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VICE Sports

A-Z da Copa da Rússia 2018

"Escola de atores Neymarra" e outros verbetes: eis o dicionário que guardaremos do Mundial.

Todos achávamos que seria a Copa mais treta de todos os tempos, mas até que foi suave. Vai dizer que não? Os hooligans não colaram, as tretas foram poucas, as humilhações quase não pintaram e, para a surpresa de todos do Ocidente, o Mundial na casa de Putin acabou sem grandes sustos ou tragédias. Podemos dizer até que, entre um golzinho de bola parada e outro, tudo foi bem alto astral. Teve muita festa e uma pá de personagens legais.

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Para relembrar alguns dos momentos marcantes e celebrar esse torneio que já dá saudade, fizemos um dicionário com instantes imortalizados da competição.

A / África eliminada ou África campeã?

Nigéria, Senegal, Egito, Tunísia e Marrocos sequer passaram para a fase de mata-mata da Copa do Mundo da Rússia. Tal feito não acontecia desde a Copa de 1982, na Espanha. Há, porém, outra forma de ver as coisas. Você reparou que, dos 23 convocados da campeã França, 14 são nascidos ou descendentes diretos de países africanos? Pois é. Fica a questão: África campeã ou não?

B / Bola parada decisiva

Na Copa do Golzinho Chorado de Bola Parada, dos 169 gols marcados, 72 saíram de escanteios, faltas ou pênaltis. Um recorde. Ou melhor: um índice insuportável. A seleção inglesa, tão burocrática que faz até fila no escanteio, marcou 12 vezes e em nove vezes com lances desse tipo. Aquele gol do Maradona doidão em 1986 driblando todo mundo e metendo caixa? Não teve. Se bobear, nunca mais terá.

C / Comemorações políticas

A história da Croácia vai muito além de simples rótulos de fachos, nazis e nacionalistas como bem explicamos nesse textão. Ainda assim, o time vice-campeão foi marcado por cantos nacionalistas nas comemorações. O zagueiro Vida, o mais exaltado, fez reverências à Ucrânia, inimiga declarada da Rússia, e chegou a ser vaiado toda vez que encostava na bola. Outros que deram pano pra manga com gestos políticos foram os jogadores suíços de origem kosovar Xhaka e Shaqiri. Em suas comemorações de gol contra a Sérvia, eles fizeram menção à Albânia, de onde vêm a maioria dos habitantes do Kosovo. (O território kosovar, vale lembrar, declarou independência da Sérvia de modo unilateral.) Tanto croatas quanto suíços foram multados por falta de fair play. Uma mixaria para os padrões deles, dizem.

D / Decepções latinas e europeias

A lista de seleções que passaram vergonha na Rússia é grande. A começar pela Itália e pela Holanda, que nem embarcaram. A Alemanha, aquela que nos enfiou um 7 x 1 nas semifinais da Copa de 2014, também decepcionou: nem passou da primeira fase. A Espanha e a Argentina, por sua vez, caíram nas oitavas. Teve ainda Portugal que não passou do Uruguai nas oitavas, e claro, o Brasil, que caiu diante dos belgas nas quartas. Apesar das surpresas, as Copas do Mundo vêm seguindo o cronograma desde 2006: só entrega prêmios para seleções europeias defendidas, em grande parte, por imigrantes.

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E / Escola de atores Neymarra

Se tem uma coisa em que fomos bem nesta Copa foi a simulação. As quedas de nosso camisa 10 se tornaram um dos produtos mais exportados desde “A Paradinha”, da Anitta. Neymar teve o primeiro pênalti anulado com o auxílio do VAR na história das Copas e sua dramática pose de dor virou meme global. Para muitos críticos, pousou a dúvida: Neymar seria o Wolf Maya do futebol ou só mais um no bando de atores ruins? Em sua defesa, ressaltamos que ele não foi o único a protagonizar cenas canastronas. Na partida contra a Colômbia, o inglês Henderson tomou uma cabeçada (leve até) no peito e imediatamente se jogou ao gramado com a mão na altura do rosto. Na mesma partida, numa disputa com o inglês Sterling, o zagueiro colombiano Mina se atirou no solo numa simulação grotesca, dessas que a Fátima Toledo não suportaria. É o futebol brasileiro fazendo escola.

