Fomos ao Vodafone Mexefest e mexemo-nos imenso

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Música

Fomos ao Vodafone Mexefest e mexemo-nos imenso

Exercitando a mente e o físico.

É um caso curioso, este do

Vodafone Mexefest. O festival lisboeta, cuja sexta edição decorreu nos últimos dois dias e onde os concertos se distribuíram por 11 espaços e dois autocarros, assume-se como o circuito plenamente alternativo da capital. E usamos este cliché imbecil para descrever não só as bandas que lá têm marcado presença — tem até sido habitual para algumas destas regressarem mais tarde nos festivais de Verão para um público ainda mais alargado (um pouco como o jogador da bola que faz boas figuras na Liga dos Campeões e acaba contratado por um qualquer super-clube) — mas também o seu próprio conceito. Afinal, em que outro festival nos é exigido dar tanta corda aos sapatos e percorrer mais quilómetros em algumas horas do que alguns de nós, eternos sedentários da Internet, tencionávamos percorrer numa vida inteira? Enquanto me dirigia para Lisboa, na tarde de sexta-feira, fazia já cálculo mental de horário na mão, já que o evento exigia um planeamento diferente do habitual: aqui não existe o "vou só ali espreitar o palco secundário". A constante sobreposição de horários implica que, para além da mera questão sobre as bandas que queremos ver, se juntem complexos factores, tais como a distância ou a energia de pernas. É necessária uma visão global e um planeamento preciso para maximizar a experiência do Mexefest. Em tudo semelhante a um jogo de Risco, diga-se. Vemos John Grant ou Wavves? Se formos a Peixe:Avião ainda conseguimos espreitar Braids? Consigo fazer o trajecto entre o São Jorge e o Coliseu em dois minutos e meio? Ataco primeiro a Ucrânia ou a Escandinávia? Depois de uma semana a treinar os gémeos para garantir a quilometragem necessária, quis o destino que este que vos escreve sofresse uma valente entorse ao praticar esse desporto perigosíssimo chamado "subir escadas", que colocavam a hipótese de que este se viesse a transformar no Vodafone Coxeiafest. No entanto, a sorte protege os audazes: gelo, repouso absoluto e uns discos do Marco Paulo fizeram maravilhas, e dei por mim na sexta-feira à frente do São Jorge com um ligeiro manquejar apenas: um manquejar cool à Dr. House. DIA 1
Comecei a actividade festivaleira juntando o útil ao agradável: os Juba abriam as hostilidades na sala Montepio do São Jorge numa nota francamente positiva, com um rock exótico que à segunda canção já tinha toda a gente a abanar a anca. A uma moldura humana já simpática tocaram temas do disco de estreia Mynah, contaram piadas, disseram que iam ver Wavves (e foram mesmo) e terminaram o concerto com a última canção do disco, "Mynah/Lull". Como manda a lei. As restrições temporais, presentes durante toda a noite, obrigaram-me a assistir apenas a um punhado de canções da Márcia, também no São Jorge. Entre temas novos e antigos, destaque para um entusiástico quarentão que não se inibiu de dar tudo com a melhor coreografia à Thom Yorke na "Lotus Flower". Clássico. Agindo conforme o mote do festival, saímos de uma voz celestial para ingressar noutra, já que a Sequin começaria o concerto em breves minutos no Delta Q. Um ligeiro período de confusão que nos ensinou que afinal não conhecemos assim tão bem a Avenida da Liberdade levou-nos a chegar atrasados ao local, que já se encontrava praticamente lotado. Nem isso, nem algumas falhas técnicas impediram um belíssimo concerto do projecto da Ana Miró, que teve oportunidade de apresentar "Origami Boy" do disco de estreia — "a sair em 2014", disse-nos —, a já conhecida "Beijing" e a excelente cover de "Let's Get Physical" da Olivia Newton-John que, completamente apropriada ao festival em questão, colocou alguns corpos dançantes a cumprir com a premissa. No primeiro concerto que fugiu ao contingente lusitano do Mexefest, as Savages seguiam-se dentro de momentos no Coliseu. Apenas mais uma banda de gajas? Há quem diga que não. Sustentadas por linhas de baixo bem agressivas nas canções — uma ou outra até fazem lembrar as de Dead Kennedys ou Joy Division, o que torna tudo mais fácil — e pelos stilletos da Jehnny Beth, canções como "Shut Up" mostraram que o pessoal curte mesmo o Silence Yourself deste ano. Um concerto que cumpriu serviços mínimos perante uma audiência já robusta, apesar de a partir de metade já se ir encontrando uma fórmula nas canções e de um bombardeamento de luzes strobe para a córnea que ficaram na nossa visão até às cinco da manhã. Os Wavves, ao lado no Atheneu, arrancaram da melhor maneira possível o concerto com um shout-out ao Rudolfo antes mesmo da primeira canção começar. Este seria presença constante durante aquele que foi o concerto mais rock n' roll desta edição do Mexefest, seja pelas goradas invasões de palco, pelo "olááááá pessoal!" no microfone de Nathan Williams, ou pelo brinde de whisky servido directamente do palco. Num concerto sempre a abrir com um público em entrega total a cantar em uníssono malhas como "Demon to Lean On" ou "King of the Beach", os Wavves consolidaram ainda mais o seu invejável estatuto por estas bandas. Houve crowd-surf, moshes e miúdas a subir ao palco para beijinhos na bochecha num alinhamento que percorreu principalmente Afraid of Heights deste ano e o grandioso King of the Beach. De volta