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Música

Um Papo Reto com Andy Butler do Hercules & Love Affair

O DJ e produtor norte-americano falou sobre sexo, gênero, house e tudo que você pode esperar da apresentação que o projeto faz nesta sexta (7) no Skol Beats Factory.

A história fofa do herói grego esperando pelo seu amor em uma ilha deserta foi o que fez o DJ e produtor Andy Butler nomear seu projeto como Hercules & Love Affair. Mas passados seis anos do início do projeto que tem três álbuns com colaboradores tão diversos como CocoRosie, Kim Ann Foxman, Nomi Ruiz e Antony Hegarty, as coisas parecem ter tomado um rumo, podemos dizer, mais agressivo e político. Liberdade, gírias nova-iorquinas e corações quebrados dividem a atenção de Andy em sua busca nostálgica pelas raízes do house - ou pelo menos do house old school que ele costumava ouvir durante sua adolescência, quando começou a tocar em bares gays com apenas 15 anos.

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"Eu queria buscar linhas de baixo que incomodassem, produções tempestuosas, ásperas, duras e esfarrapadas que quase soassem como techno. Eu não queria algo educado, queria agressividade" contou o Andy para a NME durante o lançamento de seu último álbum, The Feast of the Broken Heart, que ele traz nessa sexta (7) para o encerramento das atividades do Skol Beats Factory. O álbum foi lançado pelo selo Moshi Moshi, a mesma label que lançou o seu anterior, Blue Songs. Seu primeiro álbum, no entanto, foi lançado pela extinta DFA Records logo após o sucesso explosivo da faixa "Blind", que trouxe o produtor para os holofotes da comunidade gay e eletrônica, e todo o resto no meio disso.

Desde então a banda já teve diversos colaboradores de todos os espectros da cena LGBT, seja em suas músicas ou seus vídeos. Já que ele parecia ser bastante aberto sobre todo e qualquer assunto, batemos um papo rápido por e-mail pra saber mais detalhes do show que rola amanhã, o que o inspirou a mudar o tom no último álbum, e o que ele acha dos g0y.

THUMP: Oi Andy, como você está? Onde você está agora?
Andy Butler: Estou em Bogotá, na Colômbia, em um estúdio. Estou tentando ser produtivo em um dos nossos dias de folga trabalhando em algumas músicas para outros artistas.

Quem vai estar no show com você?
Estou animado por ter a Rouge Mary, de Paris, e o Gustaph, da Antuérpia (Bélgica), nos vocais nesse fim de semana. Eles são alguns dos melhores performers que eu já tive no Hercules. É a primeira vez dos dois aqui no Brasil, então eles estão mega animados. O Mark Pistel estará ao meu lado tomando conta dos eletrônicos.

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E como você encontra novos colaboradores e artistas para o Hercules?
Isso acontece de várias formas – algumas vezes por uma apresentação formal, outras são pura sorte. Nós encontramos esses dois em uns shows do Hercules, enquanto eles cantavam para outras bandas.

Você já esteve no Brasil antes. O que você acha dos homens brasileiros?
Eu já estive aí outras vezes – Rio, São Paulo e Florianópolis. Eu até namorei um brasileiro por um tempo. Ele era lindo e inteligente, um médico. Mas acho que eu era um pouco rock'n'roll demais praquela situação. Os brasileiros em geral? São sexy, e eu lembro muito bem que eles gostam de uma boa festa. Essa cultura criou uma arte incrível, que parece estar enraizada no espírito efervescente e festivo que todos parecem ter.

Ouvindo o seu último álbum, eu tive a impressão de que você estava tentando recriar ou relembrar memórias ou experiências passadas, trazendo tudo de volta até as raízes da house music. Quais foram suas primeiras experiências em clubes gays, ou qualquer clube em geral?
Minhas memórias são cheias de policiais acabando com festas em galpões, milhares de jovens inundando locais ilegais, clubbers fetichistas vestindo vinil e plataformas, DJ sets de cinco horas, muita diversão e eu sempre tentando de tudo um pouco. Bom, o que eu posso dizer? Que eu sobrevivi?

