cavalos e um homem nun

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Fotografia

O homem que corre em liberdade ao lado de cavalos na Islândia

Nick Turner tira auto-retratos em que mostra a sua intimidade com a Natureza.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Creators.

A Islândia é um território místico coberto de neve, onde os ventos frios dançam com as nascentes de água quentes e as Luzes do Norte são tão inspiradoras como imprevisíveis. No entanto, não foram os cenários idílicos do país que, num primeiro momento, atraíram Nick Turner. Em vez de captar as belezas naturais islandesas, os vulcões, géiseres e glaciares, o artista escolheu virar a objectiva para a vida selvagem, documentando o seu fascínio pela população de cavalos da Islândia, numa série de fotografias em que aparece a correr, totalmente nu, entre os animais.

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"Julgo que há uma ideia errada sobre o meu trabalho. Não se trata apenas de mim a correr à maluca, todo nu, com cavalos, ou algo do género. Longe disso, na verdade. Estou a tentar projectar esta ideia de correr com os animais e de estar naquele mundo, porque é o diálogo que estou a ter. Entendo que o homem tem muitos instintos primitivos, parecidos com os dos animais", sublinha.

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Todas as imagens cortesia do artista e Twyla

Quando era criança, Turner sempre se sentiu confortável na Natureza e junto dos animais e preferia até a companhia de cavalos à dos seus colegas de escola. "Algumas dessas inseguranças e medos foram ficando comigo à medida que ia crescendo. Os auto-retratos, na grande maioria tirados no meio da Natureza, ou com cavalos, tornaram-se numa experiência para tentar entender o porquê de, ao crescer, me sentir tão pouco confiante, quase como um estranho", explica.

A necessidade de Turner de auto-análise foi evoluindo para um desejo mais amplo de entender os instintos humanos e os seu trabalho tornou-se, ao mesmo tempo, numa declaração de intenções mais geral sobre a própria sociedade. "Queria fazer parte da tribo, de uma tribo de cavalos e não apenas um homem a posar ao lado deles", realça.

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O artista trabalha com uma variedade de meios, como a pintura e o desenho, e considera que as suas peças podem ser catalogadas no âmbito do Expressionismo figurativo. Quando pinta, em primeiro lugar faz um rascunho a carvão ou lápis e depois utiliza o seu braço por inteiro, para conseguir fazer grandes pinceladas enquanto pinta a óleo ou acrílico. "Tenho um interesse bastante maior na energia do sujeito que estou a pintar - um cavalo, ou a própria Natureza - do que em conseguir uma representação perfeita do mesmo", diz.

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Ao fotografar, por outro lado, Turner aplica muitos dos mesmos princípios que utiliza quando pinta ou desenha. Encontra um local e fotografa o máximo possível, sem perder muito tempo com aspectos técnicos, como a composição ou a iluminação. Isto confere ao seu trabalho uma sensação orgânica, natural, que faz com que quem vê praticamente nãos e aperceba de uma separação entre o artista e os cavalos, por exemplo.

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Na infância, Turner passou muitos anos a viajar pela Europa, tendo feito o Liceu em França. Fortemente influenciado pela arte e culturas clássicas europeias, vê os auto-retratos como uma reinvenção moderna das esculturas gregas de grande escala, ou como versões contemporâneas das pinturas dos velhos mestres.

"A minha intenção, ainda que centrada , no meio-ambiente, tem uma base mais emocional e abstracta. Pinto mais cavalos, ou paisagens de uma forma desconstruída, o que é algo que é menos acerca das imagens em si e mais sobre a intensidade e a sensação que proporcionam os sujeitos".

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Turner começou a visitar a Islândia em 2011 e, desde então, já regressou ao país meia dúzia de vezes. Como 60 por cento dos islandeses acreditam em fadas e outras criaturas sobrenaturais, a abertura dos habitantes para o nunca visto também acabou por atrair Turner. "Quando era criança tinha uma imaginação muito activa e li muitos óptimos livros sobre aventuras e magia, portanto, definitivamente, a Islândia é muito atractiva para mim a esse nível".

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E acrescenta: "Acho que as nuances mais subtis das imagens têm uma maior carga emocional e são mais importantes do que, simplesmente, captar alguma coisa. Quero que quem as veja sinta algo, não quero que seja apenas algo atractivo ou interessante. Quero que percebam a importância da Natureza e todas as suas complexidades e a forma como o Homem interage com ela na sociedade de hoje".

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A filosofia criativa de Turner continua a evoluir à medida que o artista vai aprendendo mais sobre o Mundo que o rodeia e sobre si próprio. É especialmente consciente em não pensar demasiado nas coisas e deixar que a Natureza se mostre por ela própria. "Sentir fascínio sobre algo que é tão maior que tu é uma parte importante do crescimento enquanto ser humano. Dá-te humildade e faz com que mantenhas a perspectiva sobre as coisas. Tento cada vez mais não levar a arte demasiado a sério, tal como a mim próprio. É bom que tiremos algum tempo para, simplesmente, apreciarmos o facto de estarmos vivos", conclui.

Abaixo podes ver mais imagens e aqui um vídeo sobre o projecto de Nick Turner. Para mais informação vai a Edition T(Twyla blog).

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