ao Coliseu, assistia-se à maior enchente da noite. Vinha aí o francês Woodkid, com toda a pinta de um qualquer tipo de Brooklyn — cidade sobre a qual prestaria até homenagem numa canção —, que para além disto de fazer música conta também com créditos de realizador de clipes de Lana Del Rey e de Katy Perry. Acompanhado de um trio de sopros, alguns teclados e percussão, protagonizaria em cerca de hora e dez um do grandes concertos da noite e, certamente, do festival. O começo, acompanhado da projecção de uma catedral no fundo do palco e tambores a rufar, deixava antever a aura grandiosa e imponente do concerto onde Woodkid, para além do álbum de estreia, prometia umas canções novas "if you're nice!". Canções como "I Love You" arrancaram coros do público, as percussões vibrantes à Safri Duo de "The Golden Age" fizeram o Coliseu saltar e o tom épico de "Iron" fez-nos sentir como se fôssemos o Mel Gibson a carregar sobre os ingleses. Finalizada de forma apoteótica com "Run Boy Run" e "The Other Side", esta foi a melhor estreia possível em solo nacional e havia quem já pedisse um regresso daqui a não muito tempo. DIA 2
Comecei a noite de Sábado no Hotel Flórida, onde as A.M.O.R faziam uma entrada a pés juntos neste segundo dia de Mexefest. Trajando de branco e preto, entregaram rimas ferozes em cima de beats agressivos: "Tens a certeza que queres falar de rap?" Ousaram aventurar-se com flows em inglês e constituiram um trio momentâneo com a convidada Blink em palco e afirmavam que não papam grupos (saudades JPGang). Nota ainda para a versão ao vivo de "Hustlerz", do novíssimo disco de estreia , que se apresentou sobre a sample da "Started From The Bottom" do Drake com um excelente resultado. Os odiadores só podem servir para alimentar este amor. Naquela que foi a transição de bandas mais radical do Mexefest inteiro, passei das A.M.O.R. para a Igreja de São Luís dos Franceses onde Moonface, projecto esquizofrénico de Spencer Krug, apresentava o novo disco Julia With the Blue Jeans On com um piano de cauda solitário no altar da igreja, para um bonito efeito cénico, distinto e imponente. Num concerto despido de electricidade, o canadiano afastou a imagem de choninhas que o South Park traça sobre os seus conterrâneos e cantou sobre a tragédia, o amor e a solidão, temas que assentavam na perfeição ao cenário que o rodeava. O público ouviu com atenção e não se cansou de aplaudir. Também disto se faz um festival. De Coimbra chegavam-me notícias desportivas animadoras e acabei por encontrar o Erlend Øye — teria estado a ver o jogo? Improvável. A noite corria bem e entrámos no Coliseu para ver Daughter. Da banda britânica, não há muito a dizer: jogou pelo seguro, apresentou um indie rock fofinho, que embalava, apenas ensaiando um par de segmentos mais mexidos por entre a intimidade das canções. Não demorou muito até que me pusesse a caminho do São Jorge, para ver o co-fundador dos Kings of Convenience que encontrara antes. Algures a meio do concerto, Erlend Øye referiu (perante uma lotação esgotada) que ultimamente lhe apontavam que tocava com os seus projectos paralelos música demasiado barulhenta ao vivo, e esperava agora inverter essa tendência. Dito e feito, já que aqui se apresentou apenas na companhia de uma guitarra acústica e ladeado por um guitarrista e um flautista. Sempre bem humorado, explicou porque não gosta dos fotógrafos em concertos, disse que viu Savages e Woodkid no dia anterior, e nem deixou de sorrir quando um microfone insistia em cair. Não tocou Smiths, mas com "La Prima Estate" encerrou um concerto de plena comunhão e intimidade, onde um ponto alto foi a interpretação do guitarrista que o acompanhava de "Tarde de Itapoã", celebrizada por Vinicius de Morais, adaptada à cidade de Lisboa. Bonito e devidamente aplaudido, claro. Entrámos então na fase final da noite e do festival, primeiro em dose dupla de farra nos autocarros do evento -  com a Armada a rockar a "Maria Guilhotina" do novo EP, e depois Los Waves a trazerem um enorme apocalipse psicadélico ao alcatrão da Avenida da Liberdade. Bela ideia, esta dos autocarros. De seguida, fomos até à estação do Rossio, onde foi preciso subir as escadas rolantes até ao fim para constatar que entrar no recinto do concerto dos Oh Land seria algo completamente impossível. Num último fôlego, fomos dizer adeus ao festival no Coliseu, onde a malta da D.I.S.C.O.TEXAS já há muito tinha montado a sua base clubbing e se ouvia a Giorgio by Moroder, de Daft Punk, durante o set de Mirror People. O Paulo Cecílio teria curtido milhões. Contas feitas, óptima edição esta do Mexefest, cheia de bons e insólitos momentos. Que para o ano haja mais, e de preferência com um pé esquerdo em condições. Fotografia por Beatriz Sampedro.

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Savages

A.M.O.R.

A Armada no Bus Vodafone

Daughter

Erlend Oye

Erlend Oye

Erlend Oye

Erlend Oye

Erlend Oye

Erlend Oye

Juba

Juba

Juba

Juba

Márcia

Márcia

Márcia

Márcia

A.M.O.R.

A.M.O.R.

A Armada no Bus Vodafone

A Armada no Bus Vodafone

A Armada no Bus Vodafone

A Armada no Bus Vodafone

A Armada no Bus Vodafone

Savages

Daughter

Savages

Daughter

Savages

Savages

Daughter

Savages

Daughter

Savages

Sequin

Sequin

Sequin

Sequin

Sequin

Wavves

Wavves

Wavves

Wavves

Wavves

Wavves

Wavves

Woodkid

Woodkid

Woodkid

Woodkid

Woodkid