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Comida

Esta “Super Fruta” está a lutar contra a desnutrição em orfanatos Zambianos

Chama-se baobá, é rica em vitamina C, ferro, magnésio, potássio e é colhida na Zâmbia de forma sustentável.
Fotografia através de Flickr/CIFOR

Qualquer pessoa que recentemente deu uma vista de olhos pelo Instagram saberá que 2015 é, provavelmente, o ano clímax dos fanatismos alimentares mais entediantes. Fotografias de mãos a segurar sumos, posts de centrifugadoras, acabadinhas de sair da caixa, pejados de emojis e hashtags, minha nossa… as malditas hashtags. Mas se as selfies ao espelho mais #semgluten #semlactose #emforma #alimentacaosaudavel não te convenceram que a comida saudável é suficientemente valiosa para fazer-nos recusar duvidosamente e com laivos de hipocrisia os deliciosos produtos à base de lácteos e glúten, o baobá provavelmente vai ajudar-te a mudar de ideias.

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Este fruto zambiano está no coração da missão da The African Chef, uma companhia britânica especializada na produção ética de chutneys e conservas, assim como nas perspectivas de aumento da qualidade da saúde pública, e na área de emprego dos zambianos.

Malcom Riley, que fundou a companhia com 680€ apenas, explica que à parte dos incríveis benefícios nutricionais (pensa-se que contêm dez vezes mais antioxidantes, e seis vezes mais vitamina C, que as laranjas), também ajudou a impulsionar a cooperativa de mulheres local.

A Mthanjara Women's Co-operative produz a compota de baobá, que é oferecida a um orfanato de crianças que vivem com o HIV, e distribuída por consumidores ocidentais, ricos e caprichosos. Como tal, The African Chef é administrada desde as bases gémeas situadas na Zâmbia e no condado de Devon.

Compota de baobá picante. Fotografia por The African Chef.

O próprio Riley é zambiano e, para resumir uma longa história, apanhou um susto relacionado com o HIV que o fez saltar para um comboio e afastar-se da família. Com medo de contar-lhes, que também ele podia ter contraído o vírus da SIDA, deixou o país.

"Eu não queria que minha família ficasse a saber, então alberguei-me num pequeno quarto de um amigo", confessa Riley. "E então mudei-me para Londres e fui morar com a minha tia numa habitação social. Acabei por fazer o teste e, quando soube que era negativo, aventurei-me numa viagem de exploração através de todo o movimento em redor dos alimentos orgânicos e saudáveis, e completei o círculo na Mthanjara Women's Co-operative na Zâmbia."

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Ele agora tem a possibilidade de trabalhar bem perto da sua extensa família do continente africano.

Há dez anos, Riley descobriu que essa cooperativa de mulheres, que processava o fruto de baobá, eram como uma espécie de anomalia. "Elas eram as únicas pessoas que processavam o baobá dessa forma," explica Riley ", o que significava o uso de todo potencial do fruto - o cultivo de baobá é o mais abundante na área, por isso tem um enorme impacto sobre o meio ambiente e sobre a economia - finalmente, foi dada às pobres comunidades rurais, a oportunidade de colhê-lo."

A imagem de um fruto de baobá - carnudo e exuberante por fora -, desafia as expectativas quando cortado. Aberta, esta fruta, não revela uma carne laranja e suculenta mas sim fragmentos brancos em pó (imagina-a como uma fruta secada naturalmente). Isto significa que o processo de produção da compota de baobá - que é adocicada tendo em conta o paladar dos africanos - é muito diferente do de uma típica compota de fruta. Apesar disto, consegue ter somente 30 por cento de açúcar, comparativamente a uma compota padrão, que pode conter até 80 por cento.

A cooperativa de mulheres zambianas usava todo o potencial da fruta - o cultivo de baobá é o mais abundante na área, por isso tem um enorme impacto sobre o meio ambiente e sobre a economia - finalmente, foi dada às pobres comunidades rurais, a oportunidade de colhê-lo."

O processo de produção mostra como baobá seco é moído até se parecer a uma farinha. Observar e adaptar este processo a um mercado de maiores dimensões transformou Riley numa espécie de pioneiro do baobá.

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"O que podemos comprar contendo baobá e o número de receitas em que o podemos usar está a crescer gradualmente, então imagina que há 10 anos atrás eu estava, mais ou menos, na linha da frente do desenvolvimento do baobá", Riley conta-nos "Foi a cooperativa de mulheres que me mostrou como faziam a compota. Elas processavam o baobá, e também usavam outras frutas de árvores pequenas que se encontravam nas redondezas."

Então como é que um orfanato dedicado a crianças com HIV se encaixa nesta situação? Riley queria fazer seu próprio produto ético e sustentável, que pudesse ajudar as comunidades rurais em África. Todo o produto que não era vendido era doado ao orfanato.

"Na época, eu não me tinha apercebido completamente," diz ele: "Eu sabia que o baobá era nutricionalmente bom para nós, mas ainda não tinha noção do espectro completo nem de todo o valor nutricional do que é realmente um superalimento."

Os benefícios, Riley afirma, são fenomenais: "Rico em vitamina C, ferro, magnésio, potássio, adequado para veganos e vegetarianos: é um substituto fantástico para suplementos de ferro." Além disso, a pectina, que se desenvolve naturalmente no baobá, elimina a necessidade do uso de gelatina ou de agentes espessantes."

Escusado será dizer que, The African Chef despertou o interesse dos britânicos, famintos por tendências, e desesperados por fazer parte do mais recente movimento de alimentação saudável. Desta vez, porém, existem benefícios reais para os produtores. A compota de baobá produzida na empresa é agora vendida na Selfridges e custa um pouco menos de sete euros por frasco. Riley não será atraído pela natureza caprichosa de alguns dos seus clientes, mas em vez disso diz que a compota "tem sido mencionada basicamente por ter o potencial para ajudar as pessoas da África rural. Tanto nutricionalmente, como pela possibilidade de ser colhida de forma sustentável e oferecer a todo o mundo os seus benefícios mais saudáveis."

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Campanhas de marketing à parte, qual é o efeito nutricional do baobá em crianças gravemente doentes? Riley diz que, em toda a África, as crianças seropositivas de diferentes áreas são reforçadas com produtos localmente disponíveis.

"Eles [os benefícios para a saúde] são instantâneos", afirma Riley. "[As crianças] são capazes, ainda muito jovens, de ter os blocos construtores de proteínas e aminoácidos, que são fundamentais para o seu desenvolvimento."

Karen Percy, nutricionista especializada em HIV do Hospital de Chelsea e Westminster diz que as vitaminas fornecidas pela compota de baobá são fulcrais para o crescimento de uma criança com HIV.

"Infelizmente, a epidemia de HIV em África, ocorre, a maior parte das vezes, onde a desnutrição já é endémica, deixando os jovens mais vulneráveis tanto à infecção pelo HIV como também à sua progressão," explica ela. "As exigências energéticas para adolescentes com HIV podem ser aumentadas entre 10 a 30 por cento, dependendo do estágio em que se encontra o vírus."

O facto de que as crianças na Zâmbia estão a ser alimentadas com algo doce e, ao mesmo tempo, rico em ferro pode fazer toda a diferença. É esta combinação de doçura e praticidade que eleva o empreendimento de Riley por encima dos níveis adoçantes de qualquer outra boa história.

Este artigo foi originalmente publicado em Munchies.