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Não, mas tenho algumas fotos minhas a preto e branco. Prefiro mostrar as obras dos meus colegas. O curioso é que não vi a minha foto em muitas outras casas. Pode ser que seja algo que evite de forma consciente [risos].Como fizeste esta foto?
Foi numa manhã extremamente fria em Nova Iorque. Levantei-me umas horas antes do sol nascer para encontrar o lugar perfeito sobre a Ponte de Brooklyn e ajustar a minha câmara. Tinha os pés gelados, mas tive paciência suficiente para esperar até ao momento final. Uma saída do sol perfeita banhou delicadamente o horizonte de Manhattan. Olhando para trás, teria feito tudo igual, porque só há um momento perfeito na fotografia. Quanto é que o IKEA te pagou pela fotografia?
O IKEA contactou-me através do meu agente e comprou os direitos da foto. Não posso dizer-te a quantidade exacta, mas basta dizer que não foi algo que mudou a minha vida.
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Leo Dolan: Queria mostrar algo tipicamente icónico de Londres. Há dois anos instalei o meu tripé fora de uma das entradas da estação de metro de Piccadilly Circus, fiz várias experiências com a velocidade de obturação e consegui dezenas de fotos de táxis pretos a passar em frente à câmara. Sorte a minha que, no último momento, passou um autocarro de dois pisos e deixou atrás de si um impressionante rasto de luz. Muita gente tem uma cópia desta imagem em sua casa, qual é a sensação de saber isso?
Penso que a arte deveria ser acessível para o maior número de pessoas possível, e também não acredito que por muita gente a ter, a imagem perde o seu valor. A beleza da arte está na sua apreciação e eu sinto-me orgulhoso de que muita gente pareça pensar que a minha fotografia fica bem nas suas casas. Já a vi em séries de televisão, também. Chamem-me tolo, mas fico emocionado ao ver o meu trabalho numa série de televisão. Podemos encontrar esta foto em tua casa?
Claro que sim. Fui o primeiro na fila para a comprar quando ficou à venda no IKEA. Enchi o meu carrinho com tantas cópias quanto pude, caso os meus amigos ou familiares quisessem uma. Sorte que muitos quiseram. Tenho uma pendurada na cozinha e o meu filho pequenino, o Patrick, surpreende-me todos os dias mostrando-me algo novo na imagem. É uma sensação muito boa saber que estás a deixar um legado como este. Quanto é que o IKEA te pagou por ela?
Cobro uma percentagem específica pelos meus direitos de autor, mas não te posso dizer quanto.
Jean-Marc Charles: Esperei durante seis meses até que consegui um dia livre no trabalho para subir à Câmara de Paris. Mas, na hora da verdade, a luz estava muito longe de ser perfeita, por isso fiquei um pouco decepcionado com o resultado. Imagina a minha surpresa quando recebo uma chamada do IKEA a dizer que me queriam comprar a fotografia. Quanto de pagaram?
40.000 euros. Fotos como esta faz-nos parecer fotógrafos de um só êxito, e mesmo que entrar no "Passeio da fama do IKEA" fosse muito gratificante, isso não significa que vou prejudicar o meu trabalho do dia-a-dia. Como te afectou a imensa popularidade que ganhou esta imagem?
O facto do IKEA comprar os direitos da minha fotografia não é algo que me importe demasiado, mas sim, sinto-me orgulhoso por ter tantos seguidores. O meu trabalho vem publicado no The New York Times, Paris-Match e a Figaro Magazine, mas para ser sincero, nós, os fotógrafos, normalmente não nos centramos no destino das nossas imagens. Lembro-me dos meus primeiros passos como fotógrafo, quando estava na Rapho's, a reconhecida agência de fotografia francesa, e conheci um dos seu famosos fotógrafos que me disse: "Meu caro, não importa onde ou quando publiquem as tuas fotos, o importante é que as publiquem. Uma fotografia que ninguém vê não é uma fotografia". Nunca esquecerei as suas palavras. Fazes parte do público do IKEA?
Não, isso seria o cúmulo do narcisismo. Se bem que tenho de admitir que passei por uma loja do IKEA quando a minha foto foi colocada à venda. No princípio custou-me encontrá-la. Esperava vê-la num passe-partout pequeno, quando a minha namorada gritou com demasiado êxtase: "Está mesmo por cima da ti!". Era enorme e passámos ali uma hora admirando-a. Aproveitámos e ficámos ali , dissimuladamente, a escutar o que os compradores diziam sobre ela. Agora está em toda a parte: hotéis, bares de Paris, séries de televisão e nas casas dos meus amigos. Às vezes digo às pessoas, tão modestamente quanto possível, que sou o fotógrafo da imagem, mas há vezes em que manter o elemento mistério também tem a sua graça.