O corpo perfeito que você pode comprar está à venda na feira fitness do Arnold Schwarzenegger
​Foto: Fábio Teixeira

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Entretenimento

O corpo perfeito que você pode comprar está à venda na feira fitness do Arnold Schwarzenegger

Wheyzeiros e marombados de todo o mundo se reuniram no Rio Centro no último fim de semana para “o maior festival multiesportivo do mundo”, o Arnold Classic.

Não só de Olímpiadas vive o mercado esportivo carioca em 2016. A cidade maravilhosa sediou no fim de semana passado e pela quarta vez o Arnold Classic, "o maior festival multiesportivo do mundo", segundo o press release. Como o nome já entrega, o festival foi fundado por ninguém menos que Arnold "consultei o google para digitar certo" Schwarzenegger, ator, ex-governador da Califa, ex-Mister Universo e o maior embaixador do bodybuilding na história.

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Foto: Fábio Teixeira

O evento combina feira de negócios, conferência para profissionais da área, exibição e competição de diversas modalidades de esportes como fisiculturismo, strongman, crossfit, pole dance, spinning, várias artes marciais, queda de braço e até xadrez. Um pavilhão do Rio Centro concentra a maioria dos esportes enquanto outro reúne estandes de fabricantes de suplementos alimentares e outros produtos do seguimento fitness. Em cada estande, fotos gigantes de atletas patrocinados pelos expositores, e muitas vezes uma fila enorme de marombeiros aguardando pacientemente para posar para uma selfie ao lado dos próprios.

Foto: Fábio Teixeira

Logo na entrada do primeiro pavilhão, um palco enorme recebe as competições de fisiculturismo, ou bodybuilding, como é conhecido lá fora. Separados em faixas de peso (na categoria bodybuilding e bodybuilding pro) ou altura (no bodybuilding clássico e nas categorias femininas) fileiras de homens e mulheres com o corpo bezuntado e abdômen de inseto se apresentam para os juízes e o público. Como o único peso que eu estou acostumado a levantar é minha mochila de equipamentos fotográficos, abordei alguns sarados e saradas para tentar entender melhor esse esporte que é o fisiculturismo.

Foto: Fábio Teixeira

O simpático Rafael Zamora, quinto lugar na categoria fisiculturismo clássico me explicou que, "a diferença do fisiculturismo normal para o clássico, é o corpo da pessoa. O clássico são os caras ectoformos, mais altos, com os braços e pernas alongadas, eles pedem mais definição muscular e cortes profundos. No fisioculturismo normal eles pedem caras maiores, com muito volume.

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Foto: Fábio Teixeira

Desfilando pela feira com uma fantastia de viking, fazendo juz ao seu apelido no esporte, o paulistano Daniel Gonçalves da categoria bodybuilding até 90kg me esclareceu mais detalhes. "Na minha categoria, a apresentação é feita de sunga, então avalia-se a perna também. Os juízes avaliam a harmonia, então tanto os membros superiores quanto os inferiores tem de estar proporcionais. Tem também a simetria, que é comparar o lado esquerdo pro lado direito do corpo, e avaliam também definição, volume, densidade e o próprio contorno. Você tem que ter um desenho mais ou menos em X para acabar entrando nos top da categoria."

Foto: Fábio Teixeira

Durante a avaliação, os competidores devem exibir diversas poses obrigatórias. Perguntei ao Viking se a atitude do sujeito pode fazer a diferença. "Sim, existem muitos atletas que são grandes, mas não sabem se mostrar, pois você mostra o seu shape justamente nas poses, os árbitros pedem mediante a uma fileira de atletas para que eles façam essas poses e desse jeito eles conseguem fazer uma avaliação de todos esses critérios."

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O colombiano Mauricio Gomez é médico fisioterapeuta e há 12 anos se dedica ao bodybuilding. Ele conquistou o segundo lugar na categoria clássico até 1,75m. "Fiz uma árdua preparação começando em média 12 semanas antes da competição, então estou desde o mês de dezembro passando por várias pré-seleções até chegar aqui. Estou muito contente, muito feliz, por dar-me conta que todo o processo de dieta, alimentação e suplementação colhe seus frutos nesse momento. Eu faço seis refeições diárias com um lapso nunca maior do que 3 ou 4 horas, regime nutritivo muito bem balanceado com a relação de proteína, carboidratos e gordura equilibrados para meu peso e para o objetivo que eu quero."