E de que forma essas experiências estão traduzidas no último álbum?
Bem, acho que ainda não mencionei as melhores memórias, que foram as de camaradagem e a família que por vezes eram criadas, nem que durasse apenas uma noite, entre fugas e rejeições – geralmente eram jovens queers que estavam sempre procurando por algo. Eu era um pouco problemático nessa época, mas essas noites e aquela música nos animavam e isso me dava um propósito, o que acabou me levando a um certo caminho musical. Essa sensibilidade inspirou grande parte do álbum.

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Quais outras bandas ou projetos que falam abertamente sobre sexo e gênero você acha que são importantes atualmente?Definitivamente a Against Me! – é preciso muita coragem para operar uma transição aos olhos do público, e fazer uma música agressiva em conjunto com essa experiência é algo incrível, na minha opinião. É por isso que amo a banda de death metal do meu irmão, a Vastum – ele passa por tópicos específicos e difíceis da experiência queer e questões sobre desejo e tabu no contexto de uma música brutal. O Antony sempre enfrentou esses problemas de frente – ele é uma grande inspiração para mim. CocoRosie é outra banda que eu respeito por sempre ter culhões para falar sobre suas crenças sociais, espirituais e políticas.

E o que você acha da música que está sendo feito hoje em dia, coisas como o Disclosure, que muitos consideram os responsáveis por fazer o mainstream americano finalmente gostar de house?
Eu acho que isso já era esperado de alguma maneira – o momento em que o mainstream dos EUA aceitaria o house, mas achei que poderia demorar mais.

Até hoje não consigo descrever a sensação de quando eu ouvi "Blind" pela primeira vez. Eu ouvia aquelas canções tristes do Antony todos os dias, e de repente surge essa mesma força emocional por cima de um house pulsante. Você acha que tristeza é uma emoção pouco explorada na club music? Você trabalharia com ele de novo?
Trabalharia, claro. Tudo foi muito emocional para nós pois nunca esperávamos o sucesso de "Blind" da forma como aconteceu. Mas ele está produzindo um álbum para o ano que vem, então ele vai estar bem ocupado. No entanto, eu tenho mais alguns novos colaboradores com quem eu quero trabalhar no futuro.

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Na descrição do video de "My Offence" lê-se que a sua principal inspiração para o vídeo foi a diferença linguística que você sentiu na volta de Viena para Nova York. A palavra "cunt" (não apenas a palavra, mas a própria ideia de feminilidade que ela traz), parece algo intrinsecamente ligado ao vocabulário de NY. Mas você acha que o termo, e a ideia de empoderamento que ele traz, pode ser traduzido para outras línguas?
A palavra em si talvez não, mas seu conceito sim, com certeza. A ideia de se apropriar de uma palavra que historicamente tem sido usada como uma forma de opressão, inverter seus valores e ser usada pelo próprio grupo oprimido acontece regularmente em diferentes culturas.

E antes do vídeo, você já tinha trabalhado com a Juliana Huxtable? Eu sigo tudo o que ela faz, das fotos às suas mixes, e ela parece ter essa aura confiante e uma presença muito forte.
Não, foi minha primeira vez trabalhando com ela. Eu a conhecia somente através da sua presença na internet e como essa persona da cena noturna. Eu sabia que ela estava servindo triunfo todos os dias, só de olhar seus trabalhos e imagens. A Juliana é uma "criadora do seu próprio eu" de verdade e eu a admiro profundamente.

No que você tem trabalhado ultimamente?
Bem, a maior notícia é que vou relançar o meu selo, Mr. Intl. Tenho uma faixa com esse cantor incrível chamado Richard Kenny, que vai sair sob o meu próprio nome no selo. E uma artista chamada Sisi Ey também lançará um single pelo selo.

E pornô, você baixa ou só faz streaming? Viajando pelo mundo você deve achar uns bem esquisitos…
Só streaming. Parece que eu acabo sempre assistindo as mesmas coisas, então acabo não encontrando muita coisa esquisita.

E qual você acha que é a brisa desses g0ys?
Hmm, você acabou de me apresentar isso. Vou dar uma pensada, mas nas palavras do Eric Cartman, "parece meio gay".

Acompanhe o Andy e o Hercules & Love Affair nas redes:
soundcloud.com/hercules-and-love-affair
facebook.com/herculesandloveaffair
twitter.com/HerculesLA
youtube.com/user/HerculesALA