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cinema

Filmes maus que eu vi: The Fountain

O Hugh Jackman mascarado de Moby a falar com a Rainha de Espanha, numa bolha flutuante a caminho da tal estrela adorada pelos Maias.

Darren Aronofsky
Warner
1/10 Foi a admiração pelo realizador Darren Aronofsky (O Lutador, Cisne Negro) que me fez adiar, tanto quanto possível, o momento de ver The Fountain (estreado em 2006), porque o trailer bastava para recear que fosse o pior filme de alguém que respeito. Mas o trailer não prepara uma pessoa para o descalabro total que é The Fountain, que, ao título do pior filme de Aronofsky, deve acumular outros tantos prémios do “pior” disto e daquilo. Antes de mais, estranha-se o facto de The Fountain ter conseguido o financiamento dos estúdios da Warner, uma vez que se trata de um objecto demasiado estranho para se alinhar num género ou ser vendido a um público específico. É esse o tipo de ousadia que normalmente nos garante elogios, mas que, neste caso, só traz mais extravagância e parvalheira a um filme que tanto pode ser um drama épico new age como um anti-clássico de aventuras escrito por alguém que snifou carradas de incenso em vez de cocaína. Cuidado, pequenada: eis os feitos secundários da inalação de incenso Darren Aronofsky estava bem cotado em Hollywood, nos anos que antecederam a 2006, e só isso pode explicar a liberdade de que dispôs para levar a cabo este projecto bastante pessoal. Projecto esse que, apesar de toda a megalomania e pretensão, não é muito mais do que a história de um homem disposto a tudo (comer pedaços de árvore, andar à porrada com tribais zangados) para satisfazer a vontade muito romântica de viver a eternidade ao lado da sua amada (uma Rachel Weisz que passa o tempo a tirar tesão). É tudo muito bonito, mas só até ao momento em que o protagonista Hugh Jackman começa a flutuar em posição de lótus e por entre a névoa de uma estrela que os Maias associavam à renovação da vida e não sei quê. O instrumento que mede a piroseira explode exactamente nessa cena. A Escola de ioga do Moby e dos amigos dele Felizmente, podemos sempre contar com o Hugh Jackman para fazer umas quantas expressões faciais estúpidas de quem parece estar mesmo à beira do orgasmo. Este The Fountain masturba-se em delírios cósmicos sem fim e, tal como o rosto do Hugh Jackman, está sempre à beira do orgasmo (visual), sendo que esse clímax é tão desinteressante como os restantes noventa minutos do filme. No fundo, fica clara a tentativa de descrever um arco da vida e sublinhar o seu valor ancestral de uma maneira semelhante à de A Árvore da Vida, mas falha em todo os aspectos em que o filme de Malick foi triunfante cinco anos depois. A única coisa que parece faltar à Árvore da Vida (e ainda bem) é uma cena em que o Hugh Jackman surja mascarado de Moby a falar com a Rainha de Espanha, numa bolha flutuante a caminho da tal estrela adorada pelos Maias. Excelente entretenimento para se tirar macacos do nariz e rir do pior que o cinema tem para nos dar.