F / Foda, Fernandinho

O volante do Manchester City foi um dos protagonistas na derrota brasileira para a Bélgica nas quartas-de-final. O gol contra na derrota de 2 x 1 foi determinante para a eliminação brasileira e também para desmascarar — pela milionésima vez — uma característica do cidadão de bem brasileiro: o racismo. O jogador foi alvo insistente de ofensas racistas nas redes sociais e, ao lado de Gabriel Jesus, que não marcou sequer um gol no Mundial, foi o alvo preferido dos haters.

Foto: Divulgação

G / Gooooool do Panamá

Aos 37 anos, o zagueiro Felipe Baloy marcou o primeiro gol de sua seleção em Copas do Mundo. O tento chorado, de carrinho, na raça, foi anotado na derrota de 6 x 1 para a Inglaterra, mas comemorado como um título pela torcida. Foi mais uma dessas cenas que nos faz lembrar que tudo isso aqui, perdão pelo clichê, não é só futebol.

H / Héteros brasileiros passando vergonha

A cena é grotesca e rodou o mundo. Você já viu, sua mãe já viu, todo mundo já viu e nós não vamos mostrar de novo. Um grupo de brasileiros em volta de uma mulher russa aos berros sobre detalhes de sua genitália. Ela, que não sabe o que está acontecendo, acha que os brincalhões estão só fazendo amizade. Eles, que sabem o que estão dizendo, estão reproduzindo um ato extremamente machista e covarde. Além das quedas do Neymar, essa foi outra mensagem passada pelo Brasil na Rússia. Sejamos melhores no Catar.

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I / Insetos! Insetos!

Os ingleses e tunisianos estrearam em Volgogrado comendo insetos. O estádio, situado a margem de um rio, era o cenário ideal para um bonde pesadão de mosquitinhos. Não bastasse isso, o goleiro francês Lloris tava moscando e quase comeu uma libélula grandona que roubou-lhe um beijo (sem língua). O problema não era lá uma novidade e foram gastos mais de 200 mil reais com uma tentativa, digamos frustrada, de resolver a questão. Bzz.

Foto: Reprodução/ YouTube

J / Joseph Blatter turistão

O ex-chefão da Fifa está banido do futebol por seis anos depois de ser acusado de participação casos de corrupção que envolvem também o ex-jogador francês Michel Platini. Blatter, porém, foi convidado especial do governo russo para acompanhar algumas partidas como torcedor. Ele não entendeu o “constrangimento” da maior entidade do futebol com sua presença e é um corrupto tão fofo que até foi abordado por populares para tirar selfies. Os políticos brasileiros têm muito a aprender com esse cara.

K / Kane, o artilheiro dos gols de pênalti

Alguém precisa dizer isso: Harry Kane, artilheiro da Copa do Mundo 2018, é um Washington Coração Valente piorado. Dos seis gols marcados pelo camisa 9 inglês, cinco foram de pênalti. Cinco gols de pênalti, bicho. “Ai, mas ele é artilheiro na Premier League, bibibi”. Ok, mas e se o Washington tivesse jogado lá? Ficou sem resposta, né?

L / Lukaku, o herói que merecíamos

Por falar em camisa 9, o atacante belga deu aula de simpatia, ousadia e alegria. No dia 18 de junho, o site Players Tribune publicou um relato em que ele conta um pouco da infância pobre, da família que saiu do Congo, da estreia como jogador profissional com 16 anos, entre outras histórias. O relato bateu bem aqui no Brasil e no resto do mundo. Para dar mais moral ainda, o cara jogou muito, fez quatro gols e deu até simpáticas entrevistas em português. O cara também mostrou que é um gigantão com baita arranque no segundo gol da Bélgica contra o Brasil, mas não queremos falar muito sobre isso. Vocês entendem.

M / Moleque maravilhoso

Apenas dois jogadores marcaram gols em Copas do Mundo com menos de 20 anos: um tal de Edson Arantes do Nascimento e Kylian Mbappé. O menino rápido feito um raio marcou o quarto gol da França na vitória contra a Croácia e foi eleito o melhor jogador jovem da competição. Durante o torneio, reportagens abordaram a relação de Mbappé com Neymar e Daniel Alves e apontavam os brasileiros pegando no pé no craque francês ao chamá-lo de Donatello em referência às Tartarugas Ninjas. Queria ser uma mosca pra estar no vestiário do PSG agora que o menino é campeão do mundo.