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Foto: Fábio Teixeira

A Goiana Thaissa, primeiro lugar na categoria Wellness até 1,63cm, me explicou que na sua categoria, "o corpo é proporcional, sendo que o membro inferior pode ser um pouco mais tonificado e o superior mais marcado, mas o que conta mais é a beleza, presença de palco e um shape bem apresentado em relação a dieta e treino. Nossa rotina é bem restrita, tem que ter dietas em dia, treinos, aeróbicos, deixar de ir pra balada pra treinar…" Nessa categoria, as minas tem o corpo menos hiperatrofiado e masculinizado do que no fisioculturismo clássico mais tarde conversando com a fisiculturista colombiana Viviana Gomez, irmã do Mauricio, aprendi que essa categoria, a Wellness, surgiu aqui no Brasil "porque as meninas brasileiras tem pernas muito grandes, e glúteos redondos. Então é uma categoria em que se avalia mais isso, um bumbum mais tonificado, uma cintura pequena, músculos não muito desenvolvidos. É uma busca por essa simetria de corpo. É uma categoria que surgiu aqui no Brasil, mas bem, nós as sulamericanas também temos as pernas grandes."

Foto: Fábio Teixeira

Segundo o site da IFBB-Brasil (International Federation of Bodybuilding) a categoria foi criada em 2005 com, "o objetivo de agregar e levar aos palcos uma boa parcela das mulheres brasileiras frequentadoras das academias e salas de ginástica, que tinham o desejo de competir, porém, não se enquadravam em nenhuma das outras categorias existentes na IFBB, por possuírem uma certa desproporção de volume dos membros inferiores (coxas e glúteos) em relação a membros superiores (tronco e braços), e isso ocorre principalmente devido ao fato de boa parte delas treinarem seguindo o próprio padrão de beleza que é naturalmente encontrado e admirado no Brasil inteiro."

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Foto: Fábio Teixeira

Questionei a Viviana se havia obrigatoriedade do uso de próteses nos seios, uma vez que todas as competidoras pareciam tê-lo, "Acontece que os seios são glândulas e gordura, então quanto menos seu percentual de gordura no corpo, menos aparentes vão ficar seus seios, porque o peitoral das mulheres é diferente do dos homens, ele não se hipertrofia, pois as glândulas estão em cima do peitoral, então para buscar uma simetria muitas competidoras colocam próteses, pois os seios somem. Não é algo obrigatório, mas por conta da intensidade dos treinos, para alcançar a simetria muitas colocam." Embora seja permitido próteses nos seios, elas são vetadas nas panturrilhas, coxas e nádegas, no entanto, fora dos palcos, a realidade é bem diferente. É só olhar ao redor da feira ou dar uma pesquisada no #Fitness para sacar que a "bunda enchida" segundo o jargão do meio, está super em alta, seja através do implante de próteses ou uso de Metacrilato, bioplástica e outras técnicas para alcançar o popozão dos programas de TV dominicais.

Foto: Fábio Teixeira

Ao contrário das competições olímpicas ou pan-americanas, o Arnold Classic (e muitas outras competições abertas) não realiza exame de doping. Quando perguntei sobre hormônios de crescimento para um preparador técnico que orientava seu atleta desde a plateia através de gestos, ele foi enfático: "Hormônios são usados por atletas de todos os esportes, para aumentar seu rendimento, no entanto no nosso esporte o seu uso fica evidente, pois ele é usado para ganhar massa, e como em qualquer outro esporte, de vez em quando pegam alguém no doping pra dar exemplo."

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Nas paredes da sala de imprensa haviam coladas fotos das celebridades que se apresentariam lá nos estandes. Leo Estronda, Gracyanne, Jose Aldo e, pasmem, Marcos Mion, eram os únicos nomes que reconheci. Fora eles, um sem fim de celebridades do mundo das academias que fomentavam filas e filas para selfies. E a tietagem não paravam nos palquinhos dos estandes; atletas de fisioculturismo toda hora eram parados na feira para uma selfie. Testemunhei vários momentos engraçados, em que o sujeito arrancava a bermuda para posar sorridente de sunguinha para a foto. Achei super fofo.

