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Música

Fomos acampar ao Warm Up de Paredes

Infelizmente, a tenda cheirava a queijo. Mas foi fixe.

"Pá, é que vai ser mesmo aqui." Na sexta e no sábado houve Warm Up para Paredes de Coura. Também gostaram da ideia de iniciar o roteiro dos festivais de Verão em Abril? O Rui gostou tanto que decidiu acampar no meio da praça D. João I, no Porto. Não lhe deve ter chegado a informação toda: ele pensava que ia ter um bocadinho de relva para rebolar e rio para dar uns mergulhos. Só que o recinto resumia-se a uma tenda (não a que o Rui levou, uma maior). Da tenda do Rui via-se a tenda do Warm Up. O Rui ficou triste por não haver mais campistas. Por outro lado, a vantagem era óbvia: não foi preciso procurar muito para encontrar o melhor lugar para montar a tenda. Ficou ali mesmo, nas escadas da praça, a uma distância suficiente para não termos de suportar o cheiro das casas de banho portáteis e numa boa zona para ver os concertos enrolado no saco cama com a companhia de algum vinho e cerveja. E eu juntei-me a ele (não há assim tanta coisa para fazer na noite de uma sexta-feira de Abril). Não foi assim tão estranho para a maioria das pessoas ver uma tenda montada no meio da cidade. “Olha-me estes, montaram a tenda aqui, que espectáculo!” Pois, alguém disse que era proibido? Ainda que bem localizada e sem grande confusão à volta — muita gente e confusão foi, de facto, o que faltou —, houve quem conseguisse tropeçar no fio da tenda. Até mesmo com luz do dia. Daquelas coisas que só acontecem, achava eu, quando tentas encontrar a tua tenda no meio de 50 quechuas todas iguais. A tenda cheirava a queijo. Não sei o que é que o Rui andou a fazer lá dentro no último Paredes. E o queijo aparentemente atrai baratas, o que não é a melhor combinação de sempre. Sim, não havia aranhas nem melgas, mas passavam umas baratas de vez em quando. Sentimos que alguma coisa tinha de acontecer para sentirmos mais o espírito do festival e, felizmente, o cheiro da ganza dos vizinhos do lado ajudou ao feeling. As pessoas não aderiram muito aos primeiros concertos das duas noites, mas à medida que as horas passavam, o nosso spot começava a ficar mais composto e iam-se juntando nas escadas, ao lado da tenda, novos amigos. Isto tudo fez-me lembrar aqueles momentos, no festival em si, em que já está tudo a precisar de descalçar as sapatilhas e descansar as pernas, enquanto se vê os concertos na parte de cima do recinto. Também pensámos em alugar a tenda à hora, para momentos a dois. Sim, porque isto não foi só o aquecimento para Paredes, mas também para todo um Verão que está aí chegar. O Rui esqueceu-se do aloquete para fechar a tenda, o que era um aborrecimento quando queríamos ir ver os concertos de perto, mas conseguimos sempre que ficasse alguém a guardá-la. Não que tenha acontecido muitas vezes porque estávamos bem confortáveis ali: conseguíamos ouvir e ainda dar uma espreitadela para os concertos. Quando chegou a hora do Omar, não houve ninguém que quisesse ficar ao relento. Não é que lá tivéssemos guardados bens muito valiosos, mas o álcool está caro. Pensámos em escrever num papel “voltamos já!” ou “não incomodar!”, mas confiámos no espírito boa onda de Paredes e, realmente, ninguém nos roubou nada. O Omar, por seu lado, foi o verdadeiro aquecimento. De óculos de sol, túnica preta e keffiyeh, até nos mandava beijinhos de vez em quando. Ao fim dos primeiros cinco minutos, já estávamos todos a escorregar no suor uns dos outros. Ouvi dizer que o Omar também faz casamentos por isso, se algum dia subir ao altar, vou querer contratá-lo. Isto era o Rui a ouvir o Lee Ranaldo. O resto foi convívio. Quando demos por nós, já tinha chegado aquela parte chata: embrulhar a tenda, deixar o espaço limpo, interiorizar que aqueles dias terminaram e que agora só para o ano. Ah, espera: não! Isso é depois, quando for a sério. Altamente. O Rui teve sorte desta vez: como não havia muita gente, a tenda ficou direitinha. Fotografia por Diogo Baptista