N / Neywars

É difícil defender o Neymar, mas é difícil também aturar quem odeia o Neymar. Ele se joga em campo, mas também é perseguido. Ele responde, mas também é atacado, provocado. Ele é acusado de sonegação de impostos da mesma forma que outros craques, como Messi e Cristiano Ronaldo são. Ele está certo de agir dessa forma? Provavelmente não. Mas o que ainda não entendemos é que o Neymar não é, e nem será, o cara que esperamos. Ele não será o cara humilde, querido pelos adversários, respeitado pelo mundo todo. Ele é o Neymar. Pode ser que mude, seja menos vaidoso, menos Neymar, mas esse tempo ainda não chegou. O cabelo, a chuteira e as tatuagens do camisa 10 foram o menos importante quando ele jogou muito nas Olimpíadas. O cara é um craque, isso não vai mudar. Que a gravidade seja menos impiedosa com ele.

Foto: André Mourão / MoWA Press

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O / Ótima Geração Belga é ótima mesmo

Que time. O zagueiro bem zagueiro Kompany. O ótimo volante Witsel. De Bruyne, um dos melhores da Copa, o habilidoso Hazard e o herói Lukaku. Essa seleção da Bélgica foi uma das melhores a entrar em campo na Copa da Rússia e só caiu diante da campeã França. A piada que se arrasta nos últimos dois mundiais de que os belgas vêm forte virou realidade. Em 2022 fiquem de olho porque, olha, a geração belga vem forte, viu?

Foto: Divulgação/ Photo News

P / Pussy Riot em campo

Aos sete minutos do segundo tempo na final entre França e Croácia, um grupo de pessoas invadiu o gramado vestidos como policiais. Eles correram em várias direções até que foram capturados pelos fiscais num balé que durou poucos minutos.. A banda punk/coletivo anarco Pussy Riot assumiu a autoria do protesto e divulgou pelas redes sociais algumas exigências ao governo russo: liberdade aos presos políticos; o fim das prisões ilegais em comícios; permissão da competição política no país; não-fabricação de acusações criminais e a não-manutenção de prisões sem motivo. Durante a ação, duas cenas se destacaram. Uma manifestante cumprimentou o atacante francês Mbappé que respondeu gentilmente ao gesto e outra tentou fazer o mesmo com o zagueiro croata Lovren, que a empurrou. Não à toa que deu Mbappé na cabeça.

Foto: Reprodução/ YouTube

Q / Que Messi?

Apagadão, o camisa 10 argentino entrou na Copa do Mundo sem sorriso no rosto e saiu ainda mais abatido nas oitavas-de-final. Em uma das partidas que disputou, o craque parecia estar uma enxaqueca insuportável de tanto que mexia na cabeça. Vamos combinar que o clima nos vestiários da Argentina e a seleção convocada também não ajudavam a dar aquela animada. Para azedar ainda mais o caldo, o técnico Jorge Sampaoli foi acusado de assediar sexualmente uma cozinheira da equipe da seleção dias antes do torneio.

Foto: Divulgação

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R / Rússia, esse grande Paraná

A relação de muitos brasileiros com a Rússia se baseava em vídeos de homens bêbados em situações constrangedoras, como este cara que tenta passar pela grade com o portão aberto. A Copa mostrou um pouco mais do que isso: apresentou uma seleção organizada e aguerrida — apesar de suas limitações — e uma nação que comprou a brincadeira chamada Mundial. Ficou-se subentendido que o problema é quando os russos tentam ser sérios. Daí fodeu.

Foto: Divulgação

S / Sim para mulheres na comissão

Acho que não precisamos explicar mais o quanto o futebol é machista e misógino. Um exemplo muito simples desta análise é a falta de mulheres nas comissões técnicas. Olhe para os bancos de reservas e verá apenas homens, em sua grande maioria brancos, bem vestidos e cheios de crachás. Nesta Copa do Mundo, houve uma boa exceção: Iva Olivari, que coordenou a delegação croata. Aos 59 anos, ela fez história nesse vice-campeonato.