A americana Mary Caryl de 62 anos. Foto: Fábio Teixeira

Além do bodybuilding o primeiro pavilhão abrigava a maioria das outras competições, como as artes marciais, o Crossfit e o Pole Dance, que hoje em dia conquistou as academias aonde é também chamado de Pole Fitness. Resolvi sacar e aprender mais a respeito do pole, uma vez que confesso ter conhecido essa modalidade em ambientes bem diferentes (meia luz, e aquele cheiro de Victoria's Secret no ar, cê tá ligado). Na hora em que eu parei para acompanhar a competição, estava se apresentando, ao som de "California Dreaming", uma gringa de 62 anos. Ela subia e descia do pole numa graciosidade que fazia você se esquecer da quantidade estupida de força nos braços e pernas necessária para dar aqueles rodopios.

Enquanto seu corpo girava minha cabeça começou a formular uma história emocionante sobre o seu inicio de carreira na Chicago da época da proibição, ou talvez num cabaré na França Ocupada, mas aí eu fiz as contas e vi que no máximo ela teria encantado a executivos de gravadora cheio de farinha nos bigodões ali na virada dos anos 70 ou 80.

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No final das contas não era nada disso. A história de Mary Caryl tem bem mais a ver com a onda fitness dos dias de hoje. Depois que seu quarto filho terminou a faculdade, ela resolveu tirar o tempo pra se curtir e começou a praticar o Pole Dance, e isso já fazem cinco anos. "Eu gostava de nadar, mas eu nunca fui uma mina esportista. Então tive de aprender musicalidade, tempo, flexibilidade e força, que foi a parte mais difícil para mim. Fora isso, eu faço também as minhas próprias roupas. Algumas pessoas ainda veem o pole dance como algo sujo, por causa dos strips, mas estamos caminhando para que as pessoas comecem a entender como algo tão atlético quanto belo, assim como outros esportes como a ginástica olímpica e a patinação no gelo."

Perguntei à coroa o que é avaliado no Arnold Classic e ela me disse que os competidores precisam fazer onze movimentos que eles podem combinar dentro de sua própria coreografia. "Eu faço minha própria coreografia e tento criar uma combinação que combine técnica mas com uma dança que prenda as pessoas."

Foto: Fábio Teixeira

Conferi pela primeira vez algumas apresentações do pole dance masculino, na maioria das vezes mais rápido, agressivo e menos gracioso que o feminino. Lembra um pouco uma ginástica olímpica. "Ambos fazem acrobacias, mas os homens fazem mais acrobacias de força e dançam menos, mas os movimentos são os mesmos. Hoje em dia o pole é muito acrobático, tudo é muito forte, isso vem muito da ginástica olímpica, do Mallakhamb e do Mastro Chinês, tudo meio que se conectou num determinado momento e se transformou nesse pole de hoje." explica Vanessa Costa, fundadora da Federação Brasileira de Pole Dance.

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Ao final das baterias de competição do primeiro dia de evento um número coreografado por Vanessa contou a história do Pole Dance, com atletas do Brasil, Colômbia e México. E na exibição haviam referências aos anos da proibição, ao pós guerra e aos anos 1980, então até que eu não tava viajando. "A gente tá vendo aqui um campeonato mundial de pole, e junto com ele eu resolvi fazer um show para abrir o primeiro dia de Arnold, um show que mostra um pouquinho da evolução do Pole na história, um show que traz desde o inicio do Pole, no Mallakhamb, e no Mastro Chinês, quando sim o Pole foi praticado por homens. Nossa origem tem um pouquinho do lado masculino do uso de força e da acrobacia, passando pela época das pin-ups, da depressão americana, as meninas do tour de circo e chegando finalmente nos anos 80 logo depois do estilo sensual quando o pole fica popular na Austrália, nos EUA e no Canadá e toda essa onda de pole acrobático e fitness que é o que a gente pratica hoje. O lance do strip é uma coisa recente e não se limita a isso a história do Pole. Como você pode ver, o Pole tem uma origem muito mais antiga, isso que faz a gente ter tanta habilidade e tantos movimentos como a gente tem hoje."

Foto: Fábio Teixeira

Mas, por incrível que pareça, nem tudo é da hora no Arnold Classic. Logo na entrada do pavilhão da feira, uma cena deprimente: No estande de um dos principais patrocinadores da feira, a fabricante de suplementos Black Skull, pessoas tiravam selfies com o Caveirão, e três militares do Batalhão de Operações Especiais, os assassinos institucionais da BOPE. Um banner explicava que o blindado em exibição foi o primeiro utilizado pelo batalhão, em 2000 e 2001, segundo eles "o primeiro herói do BOPE" e "um patrimônio da sociedade carioca" que a Black Skull teve orgulho em restaurar. Observei que todas as publicidades da marca norte-americana nos catálogos da feira e revistas especializadas que ganhei trazia a logomarca da "faca na caveira", lado a lado de outros parceiros como a Harley Davidson Motors.

