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Noisey

15 anos após sua morte, Aaliyah continua relevante como sempre

Anos depois do fatídico acidente de avião nas Bahamas que levou a princesa do R&B, sua música ainda bate forte.
Aaliyah, a princesa do R&B. Todas as fotos da Associated Press.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá.

"It's been too long and I'm lost without you, what am I gonna do? / Said I been needin' you, wantin' you", e eu aposto que 98% das pessoas sabem terminar a letra de I Miss You, uma das músicas de R&B mais populares dos anos 90. Essa balada, cortesia do enorme swag de Aaliyah Dana Haughton, mais conhecida pelo seu primeiro nome, é minha música de amor favorita e solidificou minha paixão pela Princesa do R&B. Faz quinze anos que ela morreu num acidente de avião nas Bahamas, mas Aaliyah significa mais para mim hoje do que quando eu era garota.

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Talvez porque aquela menina de oito anos não entendia direito as letras, mas gostava muito da batida que fazia as viagens de carro passarem muito mais rápido. Mas agora que tenho a mesma idade que Aaliyah tinha quando morreu, estou revisitando suas músicas e percebendo que ela foi uma das originais garotas negras descoladas.

Aaliyah tinha um swag sem esforço e uma autoconfiança que você percebe em suas entrevistas e imagens. Ela sempre me pareceu muito segura de si, e para muitas garotas lutando com os anos tumultuosos da adolescência e fazendo a transição para a faixa dos 20 anos, esse era o objetivo. Ela tinha isso. Era essa segurança que cativava o público e o fazia parar e ouvir. A idade era mesmo apenas um número porque aos 15 essa garota já cantava sobre amor, decepção e perda como se tivesse vivido mil anos. Eu sentia a música dela aos 12, aos 16 e ainda sinto aos 22 anos. As músicas de Aaliyah nunca perderam seu poder para mim e julgando pelas postagens nas redes sociais que vi esta semana; a Vibe Magazine declarou 22 de agosto a Semana Aaliyah e há milhares de páginas doTumblr dedicadas à sua música e seu impacto; dificilmente sou a única ainda apaixonada por sua personalidade e mentalidade.

Como uma cantora negra, é muito provável que ela tenha passado por escrutínio e preconceitos que são parte do pacote quando você escolhe uma carreira que não depende apenas do seu talento, mas também do seu visual e sex appeal. Ela não tinha vergonha de cantar sobre sexualidade; fazendo letras sobre relacionamentos, transas casuais e flerte. Ela disse ao mundo que às vezes era boazinha, às vezes era muito malvada, e em tudo isso apenas ELA tinha a palavra final sobre o que seu faria ou não. E sim, sabemos que R. Kelly se tornou parte do burburinho em torno de sua sexualidade na época, mas não estamos interessados em dar a ele mais impacto na vida dela do que ele merece.

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Numa entrevista, perguntaram sobre sua imagem e Aaliyah disse: "Sei que as pessoas me acham sexy e eu pareço ser assim, e tudo bem. É ótimo ter sex appeal. Se você abraça isso, pode ser uma coisa muito linda". Ela abraçou sua sexualidade e tomou o controle da sua imagem que era vendida para a mídia, consentindo com as noções que eram projetadas sobre seu corpo. As pessoas achavam que ela era sexy. Ela concordava. Estamos em 2016, e enquanto os corpos femininos continuam sendo policiados e colocados em cubículos de respeitabilidade criados pelos homens, é muito foda ver Aaliyah ter o controle de sua autonomia. Isso torna o legado dela muito mais forte, com suas ações feministas discretas tendo um significado-chave.