Foto: Reprodução/ YouTube

T / Titebilidade

A gente se acostumou a ver Adenor em seu tom meio Padre Marcelo Rossi nas coletivas de imprensa defendendo seus atletas. Repetidas vezes também o assistimos em propagandas de televisão, celular ou banco. O técnico era a cara de uma seleção que tinha tudo para trazer o hexa, mas que não passou das quartas-de-final. O tom messiânico do comandante da seleção vai se manter, assim como a base do time que jogou esta Copa. Mas tomara que ele aprenda com os erros que cometeu na Rússia.

Foto: Divulgação

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U - Uuuuuuuuuuuuh

Por muito pouco o Japão não passou pela poderosa Bélgica nas oitavas de final. O time asiático chegou a abrir dois gols de vantagem, mas foi muito inocente ao ir todo para o ataque na última bola parada do jogo. Resultado: contra-ataque mortal dos belgas e eliminação japonesa. A lição que ficou é clara: falta o Japão ser mais copeiro. Quando isso rolar, será complicado derrotar o futebol disciplinado dos caras.

V - VAR ou não?

É inegável que o futebol precisava usar a tecnologia a seu favor. É assim na NBA, na NFL e em vários outras modalidades esportivas. É assim a vida. Não saímos do celular, não desgrudamos do computador e jogávamos futebol da mesma forma que nossos pais, avós, bisavós. O VAR (Video Assistant Referee ou Árbitro Assistente de Vídeo) foi um dos principais personagens na Copa da Rússia, que se tornou a que mais teve pênaltis. A gente viu nessa Copa que o VAR vai errar, mas ainda sim bem menos do que o olho humano sem replay.

W / Walter Casagrande

A gente gosta muito do Casagrande, o roqueirão de oclinhos que comenta os jogos na Rede Globo. Casão é autêntico, uma lenda. No final da transmissão da partida de ontem, o comentarista se emocionou ao vivo por passar uma Copa sóbrio. O ex-jogador já falou em entrevistas sobre o consumo de álcool, maconha, cocaína e heroína e se tornou um dos maiores exemplos nacionais da luta contra o vício.

Foto: Divulgação

X / Xvideos mexicano

A festa da Copa começou bem antes para os mexicanos. Os jogadores Guillermo Ochoa, Carlos Salcedo, Heitor Herrera, Jesus Gallardo, Jonathan e Giovani dos Santos, Raúl Jiménez e Marco Fabián da seleção mexicana foram protagonistas, segundo a revista TV Notas, de uma festa regada a drogas, jogos e prostitutas. A balada que durou 24 horas foi feita na capital mexicana depois da vitória por 1 x 0 diante da Escócia em um dos amistosos que antecederam o Mundial. A seleção de Rafa Márquez, que está sendo acusado de envolvimento com o cartel, não passou das oitavas-de-final. Ao menos a festança serviu para dar um gás no primeiro jogo contra a Alemanha.

Y / Yuri feiticeiro do hexa

A gente teve o melhor mascote de Copas do Mundo, mas o troféu de melhor personagem foi para Yuri Torsky, o feiticeiro do hexa. Com uma bandeira do Brasil e uma cara de Vinny do mal, Yuri apareceu nas telas do mundo todo antes da partida do Brasil contra o México e virou um mago com superpoderes a favor da nossa seleção. Pouco tempo depois sua cara já tinha virado tatuagem em uma mulher de Joinville, em Santa Catarina. Seu olhar enigmático, suas olheiras, seu cabelo meio Kurt Cobain criaram uma fábrica instantânea de piadas. Parecia impossível o hexa não vir depois disso. Não veio.

Foto: Bruno Egger / MoWA Press

Z / Zebra quadriculada

A Croácia finalizou sua melhor participação em Copas do Mundo. O vice-campeonato diante da França foi um marco na história do país e de uma seleção que tem jogadores protagonistas em grandes clubes europeus, como Rakitic, do Barcelona, e Luka Modric, camisa 10 da seleção e do Real Madrid, eleito o melhor em campo neste Mundial. Com partidas vencidas na raça, a seleção quadriculada caiu de pé diante do time mais caro do torneio. Com 14 gols, um esquema de jogo sólido e auto-estima lá no alto, os croatas deixam de ser azarões para entrarem de vez no patamar das grandes seleções. O orgulho e o sentimento de vitória estavam estampados na Kolinda Grabar-Kitarović, a presidente conservadora que abraçava os jogadores e comissão técnica tal qual filhos que acabavam de perder o joguinho da escola.

Foto: Reprodução

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