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Questionei representantes da marca e os próprios militares a respeito e me informaram que existe um apoio mutuo, em treinos e suplementos, sem grana. Então tá.

No segundo dia de feira chegamos bem cedo, para tentar trombar o homem, o mito, o exterminador do futuro, o Conan, o bárbaro, o governador mais sarado da Califórnia, Arnold Schawznegger em seu tradicional rolé pelos estandes. Antes que ele chegasse, aproveitei o pavilhão vazio para me deixar fotografar em outras opções bem mais divertidas e menos deprimentes do que aquela piada de mau gosto da BOPE. Se liga só nelas:

Selfie com o cinturão do UFC e garota da placa!!! Check! Foto: Fábio Teixeira

Podolatria com praticante de Pole Fitness. Foto: Fábio Teixeira

Teste de força valendo brindes (quase ganhei uma garrafinha!). Foto: Fábio Teixeira

Simplesmente pagando mico! Foto: Fábio Teixeira

Foto: Fábio Teixeira

Quando o Arnold chega, o bagulho fica bem louco. Rodeado de seguranças, ele dá um rolé por algumas das competições e estandes do festival. Sempre parando para fazer uns posts no Snapchat. Foi um momento tão divertido que rende uma matéria a parte.

Foto: Fábio Teixeira

O rolé começou pela competição da categoria "Strongman", em que uns caras realmente monstruosos fazem umas coisas estúpidas como sair correndo com uns pesos de 300kg pra cima. O destaque da categoria no evento foi o Islandes Hafthor Bjornsson, conhecido por dar vida ao personagem Gregor Clegane "The Mountain That Rides" na série Game of Thrones. O encontro foi parar no Snapchat!

Foto: Fábio Teixeira

Em snaps e depoimentos à imprensa, titio Arnold sempre batia nas mesmas teclas: é necessário haver inclusão no esporte e que "fitness" é para todo mundo. O Governator mantem até hoje um físico imponente, mas nota-se um rosto envelhecido e uma pequena carequinha, o que é meio desconcertante pra quem vê o cara literalmente mandando bala e quebrando tudo nas telonas desde sempre. No final do rolé, Arnold colou na competição queda de braço, que era apresentada pelo jornalista Alex Escobar do Globoesporte, que não perdeu tempo e desafiou o Arnie, que literalmente brincou com o braço do apresentador como se ele fosse uma boneca de pano.

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Depois do seu peãozinho, Arnold cai fora e só voltou à noite para entregar os prêmios da categoria Bodybuilder Pro. A feira voltou ao normal e aproveitamos para ver o "Arnold Model Search", uma categoria que mais tem a ver com um concurso de beleza do que o bodybuilding em si. Quinze homens e quinze mulheres pré selecionados em votação na internet se exibiram em três rodadas, moda praia, moda fitness e esporte fino (vestido longo pras minas e visual tipo escritório pros manos).

Foto: Fábio Teixeira

Para as mulheres, observava-se o padrão "gostosa de academia" com bundão, cinturinha, cabelo alisado e peito de silicone.

Foto: Fábio Teixeira

Os homens faziam mais um estilo "garotão de praia", com peitoral definido, tanquinho e "caminho da felicidade", mas bem equilibrados e não muito monstruosos.

Foto: Fábio Teixeira

Enquanto desfilavam, os apresentadores liam uns textos sobre cada participante, bem ao estilo concurso de miss. "Ele é estudante, adora cozinhar e ir a praia", "ela é personal trainer, gosta de malhar e comer salada", cada vez que o apresentador falava "malhar" deixava um cara ao meu lado da mídia especializada bem puto, "é treinar porra!!!" Enquanto pra maioria dos caras a comida favorita era "pizza", a quase totalidade das minas respondeu salada ou sushi, só uma foi sincera e falou "Churrasco", para o delírio da plateia.

Uma observação bem curiosa é que diferente das categorias de fisiculturismo, nesta que é uma categoria estética, não havia competidores negros. Talvez uma das minas fosse, mas era tanto bronzeamento artificial nas outras que ficava difícil dizer.

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