Quando fico emotiva, minha playlist certeira é a santa trindade de Brandy, Monica e Aaliyah. As três são, sem dúvida, a realeza dos anos 90 e todas têm hits que cantamos juntos e looks que copiamos. Todo mundo queria as tranças da Brandy e todo mundo, pelo menos uma vez, invejou o cabelo curto que a Monica usava. Mas nenhum visual é mais emblemático do guia da garota negra que o cabelo de lado da Aaliyah, deixando apenas um olho para ser a janela de sua alma musical. Essas três minas tinham seu som e groove próprios, mas se Brandy e Monica podem ser seguramente categorizadas com divas do R&B, Aaliyah era isso e mais. Ela era um pouco bit pop, um pouco jazz, um pouco soul e um pouco funk. Não dá para defini-la numa coisa só, e esse não é justamente o objetivo de qualquer artista?

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Ser indefinível e capaz de usar muitos tipos de chapéu. Back and Forth, o terceiro single do disco de estreia dela, tinha essa qualidade de festa na casa de alguém, o que torna essa música não só um hino de balada dos anos 90, mas um hit clássico de "É sexta!" Sempre que as músicas dela tocam na balada, todo mundo parece mais legal, porque todo mundo está na vibe de Aaliyah. É tipo um efeito cascata com o qual as pessoas ficam mais foda pela associação até mais distante com Aaliyah como parte de seu fandom.

At Your Best (You are Love), dependendo da sua idade é outro sucesso duradouro. Tem quem prefira a versão do Isley Brothers (e tudo bem) e quem vai dizer que Aaliyh revitalizou a canção, dando a ela o mesmo apelo mainstream que Whitney Houston deu a I Will Always Love You de Dolly Parton. Aaliyah lançou doiscovers muito diferentes dessa música, os dois disparando nas paradas de sucesso e a ajudando a ser notada como uma cantora que podia tocar corações e mentes, além de reciclar canções com uma incrível com batidas de hip-hop. E quem consegue esquecer Rock The Boat? O terceiro single de seu último álbum é sobre tudo menos andar de barco, e deveria ser classificado como uma metáfora genial.

Eu não sabia que essa música era sobre sexo até ter uns 15 anos, aí a letra começou a fazer muito mais sentido. Toda sua discografia é sobre tentar coisas novas e contar histórias com que tanta gente consegue se identificar. Não tinha nada de monodimensional no talento dela.

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Aaliyah está entre os poucos ícones musicais reconhecíveis por apenas alguns itens de vestuário. Michael tinha a luva e o chapéu, Sinatra tinha os ternos engomados, Nina tinha os turbantes, Prince tinha a cor roxa e Aaliyah tinha as calças baggy e os crops. Com apenas essas duas coisas, ela criou um dos visuais fashion mais icônicos de todos os tempos, combinando feminilidade, masculinidade e androgenia em uma tendência que mudou o jogo. Todo ano vejo esse look reciclado, se encaixando em cada semana da moda e completando qualquer guarda-roupa street style legítimo. Ela inspirou casualmente a estética de toda uma geração. Tommy Hilfiger está eternamente em dívida com Aaliyah por transformar sua marca em um nome global que por um tempo eclipsou muitas casas de moda com sua proximidade com o hip-hop e o R&B, dando a ela um fator cool durador. Tudo isso foi possível graças a uma sessão de fotos que eu sempre quis recriar no Halloween mas nunca tive coragem. É tudo simplesmente perfeito demais.

Sinto saudades dela. Não aquele sentimento de "vou tatuar o rosto dela nas costas". Mas saudades de um jeito que me faz pensar como a cena musical seria se ela ainda estivesse presente. O R&B ainda seria tão cru, distraído e sem alma quanto soa hoje? Ou seria o gênero mais legal do bairro porque sua garota favorita ainda estaria trabalhando nele? Nunca saberemos, mas uma coisa é certeza, Aaliyah é uma figura tão importante hoje como quando chegou à cena. "Você é esse alguém?", ela perguntava. Bom, ela definitivamente era esse alguém que redefiniu um gênero e criou seu próprio estilo.

Licença que agora vou colocar o One in a Million no replay pelo resto do dia.

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