha. Ele é capaz de imitar o córtex cerebral, a camada mais externa do órgão.

A escolha pelos genes Neandertais se deve à semelhança com o genoma humano. Complexo, o passo a passo do processo se dá mais ou menos assim: células humanas da pele normais são manipuladas geneticamente para que se tornem "pluripotentes", ou seja, virem células-tronco.

Em seguida, a técnica CRISPR é usada para alterar o conjunto de genes chamado NOVA1, responsável pelo desenvolvimento cerebral humano. Esse grupo também está relacionado com problemas como autismo e esquizofrenia. Uma vez encontrado o NOVA1, a base humana é substituída pelo código genético Neandertal.

O resultado é o tal mini-cérebro, chamado de "Neanderoid" por Muotri e sua equipe. Em comparação com um cérebro humano, o órgão criado em laboratório tem menos conexões sinápticas, ou seja, ele tem uma rede de neurônios que pode ser considerada anormal.

"Focamos principalmente no espectro autista. Queremos descobrir como alterações genéticas encontradas nos autistas podem alterar o funcionamento cerebral"

Se você pensa que o experimento quer tentar recriar Neandertais, seu palpite está errado. "Meu laboratório usa esses mini-cérebros como modelos experimentais para condições neurológicas humanas", avisa Muotri. "Focamos principalmente no espectro autista, queremos descobrir como alterações genéticas encontradas nos autistas podem alterar o funcionamento cerebral. Além disso, esses mini-cérebros são usados para testar novos medicamentos para essas condições."

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Mas será que seria possível ressuscitar os cérebros desses hominídeos? "Pouco provável", diz ele. "Para conseguir isso precisamos inicialmente de células vivas de Neandertais."

Para entender como se comportam os organóides, afirma o pesquisador, são feitos diversos tipos de análises, que investigam os níveis molecular (os genes ativados, proteínas alteradas), celular (o que acontece com células individuais) e funcional (redes nervosas). "Para cada nível de estudo, existem ferramentas específicas que são utilizadas para comparar o grupo controle com o grupo de estudo."

Mini-cérebros são do tamanho de uma ervilha. Foto: Muotri Lab/UC San Diego

Em breve, Muotri e equipe publicarão um artigo com os resultados, que já foram apresentados em congressos. "Nossos dados mostram alterações moleculares (genes que são diferentemente ativa nos Neandertais), celulares (observamos defeitos em migrações neurais) e funcionais (neurônios neandertalizados fazem menos conexões sinápticas, levando a um déficit nas redes nervosas)", diz.

No futuro, os pesquisadores esperam que os mini-cérebros possam dar pistas de como a evolução humana pode acelerar. "Criamos uma plataforma para testar o impacto neural de variantes genéticas de humanos extintos", explica o cientista. "Assim que tivermos uma lista desses genes, pretendemos criar novas variantes para acelerar a evolução humana, buscando identificar variantes que sejam vantajosas, tanto do ponto de vista protecional quanto cognitivo."

Portanto, ao criar versões menores dos cérebros de nossos antepassados, Muotri espera poder interferir no futuro dos seres humanos.

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