Este artigo foi originalmente publicado na VICE Holanda.
A actriz porno Kim Holland sussurra-me ao ouvido enquanto me massaja os ombros. “Vais viver toda uma experiência”, assegura-me. E acrescenta: “Relaxa-te e desfruta”. É sexta-feira à noite e estou no primeiro cinema do Mundo que projecta filmes porno em 5D e que abriu as portas este mês em Amesterdão. Para além de Kim Holland, acompanham-me cinco colegas suas, todas elas actrizes porno que colaboraram para tornar o projecto realidade.
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O filme está em 3D, por isso tenho que colocar uns óculos especiais. A verdade é que não está nada mal, até porque durante a projecção substâncias são atiradas à cara do público e os óculos evitam que te entrem nos olhos. Os líquidos saem das poltronas especiais em que estamos sentadas, que também lançam odores específicos consoante o que está a acontecer no ecrã, vibram e inclinam-se em sintonia com as cenas.
O local é o antigo cinema erótico Sex Cinema Venus. Fundado na década de 1970 foi, durante décadas, fuma referência do cinema para adultos de qualidade. No entanto, há 10 anos a sala fechou portas como resultado de um dos muitos esforços da cidade de Amesterdão de limpar a imagem do Red Light District. Não é de estranhar, portanto, que alguns políticos não achassem muita graça ao anúncio de Kim Holland de abrir um cinema porno em 5D, quando as autoridades estão a tomar medidas para evitar que o centro da cidade se converta exclusivamente num parque de diversões para turistas. Apesar de tudo, nada conseguiu parar Kim: ao que parece, o conceito de passar filmes de gente a pinar em cinco dimensões entra no plano urbanístico da cidade.
Sento-me numa das 12 poltronas que, a custo, cabem na pequena sala. Holland senta-se atrás de mim e sussurra-me ao ouvido o quão feliz está que eu possa presenciar este momento. O filme arranca com um plano de Holland e das suas amigas a pousar como super-heroínas. A imagem continua com a câmara a levar-nos ao exterior, ao Red Light District, onde vemos um homem a fumar um charro. A partir daí, a história desenrola-se mais ou menos assim: o tipo pina com umas quantas mulheres, roubam-lhe a bicicleta, encontra uma turista, recebe um broche num daqueles barcos que fazem tours pelos canais, entra num menage num jacuzzi, come uma banana da vagina de uma das miúdas do famoso Banana Bar, cozinha e, finalmente, é castigado por uma dominatrix.
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Durante o filme, as poltronas vibram e movem-se consoante as cenas. Quando o nosso herói chega ao jacuzzi, começam a sair bolhas reais e, cada vez que algum dos actores se vem, levamos com um jacto na cara de algo que espero que seja água. No entretanto, os planos mudam a cada três segundos, de forma a que a experiência se converta rapidamente numa montanha russa de sentidos. O filme é uma ode à excitação, com a subtileza das luzes estroboscópicas.
Ao longo do filme, as poltronas não deixam de emitir um zumbido constante mas, passado um bocado, o ruído passa a segundo plano graças, em parte, aos gritos das actrizes atrás de mim. É a terceira vez que vêem o filme mas ainda se surpreendem de cada vez que as poltronas vibram ou que o chicote em 3D aparece no ecrã e se lança em direcção ao público. Também dão palavras de encorajamento umas às outras de cada vez que uma delas aparece em cena.
A experiência termina ao fim de 10 minutos e fico um bocado à conversa com Holland e duas das suas colegas, Nora e Mandy, sobre a loucura que acabo de ver. Estão muito orgulhosas do seu trabalho na primeira incursão do mundo do cinema porno em 5D. “Foi muito divertido gravá-lo”, conta-me Nora. E realça: “Fora haver uma câmara adicional na filmagem, na verdade não foi muito diferente de como trabalhamos normalmente”.
Confesso o alívio que sinto pela sua decisão de nos pouparem ao odor a sémen durante o filme. “Pois, considerámos tê-lo”, admite Holland, “mas os cheiros são tão subjectivos… O que uma pessoa gosta pode ser o que outra pessoa odeia”. Isso não teria encaixado com a experiência agradável que pretendiam criar para toda a gente. Holland pensou que o odor floral das bolhas do jacuzzi era uma melhor forma de introduzir sensações olfactivas na experiência porno.
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É muito provável que haja gente a tentar pinar no cinema, mas não vai ser nada fácil, com tanta actividade das poltronas e líquidos a serem pulverizados directamente nas nossas caras e no ar. “Não é essa a experiência que procuramos”, explica Holland. E salienta: “A ideia é oferecer uma maneira moderna e divertida de desfrutar do erotismo. E, quando sais daqui, tens imensos sítios no bairro onde podes ir fazer sexo ou masturbar-te”.
“Isto é mais como uma atracção”, acrescenta Nora. E justifica: “Quando vens a Amesterdão em turismo, por exemplo, sabes que vens a uma cidade muito desinibida. Os turistas não viram nada parecido com isto no país deles”. Holland apressa-se a acrescentar que o porno 5D não é só para turistas e que é, também, uma atracção para os locais.
Provavelmente, um cinema porno em 5D não é o primeiro sítio a que iria para ficar com vontade de pinar, mas é bom que exista. Não só para que as mulheres que o criaram se sintam orgulhosas do seu trabalho, como também porque – não sei se intencionalmente – esta atracção sexual é uma boa forma de responder às tentativas de eliminar qualquer réstia de sexo ou diversão do Red Light District.
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